Num mundo de cotas esqueceram-se dos cabelos brancos. Ainda bem. Não precisa. Desconfie de uma empresa que não tem dois ou três colaboradores no comando e com os cabelos brancos. Risco superior a 80%. São empresas com apenas parte do cérebro. Empresas incapazes de realizar a contextualização. Empresas mais que qualificadas para praticarem os velhos, mesmos e recorrentes erros. É assim. Hoje no Brasil fala-se e tem-se cotas de todos os tipos e espécies. Menos para os cabelos brancos. Repito, ainda bem.

Cotas raciais, cotas de gênero, cotas socioeconômicas. Segundo a Wikipédia, tudo começou no emblemático ano de 1968, com a tal da Lei do Boi, que garantia o acesso de filhos de fazendeiros às universidades.

Nos governos FHC e Lula, a política de cotas foi se adensando. Segundo seus defensores, a adoção dessa política de cotas tem por objetivo reparar erros históricos e corrigir ou atenuar injustiças sociais. Que assim seja. Os cabelos brancos não precisam de cotas. Dependem apenas da consciência dos cabelos pretos em seus diferentes matizes e intensidade, que sem a sabedoria dos tais “velhos”, decorrente da experiência acumulada no correr de décadas, pouco provavelmente chegarão lá.

E aí vem à tona a razão do número absurdo de insucessos ou fracassos patéticos das chamadas startups. Levantado e revelado pela pesquisa da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, e comentado pela revista Exame.

A FGV foi perguntar aos investidores em operação no mercado brasileiro o que os faz recusarem-se a investir numa determinada startup? Quais as principais razões e motivos que inviabilizam considerarem os próprios investimentos ou os investimentos que administram de terceiros, quando tomam suas decisões?

Na última colocação, uma série de razões e detalhes com 12% das manifestações (sempre respostas múltiplas). Junto com dúvidas sobre o modelo de negócio escolhido. Na penúltima, com 35% de manifestações, a inexistência ou insuficiência de inovação nos negócios. A antepenúltima colocação, com 51% das manifestações, a consciência de produtos com pequena ou baixa demanda, e impossibilidade quase que definitiva de escalabilidade. Preparado? Primeiro lugar disparado com 93% das manifestações. Isso mesmo. Adivinhou. A falta do tal dos cabelos brancos: “Equipe Inexperiente”.

Hello! Como dizia uma socialite hoje enrascada na Lava Jato. Tudo o que os seus projetos, empresas e negócios precisam é de alguns cabelos brancos. Alguém com o corpo coberto de cicatrizes, mãos calejadas e a cabeça carregada de sabedoria para lhe dizer, entre outras coisas, “não é por ali, é por aqui”. E repetir Gertrude Stein, arrematando, “não existe lá mais ali”. Sinto muito, brilhante, talentoso e promissor jovem. Sabedoria não é tomate, nem feijão, nem gado de corte. Com todo o respeito por esses alimentos essenciais às nossas vidas. É como plantar tâmaras. Mesmo com todo o avanço e técnicas de produção moderna, o ditado árabe continua prevalecendo: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”.

Lembra aquela frase que você já ouviu algumas vezes e em diferentes momentos e situações? “Senhor, dai-me coragem para mudar o que posso mudar, serenidade para aceitar o que não posso mudar e sabedoria para perceber a diferença”. Na frase, a tal da “sabedoria” é o “velho”.

Isso mesmo, o fator cabelos brancos. Mas, se você preferir, daqui para frente, “a tâmara” do provérbio árabe.