A mensagem a seguir eu escrevi de brincadeira uma noite que abri minhas caixas todas de entrada (virtuais, o que vocês estão pensando de mim? – minhas caixas de entrada físicas não são abertas assim como se bastassem um clique) e descobri que, para o mundo do ecommerce, sou o maior punheteiro, pornoconsumista, fofoqueiro, frívolo, babaca de todo o universo virtual.

Pensando bem, parte disso sou mesmo, mas não na proporção que os algoritmos levam a crer. Acontece que escrevo livros. Um deles é sobre a noite carioca, o que me levou a comprar pela internet várias obras sobre o assunto, boa parte pornográfica e outras resvalando por essa – digamos – categoria.

Noutra ocasião, criando uma campanha para um cliente, tentei descobrir o tamanho do mercado de roupas plus size. E imagine o número de sites e portais dedicados à venda (ou aluguel) de roupas para esse segmento. Roupas e recheio, se é que me entendem. Li todos, naveguei entre eles. Vi gordinhas fantásticas vendendo sutiã que, a um simples clique, me levaram a orgias virtuais (popularmente conhecidas como surubas) impossíveis de deletar.

Bastaria me cadastrar. Outra vez, para um artigo para um jornal alternativo, de esquerda e de orientação LGBT, pesquisei todas as músicas de conteúdo machista, homofóbico, mulherfóbico (essa é dilmesca) e bolsonarista que já foram feitas. “Na subida do morro me contaram/que você bateu na minha nega/isso não se faz/bater numa mulher que não é sua”- Ribeiro Cunha e Moreira da Silva. Essa é a letra que serviu de epígrafe.

Tudo isso fica registrado na memória dos poderosos computadores, que vão traçando um ser humano através de suas leituras, compras e passeios pelo mundo virtual. Já que falei de Bolsonaro, também sobre isso andei pesquisando a tese da força e da truculência nos regimes.

Como derivativo no entendimento do fascínio pelo estado opressor e organizado, fui a Hitler, Mussolini e seus arremedos. Fidel e Chaves inclusive. Pesquisei vida, obra, discursos. E os computadores de capacidade infinita (Deuses?), traçando minha preferência me classificaram, acho eu. “Esse puto – pensaram os circuitos deles – tem uma boa renda. Compra muita merda (esqueci dos vinhos! Isso me coloca como fodão na categoria de comprador) é meio alcoólatra, chegado a uma putaria e tem cartão de crédito.

É conservador, deve ser eleitor do Trump. Vamos entupir ele de ofertas! “Esse é o tema desta coluna. Não aguento mais. Tudo que se escreve, produz, filma sobre putaria, fascismo, sacanagem e violência mandam pra mim. Para piorar, numa dessas ocasiões, forneci minha idade. Algum computador juntou tudo. Velho, punheteiro, na internet. Tá broxa. Eu me fudi. Minha caixa postal recebe por dia 20 mensagens de clínicas que cuidam de paumolecência.

Saibam vocês que existem mais de 80 clínicas de disfunção sexual só nas redondezas do bairro em que eu moro. Para cada pau mole, deve ter uns oito médicos. É por isso que o Brasil não vai pra frente. Ou atrás, com perdão da insinuação. Com fotos de banco de imagem e textos de classificados de imóveis, me dizem que 70 anos é a melhor idade para se ter pau duro, só eu que não sei. Os respeitáveis doutores das clínicas chamadas Oxford Clinics, Médecins Modernes, The Broose Happy, Le Pinceau Animé garantem transformar todo velhinho babão como eu em Kid Bengala. Façam-no como diria Temer. Voltemos ao tema.

Desculpe-me por ter levado quase a coluna inteira para justificar a mensagem que eu escrevi para essas empresas. Eu só queria me explicar avisando essas entidades que sou uma boa pessoa, um pai quase avô de família (Cora, minha neta, bem-vinda e não repare a bagunça). E gostaria de mudar o meu perfil. Eu gostaria que vocês soubessem que adoraria ser informado que Elomar lançou um novo CD. Que Massimo Montanari acaba de lançar um livro chamado Histórias da Mesa, que eu descobri por acaso numa livraria e é um deslumbrante relato dos hábitos à mesa. Contem-me, por favor, que Philip Roth está nas lojas com o livro Os Fatos, sua biografia.

O maior autor americano vivo falando de si mesmo. Contem-me bobagens, bobagens mesmo, como, por exemplo, que o filme Cães de Guerra – uma das melhores coisas que o cinema produziu nos últimos anos – está nos cinemas. Acho que vocês não me conhecem. Ou, respeitando tudo que se escreve sobre essa enorme capacidade do pessoal que trabalha em mídias sociais em ter poder e conhecimento, talvez quem não me conheça seja eu mesmo.