Não sei você, mas, de vez em quando, me bate uma perplexidade enorme ao ver tanta barbaridade no campo das manifestações e comportamento de empresas, pessoas e instituições.

Num mundo cada vez mais sequioso pela transparência e retidão de princípios, tem muita gente, seja pessoa física ou jurídica, que insiste em tentar driblar a verdade, vendendo uma imagem, da porta pra fora, incompatível com aquela autêntica, praticada da porta pra dentro.

Esquecem-se esses manipuladores que a verdade aparece, mesmo que demore. Esquecem que o público interno – seus colaboradores – também forma a opinião da empresa ou da instituição.

Aliás, talvez sejam esses os mais ferrenhos críticos da incongruência do discurso, quando diferente da prática. Esquecem que, quando flagrada, a empresa ou instituição é execrada, jogada aos leões da opinião pública, que não hesitam em espalhar sua ira pelas redes sociais.

O que me motiva a abordar esse tema são alguns fatos e fenômenos desses tempos. O primeiro deles é o estágio de descrédito e de repulsa que os líderes políticos brasileiros, de uma maneira geral, sem distinção de partido ou facção, amealharam perante a opinião pública, pelo menos daqueles mais esclarecidos.

Tentativas ridículas de tapar o sol com a peneira, de driblar a lei, expõem as vísceras de um sistema roto, corroído, viciado, que nos causa asco.

E o problema que somos obrigados a conviver com essa situação, potencializando nossa aversão a essa classe.

Basta ver resultados de pesquisas. Vi uma recente, do Instituto Locomotiva, mostrando que menos de 8% da população confiam nos políticos.

Dentre esses 8% que confiam, certamente estão aqueles sem capacidade de avaliar com mais profundidade o comportamento execrável dessa classe, que deveria dar o exemplo.
Alguns dirão: “Isso é Brasil! Lá fora não acontece!”. Não é necessariamente verdade. Fico imaginando como os nossos coirmãos da América do Norte devem se sentir liderados por um bufão, que também falseia a verdade e não hesita em despejar impropérios por meio de notas desconexas via redes sociais.

E o que mais surpreende é que esses fatos ocorrem num momento em que a sociedade tem mais condições de acessar a verdade. Essa convivência condescendente com a mentira, com a enganação, é que causa essa imensa perplexidade.

O outro fato motivador deste artigo é a atitude de um dos empresários de maior visibilidade no mundo: Mark Zuckerberg.

Ele foi ao Congresso americano e não usou meias-palavras para assumir o erro do seu Facebook, em não controlar o uso inadequado de dados dos seus usuários.

Não vou entrar no mérito da questão. O que me interessa é destacar a atitude de se expor, de peito aberto e assumir a falha. No dia seguinte, as ações do Facebook subiram quase 5%. É essa atitude que deve ser analisada e servir de benchmark.

Não que os problemas do Face tenham terminado, mas a postura de seu líder no mínimo estancou a queda vertiginosa que sua empresa estava sofrendo na Bolsa americana.

Nesses tempos de descrédito com as instituições, a população mais esclarecida valorizará empresas e marcas autênticas e verdadeiras, que praticarão a transparência e a coerência nas suas atitudes, sejam aquelas decorrentes de campanhas publicitária formais, sejam as praticadas na sua administração, junto aos seus colaboradores e demais stakeholders.

Estamos – assim espero – entrando numa era de valorização de atitudes que possam melhorar a sociedade como um todo, e não somente o balanço da empresa.

A reputação de marcas e empresas será um peso cada vez mais importante na balança da decisão de compra de consumidores conscientes. Pense nisso quando colocar em prática seus planos e ações.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)

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