Orlando Marques, presidente da Abap, torna público o desconforto das comissões cobradas por agências às produtorasAs descobertas da Operação Lava Jato, comandada pela Polícia Federal para investigar esquemas de corrupção em órgãos públicos e que recentemente atingiu o mercado publicitário, continuam gerando impactos. Nesta semana, a Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) distribuiu um comunicado às associadas assinado por seu presidente, Orlando Marques, reforçando de maneira clara que a entidade se posiciona contra a prática de agências cobrarem comissões de fornecedores terceirizados, como produtoras de som e imagem. O modelo tem sido chamado por gente do mercado de BV das produtoras.

“A Associação Brasileira de Agências de Publicidade – Abap reafirma às suas associadas que a entidade jamais suportou ou, mesmo, reconheceu qualquer prática de recebimento de bonificações, comissões, BVs ou assemelhados por parte de qualquer tipo de fornecedor especializado ou produtora que trabalhe em projetos encomendados para os anunciantes atendidos”, começa o comunicado. “A devida remuneração pela contratação, acompanhamento e supervisão dos serviços de produção de terceiros prestados aos clientes das agências deve ser cobrada através dos honorários de produção, fixados em 15%, conforme as históricas Normas-Padrão da Abap, incorporadas pelo Cenp desde 1998, a própria legislação aplicável em vigor e os procedimentos éticos de melhor prática”, completa. A iniciativa foi prontamente apoiada pela Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras), que reencaminhou o texto para as produtoras associadas.

A cobrança de comissões por parte de agências de publicidade para fornecedores especializados é uma prática que se tornou comum nos últimos anos, mas ganhou um novo status negativo depois que as investigações da Lava Jato apresentaram provas de que a FCB Brasil pediu que a produtora O2 Filmes, que tem como um dos sócios o diretor de cinema Fernando Meirelles, fizesse o repasse de R$ 311 mil para a conta de uma empresa fantasma do ex-deputado federal André Vargas, envolvido em esquemas de corrupção dentro de órgãos públicos. De acordo com os documentos, o pagamento foi feito em 26 de fevereiro do ano passado, mesmo dia em que a FCB conquistou uma conta de R$ 110 milhões da Petrobras.

Na época, por meio de comunicados, a FCB confirmou que fez a solicitação à O2 por sugestão de Ricardo Hoffman, ex-diretor do escritório de Brasília da ex-Borgi/Lowe, hoje Mullen Lowe Brasil. A agência chegou a insinuar um pedido de desculpas à produtora no texto. Já a O2 disse que não tinha conhecimento de quem era o dono da conta e que o depósito visou unicamente quitar o crédito que a FCB detinha contra a produtora pela comissão cobrada.