Alê Oliveira

Em comemoração aos seus 98 anos, o jornal Folha de S. Paulo proveu uma série de palestras com alguns de seus principais colunistas ao longo desta semana. Nesta sexta-feira (22), o publicitário Nizan Guanaes e psicanalista Contardo Calligaris conversaram com o público na mesa intitulada “Dá para ter orgulho de ser brasileiro?”, a mediação foi da jornalista Patrícia Campos Mello.

Alê Oliveira

O publicitário chamou a atenção para os movimentos econômicos do país independentemente do sentimento de orgulho. “O empreendedor precisa sobreviver a despeito do vento contra. A minha tarefa é criar coisas propícias em lugares que não são propícios. Eu tenho de maneira teimosa empreendido no Brasil. Quando eu comecei minha empresa, a inflação era de 70% ao mês, o país não tinha máquina de refrigerantes porque não tínhamos moeda. Então todo dia de manhã, a despeito de não me orgulhar, eu tenho que acordar”, aponta.

O empresário também falou sobre a promessa de o Brasil ser sempre o país do futuro. “Eu tenho uma vigilância em relação a isso, porque não está exatamente nas nossas mãos já que dependemos de uma série de fatores e precisamos lutar e criar condições de maior igualdade em competição global, que hoje é completamente injusto no Brasil. Seja do ponto de vista tributário ou de uma educação ultrapassada. O problema é que a gente compara e diz que o Brasil está melhor que o Brasil, mas temos que comparar com outros países, nesse sentido é um pouco desmotivador, mas não se desmotivem porque não vai adiantar nada”, defende.

Guanaes ainda incentivou a plateia a lutar por um país melhor. “Vamos embora, não porque somos Pollyanna, mas porque que outro jeito a gente tem?”, questiona. O empresário também atentou para as políticas que são feitas “olhando para o futuro com olhos do passado”. “Eu acho que o maior partido do mundo hoje é o do coração partido, a política perdeu completamente repertório. Estamos discutindo previdência e ao mesmo tempo uma universidade da Califórnia diz que nós vamos viver 150 anos. Então sobre que premissa estamos discutindo?”, indagou.

Uma das questões levantadas pela plateia foi relacionada ao icônico comercial “Hitler”, criado para a Folha em comparação com o momento atual das fake news. “Aquilo era a manipulação da verdade e hoje é a manipulação e fabricação da mentira e a reprodução delas de maneira rápida. Nós vamos construindo informação no uso abundante da desinformação. Se ditam ambientes inteiros de notícias de acordo com seu descaminho, você é desinformado e vou continuar lhe provendo de desinformação para você ter bastante elementos para pensar errado. E é isso que o algoritmo está fazendo, e ele é Deus e o Demônio, inclusive este é mais criativo que Deus. O Demônio é um craque de marketing”, brincou.