Há dez anos ninguém imaginaria que seria possível chamar um táxi pela tela do próprio celular. Hoje, é possível chamar, cancelar, monitorar o trajeto do motorista e avaliá-lo. A tecnologia embarcou no segmento e simplesmente revolucionou o cenário para deslocamentos urbanos ou mesmo entre cidades. Atualmente, o passageiro enche uma mão de opções para ir e vir. Entre elas, está a Easy Taxi. Fernando Matias, CEO da empresa, garante que a transformação está apenas começando.

Alê Oliveira

Quais as novidades da Easy Taxi?
Nós estamos num período de bastante mudança aqui no Brasil. Recentemente, começamos com alguns projetos para tentar transformar o táxi num modal mais acessível. Estamos assistindo à entrada de novos serviços de carros particulares e um cenário de crise econômica muito complicado. Então, começamos em junho com um projeto de 30% nas corridas, que foi feito direto com os taxistas.

E como foi a adesão por parte do motorista?
Foi realizada uma campanha em que o taxista deixava de ganhar 30% nas corridas para tentar ganhar no fluxo do trajeto. Esse projeto começou em Belo Horizonte (MG), depois fomos expandindo para outras cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, e hoje estamos em todas as grandes cidades do país. Essa foi uma ação muito importante, porque ela conseguiu trazer um volume incremental para esses motoristas. Então, chegamos em alguns casos em que o motorista estava ganhando o dobro através de métodos de pagamento pelo aplicativo e isso fazia com que tudo que ele estava deixando de ganhar nas corridas fosse compensado em relação ao volume de corridas realizado.

Essa foi a primeira ação do sistema?
Foi, sim. Na sequência, nós entramos com o EasyGo, que é o nosso sistema de carros particulares em São Paulo, seguindo o decreto do prefeito Fernando Haddad (PT). De fato, com a regulamentação nos serviços de carros privados, nós trouxemos essa novidade. E, desde o início do mês de agosto, nós estamos entregando essa solução para os passageiros, que é uma opção de transporte mais acessível, que, é claro, deixa a Easy mais competitiva. Em paralelo, a gente trouxe um sistema de modelo de cobrança das corridas. Então, antigamente, a gente monetizava apenas nas cobranças pagas por aplicativo. Agora, existe um processo de pagamento que pode ser feito via dinheiro ou via cartão de débito.

E como está sendo a recepção dos usuários em relação ao EasyGo?
Nós podemos dividir esse processo em duas partes. A primeira é o lado do motorista e a segunda do passageiro. Com o motorista, já estamos conversando há um bom tempo. A gente teve uma aceitação muito grande. Tivemos mais de 13 mil interessados em trabalhar com o sistema. E óbvio que não conseguimos cadastrar todos os interessados. Ainda estamos fazendo um trabalho de seleção e de treinamento, mas estamos numa velocidade de base de motorista bem significativa.

E o que eles estão achando?
Pelo que observamos, eles acharam um modelo bem atrativo, não só por a gente liberar a forma de pagamento, mas também pelas vantagens em relação ao posicionamento de preço e de tarifa para o passageiro. Quando a gente olha pelo lado do motorista, a gente cobra uma taxa inferior – estamos cobrando uma taxa 20% para motorista com carros mais simples e 15% com os de qualidade superior. E, quando a gente olha pelo lado do passageiro, estamos cobrando uma taxa pouco acima do que a Uber cobra. Valor um pouco acima na média, porque, em alguns momentos, o nosso sistema costuma sair mais barato.

Dê um exemplo, por favor.
Nós não cobramos R$ 7 como tarifa mínima e a conta que a gente faz para trajeto com três, quatro quilômetros, acaba saindo mais em conta também. E, quando a gente olha o concorrente num período de tarifa dinâmica, também saímos com mais vantagem. Então, estamos vindo numa estratégia de preço flat, que tira a preocupação do passageiro de saber se vai valer a pena fazer uma corrida naquele período.

E os passageiros?
Para os passageiros, ainda está sendo muito novo. A gente começou a focar em passageiros que estavam inativos, que não estavam mais fazendo corridas com a EasyTaxi e, agora, estamos começando a fazer ações. Fizemos, por exemplo, o EasyGo Day, que é um dia de corridas gratuitas. Basicamente, o passageiro precisou utilizar um voucher. O grande esforço que estamos fazendo, agora, é conseguir casar oferta com demanda e fazer com que as corridas sejam realizadas.

Como é feito o contato com os taxistas? Ele é realizado via cooperativa?
A gente fala diretamente com o taxista. Nós trabalhamos com intermediadores, então, não falamos com cooperativas. Hoje, nós falamos diretamente com o taxista final. Falamos com uma base de 140 mil taxistas pelo Brasil. Ou seja, é bem significativa e representativa. Estamos falando com 80% dos taxistas do país inteiro.

Como surgiu a Easy Taxi?
A Easy Taxi surgiu, na realidade, em 2011, no Rio de Janeiro, durante um evento de start up. E, no fim do primeiro dia de evento, os fundadores estavam saindo quando surgiu a ideia de criar um aplicativo para táxi. Então, na noite de sábado para domingo, eles fizeram o projeto e apresentaram durante o evento. A Easy Taxi surgiu, na verdade, de uma necessidade. A Easy chegou a estar em mais de 40 países, na Ásia e na África, mas, por conta de característica de mercado, a gente resolveu focar apenas na América Latina. Do México para baixo, estamos praticamente em todos os países.

E como é esse mercado lá fora?
Cada mercado tem a sua particularidade. E, além disso, a legislação de transporte individual é feita por cidade. Ou seja, cada município tem as suas regras. Dentro de um país, você pode ter regras diferentes. No Peru, por exemplo, a Easy Taxi entrou apenas com o serviço de carros particulares. Na Colômbia, existe um segmento novo, o táxi branco, que é mais ou menos equivalente ao táxi preto aqui em São Paulo. Esse é um serviço voltado basicamente para empresas e para turistas. Então, cada cidade tem a sua forma, a sua legislação, o que torna a nossa solução muito complexa.

Então, podemos dizer que o mercado brasileiro é o principal?
Sim, o Brasil ainda é o principal mercado – não apenas em número de corridas, mas também em número de cidades. Você tem uma série de cidades em que o serviço é muito relevante. Em Buenos Aires é diferente. A legislação de lá proíbe o uso de aplicativos. É um mercado mais complexo.

E como é feita a comunicação da EasyTaxi?
No ano passado, nós fizemos um processo de seleção de concorrência, cuja vencedora foi a DM9DDB. Só que essa é uma parceria que está em stand by muito por conta da dificuldade de investimento em decorrência da crise econômica. Então, a gente tem a DM9DDB como parceira, mas ainda não foi feita nenhuma ação. A gente tem, no entanto, uma equipe especializada em comunicação e trabalhamos nos canais próprios. Temos uma base muito forte de CRM, em que fazemos a nossa comunicação. Utilizamos também muito as nossas redes sociais. E, em alguns casos específicos, fazemos ações em algum canal offline.

Qual é o principal desafio desse mercado hoje, levando em consideração a entrada de outros players, como a Uber?
O mercado vai se tornar cada vez mais competitivo. Antigamente, você tinha basicamente dois grandes players, que era a 99Taxi e a Easy Taxi. E, quando a Uber entrou, eles distorceram um pouco o setor com os carros particulares. Mas o que você começa a ver agora é um trabalho de unificação. A Easy já entrou no segmento de carros particulares, ou seja, estamos competindo diretamente com a Uber. Nós temos hoje uma grande competitividade e competitividade é muito bom para o consumidor final porque você consegue trazer uma competição nos preços e nos serviços, e isso acaba melhorando o ecossistema. A inovação e tecnologia também ganha com isso, porque, cada vez mais, para você se destacar nesse segmento, você vai ter de trazer mais soluções tecnológicas. Nós já trabalhamos com projetos que estão pensando em como ser mais atrativo em relação aos preços, entre outras coisas. Nós ainda estamos engatinhando nesse mercado de transporte, temos ainda muito o que melhorar. Eu acho que, ao longo dos três anos, muita coisa vai acontecer.

A Uber abalou muito o mercado?
A Uber afetou um pouco, sim. Mas existe um cenário que é preciso levar em consideração, que é o da crise econômica. O próprio sistema de carros particulares acaba criando um mercado mais acessível. Isso, com certeza, afetou. E eu acho outro ponto que favoreceu o mercado é o fato de que o passageiro também pode ser o motorista. Então, eles já está acostumado a usar o aplicativo como motorista e percebe que também pode usar o mesmo aplicativo como passageiro.