Fomo: o medo de ficar por fora. Definitivamente, esta síndrome (ou paranoia) chegou aos frequentadores do Cannes Lions, um festival que cresceu tanto que se tem a sensação de aproveitar bem menos do que se gostaria da intensíssima programação de palestras e workshops oferecidos ao longo de oito dias. Resumir o evento é, portanto, tarefa hercúlea – talvez impossível ou um baita chute. Este ano me pareceu particularmente frustrante: mal saía de uma palestra, alguém já me perguntava se eu tinha visto outra, no auditório ao lado. Se eu me dirigia a uma sala, havia sempre alguém que parecia estar se dirigindo para alguma outra com um ar mais confiante.

Portanto, não há “resumo”, mas uma colcha de retalhos e impressões, tecida no meu caderninho entre uma coletiva e outra. Nada de grandes certezas ou dogmas. Ninguém mais arrisca ser dono da verdade. Assusta, mas é bom. Estamos todos um pouco mais humildes. Seguimos em busca de reconhecimento, confiantes, porém frágeis como castelos de areia.

Por exemplo: para mim, caiu definitivamente o mito da “mulher polvo”. Que me perdoem as feministas, mas acredito que essa lenda foi criada para liberar homens de um monte de tarefas com a desculpa de que as mulheres dão conta. No seminário em que mulheres de sucesso subiram ao palco com suas filhas para serem entrevistadas pela documentarista Lauren Greenfield (diretora da campanha Like a Girl), ficou claro que não importa o gênero: a escolha por uma carreira de sucesso sacrifica muitos e muitos momentos importantes da vida pessoal – no caso, dos filhos. Vale para homens e mulheres. Foi revelador ver mães, um pouco constrangidas, ouvindo frases tipicamente atribuídas a homens ausentes, como “ela não foi a nenhuma das minhas formaturas, mas não tem problema, meu pai foi”. E também foi bacana ver que essas mulheres de sucesso contaram com o apoio de seus parceiros para seguir seus objetivos. Ou seja: não existe milagre. Não existe supermulher. Existe gente, tentando acertar na vida. E existem escolhas.

Outro mito que caiu: o de que seremos, sempre, superiores às máquinas que criamos. Seremos? Ok, empatia e imaginação ainda são privilégios humanos. Bem como os erros. Errar, afinal de contas, é humano. Máquinas, ao contrário de nós, aprendem e não repetem os mesmos erros ao longo da vida. São craques em identificar padrões. A inteligência artificial e o chamado “machine learning” já nos superam em muitas coisas e, juntos, somos insuperáveis. Minha aposta é a parceria criativa entre homens e máquinas – e a de Alex Jenkins, da Contagious, também.

Um conselho que ouvi de Nick Law, da RGA, sobre a hora certa de promover mudanças de estrutura e de processos numa agência: “Mude enquanto estiver por cima, por um motivo muito simples: você ainda terá dinheiro para investir na mudança”. Pura verdade e difícil de implementar. Porque, enquanto está tudo bem, a luzinha vermelha não acende. Quantos casos você conhece de empresas que foram tocando o barco, adiando mudanças e perderam o fôlego aos poucos, até finalmente morrer?

Tendência que tomei nota: celebridades estão correndo para o YouTube em busca do tempo perdido. E John Hegarty também correu atrás: virou chairman da Whalar, empresa de “influencer marketing”. No papo que levou com seu novo sócio, Neil Waller, no palco do Innovation Lions, enquanto o obrigava a substituir a palavra “consumidor” por “audiência”, escorregou: “é uma bobagem dizer que marcas estão nas mãos da audiência. Marcas precisam ser inspiradoras e sempre terão de liderar a conversa, pensar o futuro. Como nos fã-clubes de bandas de rock, por exemplo. Nenhum fã jamais criou músicas para a banda tocar”.