Dia 8 de abril de 2013. Marcio Kumruian conta sua história, e a história de sua empresa no 26º Fórum da Liberdade, PUC-RS: “Quando comecei a Netshoes tinha cinco funcionários: três e mais eu e meu primo. No primeiro mês vendemos um par de sapatos. No segundo, dois. Um crescimento de 100%…”. Na manhã da quarta-feira, 12 de abril de 2017, a Netshoes abre o capital na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Um IPO – Oferta Pública Inicial – de 8.250.000 ações ordinárias ofertadas pelo preço de US$ 18. No final do pregão, uma desvalorização de 10,5% e as ações negociadas a US$ 16,10.

Todos, eu disse todos, comércios eletrônicos do Brasil acompanham sem respirar a trajetória da Netshoes. É o laboratório. É a escola. Uma escola que vai aprendendo – mais erros que acertos – e todos bebem nessa fonte. Originalmente, a Netshoes, fundada por Kumruian e Chabap, era uma varejista de artigos esportivos. Uma loja física. Duas, três. Até decidir-se migrar totalmente para o digital, para o e-commerce.

Nas vésperas da abertura do capital encaminhou a documentação para a SEC – Securities and Exchange Commission. Uma receita líquida de R$ 1,74 bilhão, em 2016, + 15,2%, e um prejuízo acumulado de R$ 151,9 milhões, + 52% em relação ao prejuízo de 2015. Sintetizando, a velocidade do crescimento do prejuízo é três vezes maior que o crescimento da receita, ou quanto mais vende, mais perde… Mas, e mesmo assim, todos acompanham seus passos. Todos querendo entender a garra, a energia, a alucinação de Marcio, e até onde sua jornada ensandecida o levará. Uma espécie de cobaia voluntária ou inconsciente.

A imprensa de negócios também segue seus passos. Passo a passo. Em fevereiro de 2012, Época Negócios fez de Marcio e de sua Netshoes matéria de capa. Na edição de abril, que se encontra nas bancas, de novo, na capa, Marcio e sua Netshoes. Há seis anos o título era O grande passo da Netshoes. Na deste mês, sai a afirmação e entra a pergunta: Para onde caminha a Netshoes? Aos 17 anos, Marcio trabalhava com o tio na Clóvis Calçados, no Centro Velho de São Paulo. Aos 25 anos, usou parte de um estacionamento do tio na Maria Antonia, em frente ao Mackenzie, e começou a vender sapatos aproveitando o fluxo dos estudantes da rua. Aos 36 anos, implantou uma operação na Argentina e no México. Aos 37, bateu no primeiro bilhão de reais de faturamento. Aos 43, abriu o capital de sua empresa em NYC.

Sua trajetória é trôpega e movida a emoção. Muita emoção. E, no embalo. Decisões tomadas no velho e bom e não necessariamente sábio “feeling”. Bateu a ideia “vamos nessa”. E assim, e além de sair para outros mercados fora do Brasil, e hoje comandar uma empresa de capital aberto e com 2,7 mil funcionários, agregou ao seu negócio o da moda, com a Zattini, foi buscar profissionais na Dafitti e vende, dentre outras marcas, Colcci, Cavalera e Diesel.

Contratou Giovanna Antonelli como garota-propaganda, prepara-se para ingressar no território de produtos para bebês, promove a Netshoes Fun Race e caminha, atabalhoadamente, na direção de converter-se num marketing place. Tendo como referência o Mercado Livre – que consegue o que nem Marcio nem a maioria dos e-commerces do país consegue: Dar lucros! E dá lucro há 40 trimestres! É isso, amigos. O e-commerce continua um mistério. Todos têm certeza que o caminho é esse, mas ninguém sabe exatamente como chegar lá, seguir adiante e prosperar.

Em 2016, o e-commerce brasileiro faturou R$ 44,4 bilhões, 3% do comércio total, e 48 milhões de consumidores compraram pela primeira vez via internet. Tirando o Mercado Livre, dentre os grandes players, todos os demais, à luz de números verdadeiros, perdem dinheiro: Americanas, Ponto Frio, Magazine Luiza, Extra, Submarino, Casino, Shoptime… Que é pra lá ninguém tem a menor dúvida. Mas exatamente que lá é esse, e como se chegar no lá vivo e preservar-se vivo? Por isso que todos não tiram os olhos do corajoso e emblemático aventureiro Marcio Kumruian e da Netshoes. Que Allah o proteja, oriente e abençoe.