Sempre tive um pé atrás com grifes. É preciso estudá-las com cuidado, acompanhar suas histórias, compreender suas motivações, antes de consumi-las.

A construção de uma grife é resultado de virtudes pessoais de fundadores de negócios. Gente apaixonada pelo que faz, idealista, motivada pela busca da excelência e da melhor experiência dos clientes. Só que essas pessoas ficam velhas ou muito ricas e um dia passam seus negócios adiante.

Grifes em vias de desvincularem-se de seu passado são objeto do desejo de dez em cada dez fundos de investimentos especulativos. Compram o direito de lucrar o quanto tempo possível com a reputação alcançada pela marca, ao mesmo tempo em que equacionam formas de reduzir custos e aumentar a distribuição de lucros.

Grifes que deixam seus berços passam a flertar com riscos éticos sem maiores pruridos. Seus novos donos sabem que aquilo tem hora para acabar e, se possível, vão passar a carcaça adiante para algum outro fundo disposto a pagar alguma coisa para chupar os ossos.

Não por acaso grifes estão envolvidas em casos de assédio moral, exploração de trabalho similar à escravidão e sonegação de impostos. Para nós, escândalos; para eles, tudo calculado, inclusive a negociação e o pagamento das multas.

Na área de serviços, não é muito diferente. Boas empresas crescem graças à qualidade das suas entregas. Começam, então, a ser procuradas por mais e mais clientes interessados em contar com elas para suas demandas.
É quando ocorre algo similar ao que se passa na indústria, em que, por uma questão de economia de escala, o artesanato perde cada vez mais espaço para a automação, até tudo virar padrão.

Ao perceber que não conseguirão dar conta de tantos pedidos novos, prestadores de serviços são obrigados a ampliar seus quadros. E se confrontam com novos problemas: os custos da mão de obra qualificada disponível e a potencial instabilidade desses clientes recentes. A solução tem sido formar times medianos, treinados para soluções padrão. Como são grifes, conseguem suportar essa vulnerabilidade.

Afinal, clientes eventuais que buscam grifes podem, em tese, ter altas expectativas, mas, em geral, têm pouca capacidade para uma avaliação precisa e rigorosa sobre o que recebem. E quando têm, no máximo, se decepcionam, sem poder para um enfrentamento de igual para igual com seu fornecedor-grife.

Até o dia em que a grife se depara com alguém preparado intelectual e juridicamente para um embate. Aí, é um desgaste tremendo. Porque se de um lado está a grife pessoa jurídica, de outro está a reputação reconhecida de uma pessoa física, ainda que a serviço de uma pessoa jurídica pequena. A qualidade do prestador de serviço estará, então, em questão.

Para evitar esse tipo de desastre é preciso que os prestadores de serviço não cometam essa inversão falsamente esperta de valores, acreditando que o mérito do trabalho está exclusivamente na assinatura da grife. É preciso rigor interno, acima de tudo, para dizer sem receio se o trabalho realizado é digno da assinatura da grife ou não.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)