Poucos se lembram, mas segue uma briga na Justiça envolvendo dois dos três maiores fabricantes de smartphones. Apple e Samsung. Tudo começou em 2011, quando a Apple acusou a empresa da Coreia do Sul de copiar o design do iPhone. Na época o iPhone era o 3GS e os Galaxies, o Y e o S. Com o passar dos anos a Apple foi estendendo suas acusações a todos os smartphones da Samsung.

Num primeiro julgamento em 2012, a Samsung foi condenada a pagar uma indenização de US$ 1,05 bi pelas supostas cópias. A Samsung não se conformou e recorreu à Suprema Corte americana. Reconheceu que se referenciou na Apple, mas considerava a indenização um absurdo e despropositada. Pleiteava e aceitava pagar, no máximo, US$ 25 milhões. A Suprema Corte alegou que jamais seria a instância adequada para julgar a pendência e devolveu o caso para a Corte Distrital da Carolina do Norte.

Conclusão, não muito diferente do que ocorre com a Justiça brasileira, até hoje a pendência continua sem decisão. E nesse meio tempo, para dar sequência a seus recursos, a Samsung já desembolsou o equivalente a US$ 548 milhões.

Enquanto isso, a Samsung continua figurando dentre os principais fornecedores da Apple, e o que caracteriza muito os dias e tempos em que vivemos. Inimigos nas disputas porta para fora, amigos nas necessidades e interesses. Tapas e porradas de dia e afagos a noite.

Aperte o F5, livro do CEO da Microsoft, o genial Satya Nadella, outro exemplo fantástico dos tapas e beijos. De novo envolvendo a Samsung, mas, desta vez, com a Microsoft, não a Apple. A nova política da Microsoft, a partir de Nadella, era desenvolver aplicativos da empresa para plataformas concorrentes como o sistema operacional Android do Google, e o I0S da Apple.

Todos os aplicativos já deveriam vir instalados nos smartphones para facilitar a vida dos proprietários, e possibilitar uma rápida adesão e preferência.

Depois de encontros e negociações, decidiu-se por uma parceria com a Samsung por 30 anos. No meio do caminho a Microsoft anuncia a compra da Nokia e ato imediato, a Samsung recusa-se a continuar com a parceria e o presidente da empresa Jong-Kyun corta relações e recusa-se a receber qualquer dirigente do agora ex-parceiros.

A Microsoft recorreu a um importante, sensível e competente intermediário, Peggy Johnson, que estava chegando à Microsoft depois de anos de sucesso à frente da divisão de parcerias da Qualcomm. Inclusive com a Samsung.

Respeitada por Jong-Kyun, Peggy foi recebida. Depois de sucessivas reuniões conseguiu superar todas as barreiras. Estabeleceu-se um novo acordo que define bem como são as relações nos tempos de hoje. Tapas e beijos. Em alguns setores e negócios, concorrentes impiedosos.

Em outros, parceiros leais e apaixonados em benefício dos clientes e acionistas das duas empresas. Diz Satya Nadella: “A confiança baseia-se em muitos e outros fatores. Respeito, saber ouvir, transparência, foco e disposição de apertar o F5 sempre que necessário”. Só a total integridade nesses atributos possibilita parcerias, somas, sharing business, com verdadeiras e consistentes possibilidades de sucesso. Parcerias e negócios feitos para durar.

Deu pra entender. Daqui para frente é assim. Não massacre tanto seu concorrente. Não seja impiedoso e cruel. Quem sabe, mais adiante, venha ser seu mais importante parceiro. Seu novo e grande amor.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)