As flechadas de Janot, quem diria, voltaram-se contra o próprio, em um fenomenal e surpreendente efeito bumerangue.
 
No seu ímpeto de ser o vingador do impeachment que depôs Dilma Rousseff, imaginando muito provavelmente ser Michel Temer um dos orquestradores da derrubada da ex-presidente da República, Janot colocou o atual ocupante da principal cadeira do Planalto no alvo das suas flechas.
 
A divulgação do vídeo e da gravação da conversa de Joesley Batista com Temer, no subsolo do Jaburu, noite avançada, colocou o país de pernas para o ar.
 
Isso se deu no exato momento em que a economia emitia os primeiros sinais de recuperação, embora ainda tênues. O Jornal Nacional (TV Globo) deixou o país perplexo diante do que se viu e ouviu. E não era para menos, em se tratando do presidente da República.
 
A partir desse fato, não só a economia deu cambalhotas para trás, o que poucos trapezistas conseguem, como ainda acirrou o “nós contra eles”, aumentando o clima de desassossego geral no país.
 
Episódios reprováveis se sucederam e o ex-presidente Lula da Silva, aparentemente em desvantagem para o pleito de 2018, considerando-se a condenação por Moro ainda em fase recursal, imbuiu-se da ideia de que havia chegado a revanche para o seu partido político.
 
Isso durou até a negativa da Câmara Federal em autorizar que Temer fosse processado pelo STF. Embora com acusações de compra de votos parlamentares, Temer safou-se do pior, prosseguiu presidente e usou e abusou da sua longa experiência na política brasileira, adicionada ao seu inegável cabedal jurídico, que o fez enxergar mais longe do que os seus detratores.
 
Não se pode dizer que tenha dado a volta por cima, porque essa novela está longe de terminar. Há muitos outros capítulos aguardando a hora da sua apresentação ao público. Sem falar nos posteriores, ainda a serem pensados pelos estrategistas dos vários gomos da roleta Brasil.
 
Se há algo que Temer não demonstra, ao contrário dos seus principais algozes, é açodamento. A diferença nesse quesito entre o presidente da República e o titular (até o dia 17) da PGR é abissal.
 
Nestes últimos dias, pudemos confirmar, de forma indiscutível, o quanto o doutor Janot demonstra dificuldades em se sair bem no alto cargo republicano que ocupa. Falta-lhe jogo de cintura e sobra-lhe pressa seletiva.
 
Após todo o embaço recente criado pelo depoimento de Palocci ao juiz Sergio Moro, mais uma intervenção nacional dessa estranha figura de Joesley Batista, em dois momentos distintos: a “nova” gravação, com sua metralhadora giratória e inconsequente, atingindo vários personagens da República. E a intimação para depor na PGR, em dia de feriado nacional.
 
Quando o país inteiro aguardava que o depoente saísse da PGR direto para o camburão, mais uma vez, leve, livre e solto, retorna às suas origens, provavelmente arquitetando a próxima travessura.
 
Voltando a Palocci, seu depoimento a Moro atingiu o coração do petismo. Não vê quem não quer. E a esse fato se junta a denúncia de Janot contra Lula e Dilma, com muitos brasileiros estranhando não só a demora nessa providência por parte da PGR, como interpretando no fato uma espécie de purgação de Janot, tentando recuperar seu senso de equilíbrio na missão de zelar pela ordem legal do país, como importante agente da sociedade brasileira.
 
Aguardemos os próximos capítulos, agora mais acelerados que nunca.
 
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Enquanto isso, no mercado da comunicação do marketing, que o PROP-
MARK cobre há 52 anos, temos a comemorar a nova vitória dessa elogiável agência que é a AlmapBBDO, eleita Agência do Ano no Fiap 2017. Ela sempre conquistou grandes prêmios nacionais e internacionais, enaltecendo com estes últimos a qualidade indiscutível da propaganda brasileira.
 
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De repente, com a denúncia pela imprensa, autoridades do governo paulista e a própria USP, encarregadas de zelar pelo Museu de São Paulo (antigo Museu do Ipiranga), descobriram que há cinco anos essa valiosa unidade da história da pátria encontra-se fechada para merecida reforma geral. Só que, transcorridos esses 60 meses, nada se fez a propósito da prometida obra.
 
Uma vez mais, balançando a roseira dos acomodados, a imprensa lembra o abandono de um patrimônio nacional. O bastante, quem sabe, para uma tomada de atitude por quem de direito, satisfazendo o espírito de Pedro I, que, bem perto do local onde depois foi construído o tradicional museu, proclamou a Independência do Brasil (“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/De um povo heroico o brado retumbante”).
 
O riacho foi canalizado na gestão da então prefeita Marta Suplicy e suas águas nem de longe lembram as mesmas águas que saciavam a sede de cavalos e cavaleiros “retratados” por Pedro Américo no famoso quadro da Independência.
 
De qualquer forma, prosseguem correndo por lá, agora na expectativa da nova sede do Museu de São Paulo, que preferimos chamar de Museu do Ipiranga.
 
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A matéria de capa desta edição é conclusiva: a publicidade prossegue sendo um bom negócio para todos os antigos e novos players do mercado. Principalmente para os anunciantes, lembrando o irretocável slogan de uma agência de propaganda de São Paulo: “Quem não anuncia se esconde”.
 
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Este Editorial é uma homenagem a José Luiz Datena (Brasil Urgente, Band) pela longa e incansável luta contra crimes e criminosos.
 
Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que edita o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).