Meus pais se separaram quando eu era muito novo. Minha mãe assumiu com coragem a missão de criar um filho sozinha em uma época em que ser divorciada era quase um palavrão. Como você deve imaginar, naquela época, as mulheres de boa família eram educadas para serem boas professoras ou boas esposas. Sendo assim, mulheres divorciadas provavelmente deviam ter errado em sua missão maior.

Mas a separação e a súbita responsabilidade de criar um filho sem a ajuda de um marido, a obrigou a se descobrir mais forte do que ela achava que era.

Lembro do dia que tomei coragem e disse pra ela que havia fumado maconha. Ela, impassível, olhou-me sorridente e perguntou se eu tinha gostado. A graça do proibido acabou naquele segundo. E, ao contrário da maioria dos meus amigos na época, passei ao largo da modinha da maconha. Anos mais tarde, ela me confidenciou que na hora só pensava em chorar.

Recordo também das amigas recém-divorciadas que ligavam para minha mãe confessando entre lágrimas seu desespero por não saberem fazer nada para arrumar trabalho. Não haviam se preparado para a hipótese de viverem sozinhas.

Minha mãe estava sempre lá, pronta para ouvir e apoiar a quem quer que fosse. Essa força que surgia nas suas atitudes e no seu sorriso sempre presente fez com que eu desenvolvesse um enorme respeito pelas mulheres, e um profundo desprezo por homens que acreditam que pinto e gravatas são sinônimos de poder.

Fico atônito a cada notícia de desrespeito profissional contra uma mulher. Já presenciei cenas lamentáveis. Já ouvi depoimentos de colegas que diziam claramente que não gostam de trabalhar com mulheres. Quem educou estas pessoas?

É verdade que já foi muito pior. Mas não chegamos nem perto do ideal em que igualdade e respeito deveriam ser um senso comum.

Dei sorte de trabalhar com mulheres espetaculares e devo muito a cada uma delas. Todo o profissionalismo com que sempre as tratei era uma extensão do respeito que eu sempre tive pela mulher que minha mãe foi.

André Pedroso é diretor de criação da Fischer