Você já percebeu que mesmo com a crise e o desemprego não está fácil contratar profissionais que façam a diferença? Percebeu também que nas entrevistas admissionais, quando você faz uma explanação das maravilhas do local de trabalho, do respeito pelos colaboradores, da possibilidade de uma carreira vitoriosa e das expectativas que tem do pretendente ao cargo, as pessoas olham para você como se você fosse um retardado?

Já percebeu também que depois que você vomitou todas essas baboseiras o candidato começa a interrogar você de maneira inquisidora? E que isso tende a azedar o encontro?

Se isso acontece ou aconteceu com você, está na hora de acordar. Até hoje as contratações eram de cima para baixo. E os candidatos se impressionavam com o vidro, o aço, os elevadores automáticos, as catracas e os crachás. E eram recebidos na suntuosidade das salas de reuniões quase que numa deferência para com eles.

Então, você, príncipe dos príncipes, contava todas as histórias da carochinha que quisesse, diante de um interlocutor boquiaberto e sequioso por uma chance no seu reinado. Os tempos mudaram.

Hoje, ao abrir a boca diante de um candidato de qualidade, você estará correndo o sério risco de se mostrar ridícula e pateticamente mentiroso. Porque, ao chegar à sua sala chique, o candidato já sabe tudo sobre a sua empresa e sobre você. Enquanto você se acomoda num discurso ilusório e fantasioso, ele estará processando realidade.
Enquanto você se julga protegido pelo poder, a sua reputação já foi costurada, a cada segundo, online, com retalhos de informações trocadas em tempo real por grupos virtuais, alimentados pelo seu próprio pessoal.

Você não deveria, portanto, estranhar a dificuldade em contratar em tempos de desemprego. Mas deveria prestar atenção a um outro sinalizador, esse, sim, cruelmente verdadeiro: talvez as pessoas continuem com você por causa dos tempos de desemprego. Estamos todos expostos, vivendo a hora da verdade. O que não significa que não possamos sobreviver com os nossos defeitos. Significa, porém, que não há conversa fiada que convença que não os tenhamos.

Seja conversa fiada nascida da nossa verve, seja conversa fiada formulada por consultores motivacionais a quem pagamos para definir nossas “missão”, “visão”, “valores” e “propósitos”, seja lá o que essa besteirada signifique, além de grana para gente esperta.

Ou você é ou você não é. E é você quem decide. O caráter de uma empresa é o caráter de quem decide as coisas nela. O exercício do caráter não é produto de reuniões em que se dá ouvidos a todos. É uma prática cotidiana, levada a efeito no agora, no gesto mais simples, no exemplo permanente de uma liderança confiável. Sem necessidade de esforço, sacrifício ou formalidade.

Não se marca data para exercer bom caratismo. Qualquer iniciativa que carregue esse defeito de origem nasce condenada ao descrédito. E vai servir apenas para alimentar o arsenal de ilações dos seus “repórteres” para o mundo real.