A Taboola faz recomendações a um bilhão de pessoas todos os meses, permitindo que elas descubram novos conteúdos, ideias, produtos e, como parte disso, precisamos ter cuidado com as “notícias falsas”, mas não ter medo delas.

Posso ser contraditório aqui, mas fiquei igualmente preocupado que as “notícias falsas” estão sendo usadas reflexivamente e sem suficiente consideração. Isso não é para negar a péssima realidade das “notícias falsas”. Fui claro sobre a linha que separa o que será rejeitado ou aceito pela Taboola.

“Usar ‘notícias falsas’ como uma arma para automaticamente deslegitimar informação sem pensar criticamente sobre esta, interrompe as discussões em vez de inspirá-las.” – Adam Singolda

O desafio, no entanto, não é necessariamente o pior infrator. Isso é “fácil”. O desafio está no cinza, e é aí que fica complicado. Há uma linha tênue entre usar o termo “notícia falsa” como uma acusação abrangente para descontar o conteúdo legítimo ou mesmo satírico, e usá-lo para rejeitar corretamente a desinformação que pretende enganar ou conduzir certas medidas – políticas ou até piores – médicas.

Confira abaixo o agora famoso tweet pós-eleitoral que acelerou o debate de “notícias falsas”. Isso foi seis dias após o presidente eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, usar o termo em um tweet:

Este tweet é bem conhecido, e representa a ascensão do fenômeno da “notícias falsas”. Precisamos ser igualmente cuidadosos em criar um mundo onde a sátira e a opinião sejam desconsideradas, especialmente se elas não condizem com a opinião de alguém ou provêm de uma fonte desconhecida. Francamente, não tenho certeza do que é mais perigoso: a pessoa que escreve um artigo declarado como sátira – ou a pessoa que (facilmente) rotula o trabalho do autor como “notícia falsa”.

Usar o termo “notícias falsas” como uma arma para deslegitimar automaticamente a informação sem pensar criticamente sobre ela, interrompe as discussões em vez de inspirá-las. Ela permite teorias de conspiração e um viés de confirmação e não nos encoraja a realmente entender e apreciar o que é apresentado por blogueiros, escritores amadores ou organizações jornalísticas profissionais.

Imagine viver em um mundo onde se você não é conhecido, você não existe, é falso. A menos que se vista de acordo com os padrões, você não pode fazer parte dele. A menos que seu idioma seja perfeito, você não é bem-vindo. Como estrangeiro e fundador da Taboola, empresa que representa mais de 15 idiomas e diferentes culturas (que eu acho incrível), esse mundo onde apenas o conhecido é legítimo, sinceramente, me parece uma droga.

Duas maneiras de lidar com Notícias Falsas

Já que as “notícias falsas” nunca desaparecerão completamente, estou otimista sobre o futuro do jornalismo e da internet aberta. Eis o que pode ser feito.

Top down. Podemos trabalhar para reduzir a proliferação das “notícias falsas” e devemos traçar nossos limites como organizações sobre o que é tolerado e o que não é, participar de discussões (não apontar dedos), fazer perguntas difíceis e adicionar um elemento humano ao lado da tecnologia. Com o tempo vamos melhorar, mas continuará imperfeito e confuso, como sempre é na democracia. O Facebook já anunciou uma decisão muito importante, “uma linha”, eles decidiram desenhar. Sua linha vai rebaixar sites que trazem publicidade de baixa qualidade. Anunciamos uma política semelhante na Taboola há um ano, e incentivo você a ler nossas diretrizes de publicidade. Este não foi um processo fácil porque significou que muitos anunciantes potenciais foram rejeitados de serem recomendados pela Taboola, mas também estou muito orgulhoso disso. O Facebook aderindo um caminho semelhante é uma coisa boa para a nossa indústria dada a sua dimensão, e o que poderia significar para a maneira certa de contar histórias.

Empoderando os leitores com conhecimento

Desta forma, eles conseguem identificar notícias falsas quando as veem. Por exemplo, você pediria um sashimi em um voo longo? Você provavelmente pensaria duas vezes antes de fazê-lo, sabendo que peixe é melhor consumido fresco. Vamos equipar as pessoas em todo o mundo com as habilidades para identificar a grande maioria dos sites falsos, observando seu modelo, a formatação do URL, o uso de logotipos e muito mais – da mesma forma que sabem quando e onde pedir um sushi. Podemos fazer com que identificar as “notícias falsas” faça parte da memória discursiva.

Construir relacionamentos é a resposta

Tudo parece a mesma coisa em um feed de notícias – e isso torna mais difícil para os consumidores agirem sobre o empoderamento que descrevo. Os jovens, principalmente, precisam ser ensinados a “consciência crítica das fontes”. O estudo de Stanford, que mostra que os adolescentes aceitam a mídia social sem considerar suas origens, é uma poderosa lembrança dessa necessidade.

Vamos celebrar o conteúdo imaginativo, criativo e até provocativo. Não permitamos que seus autores sejam pegos na armadilha das “notícias falsas”.
Envolva as “notícias falsas” com tanta coisa boa e leve, que não importe mais. Há um monte de coisas boas lá fora, e nem tudo é terrível, ou falso. Precisamos capacitar as organizações com ferramentas e capacitar os usuários com conhecimento.

Adam Singolda é o fundador e CEO da Taboola