Alê Oliveira

1. Perdidos econômica e politicamente em meio a um nevoeiro sem fim, os brasileiros ficam cada vez mais cabisbaixos diante do desgoverno que se instalou no país.

Ninguém parece ao certo saber a saída, o que só beneficia os aproveitadores do caos. Já houve um momento em que o impeachment da presidente Dilma Rousseff esteve a ponto de ser decretado, mas seus articuladores políticos desnudaram o presidente da Câmara Federal, naquela ocasião o mais forte carrasco de S.Exa.

Como a compra de parlamentares foi devidamente registrada a quem interessava, bastou abrir a caixa de Pandora onde havia se instalado o deputado Cunha, o mesmo que havia provocado o Executivo no início do ano, vencendo a disputa pela presidência da Câmara.

A partir daí, Cunha virou o bode expiatório (não que não merecesse, mas não foi por isso) de toda a corrupção brasileira, chamando para si todo o poder de fogo até então endereçado à Presidência da República.

Fala-se menos hoje no impeachment de Dilma Rousseff, fala-se muito na cassação do mandato de Eduardo Cunha e fala-se pouco ou quase nada, na cúpula diretiva do país, a respeito de como solucionar a crise.

Esse fantasma que a todos assola – com as exceções de sempre – apresenta com certa frequência novos episódios de estarrecer quem ainda a isso consegue ser levado.

O caso recente do E-Social é um deles. Como pode ser revelado tamanho despreparo técnico depois de tanto tempo transcorrido desde o anúncio da mudança do recolhimento dos encargos trabalhistas dos empregados e empregadas domésticas?

A “salvação” veio na undécima hora, quando alguém deve ter batido na mesa e dado um basta à teimosia de alguns burocratas que insistiam em manter o prazo do dia 6/11 para o recolhimento de uma guia de impostos que teimava em não ser corretamente impressa no mesmo sistema digital que apurou os votos dados pela população brasileira nas urnas eletrônicas, em outubro de 2014.

Ao que tudo indica, a presidente está salva, seu impeachment encruou, inclusive por hesitações da própria oposição, da qual alguns representantes chegaram a se manifestar contra a medida legal (que os mistificadores da opinião pública chamavam de golpe), acreditando ser melhor para as suas ambições políticas, vê-la sangrar até o último dia do seu mandato, em 31/12/18.

Sobre o sangramento da pátria até lá, poucos se manifestaram. Afinal, a pátria para determinados políticos é apenas um balcão de negócios.

2. Talvez com inveja das diatribes verbais de Brasília, políticos regionais idealizaram os próprios repertórios, que embora limitados às suas regiões de atuação, não foram menos dignos de registros que ficarão na história, provavelmente sob algum título como “Se é para falar e fazer besteira, aproveitemos a onda”.

Aqui em São Paulo, por exemplo, o secretário municipal de Transportes, que é sócio de uma empresa de ônibus (nada mais coerente), promete iniciar um movimento de salvação de ônibus lotados nos horários de pico, que serão retirados dos engarrafamentos do trânsito por agentes do CET montados em motos com sirenes (lembrando os batedores que vão à frente dos automóveis pretos de algumas autoridades, abrindo caminho para elas passarem).

Se o leitor acha que se trata de uma piada, procure na web o noticiário municipal de São Paulo no meio da última semana e verificará que, infelizmente, piada não foi. Pelo menos, o tom foi de seriedade, mas como o Brasil anda de cabeça para baixo, é bem possível que até piadas sejam feitas procurando falar sério.

3. Diante desse quadro nada animador das chamadas hostes oficiais do país, resta o consolo da iniciativa privada, aqui incluídos todos os que dela fazemos parte, empresários e funcionários, virar a cara para esse nunca antes visto grau de irresponsabilidade que tomou conta do Brasil a partir da sua elite política e protestar.

Protestar de todas as formas possíveis, sempre dentro da lei, permitindo quem sabe que essa nova classe de milionários acorde dessa mesmice criminosa em que se meteu.

É pedir muito, bem o sabemos. Mas é de muito que precisamos para salvar este país que já produziu tantos milagres e foi um dia chamado de o país do futuro.

Para o bem das novas gerações, a hora de acordá-los é agora. Não para fazerem o bem, que para isso não estão preparados, a não ser quando se trata do próprio bem. Mas para saírem da nossa frente o mais depressa possível, permitindo que o povo – que eles tanto adulam e ao mesmo tempo maltratam – produza novas lideranças capazes de repor o Brasil nos trilhos.

Para isso, basta não imitá-los.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Marketing e Propaganda