Aos poucos, o Brasil vai entrando nos eixos. A economia está retomando seu caminho e, se não houver nenhuma surpresa que represente solavanco, tudo indica estarmos entrando num círculo virtuoso. Na minha opinião, depois de uma crise dessas proporções, ficam de pé apenas as melhores empresas. Não que eu defenda a crise, mas acho de verdade que a crise serve muito para promover um certo expurgo. Empresas mal geridas, com pouca capacidade, sem ativos importantes, inclusive humanos, sucumbem diante de um cenário tão adverso quanto esse recente. Agora, neste momento, com preços ainda muito baixos, é hora de comprar empresas, fazer fusões, se fortalecer para aproveitar ao máximo a onda de crescimento.

A crise produz um estresse muito grande, esgarça relações, afeta ambientes de trabalho, desmotiva. Desta forma, muitas vezes a opção é aproveitar o momento melhor e se desfazer de ativos. Já vi esse tipo de movimento ocorrer muitas vezes e o entendo como saudável. Desde que a operação de compra e venda ou até fusão se deem em bases legais equânimes, com todo o suporte de profissionais qualificados, é sim possível satisfazer a todas as partes.

A boa notícia é que, ao longo da crise, quem tinha maior capacidade financeira não fez movimentos bruscos, preferiu aproveitar a ainda vantajosa relação remuneração/taxa de juro. O resultado é uma conta polpuda e em condições de agregar patrimônio. Na outra ponta, muitas vezes, empresas tiveram de gastar suas economias para poder se manter no mercado. Hoje estão relativamente descapitalizadas e por isso o melhor caminho pode ser se desfazer da operação.

Nessa relação de oferta e procura, todas as pontas podem, sim, sair ganhando. Sem contar que, comparativamente, os negócios estão com preços muito atrativos. A queda do juro e a perspectiva de novas quedas também apontam aos mais capitalizados que é hora de ir às compras.

Como se pode ver, as oportunidades estão absolutamente abertas. Muitas vezes encontrar um sócio/parceiro para abrir novos segmentos de negócios, ou mesmo novos mercados, acaba se tornando uma ótima alternativa para a empresa. É tudo uma grande tela em branco, de inúmeras possibilidades. Por conta da expertise desenvolvida nesse campo das negociações, aprendendo e lidando com interesses dos dois lados, é possível afirmar, com pequena margem de erro, que estamos vivendo um dos melhores momentos para esse tipo de movimento. Muitas empresas, nas duas pontas, nos têm procurado com esse interesse. Por isso, daqui para a frente, não se espantem com uma possível onda de troca de ativos, vendas, compras e fusões entre empresas.

Outro aspecto importante deve ser destacado: depois de uma crise, todas as empresas estão, digamos, mais magras, tal qual um urso que passa meses hibernando. A musculatura está lá, mas bem mais flácida. Voltar a ter o mesmo perfil pode levar tempo e consumir ainda mais recursos, o que pode exigir tomar empréstimos e mudar o perfil de endividamento. Por isso, a opção de venda, ou de união com outro parceiro em boas condições, pode ser, mais do que se desfazer ou dividir ativos, um ato de oportunidade.

Empresas com maior volume de produção e clientes ganham escala, a operação volta a ser competitiva e lucrativa em relação à concorrência. Ganham também os clientes, que passam a ter melhor atendimento e produtos melhores e adequados ao novo momento. Aos empresários que vendem, fica a opção de, agora capitalizados, iniciarem outros negócios, se associarem a outros grupos ou, ainda, porque não, aproveitarem a vida com outras coisas, sonhos de consumo e hobbies, dependendo do momento de cada um.

Flavio Conti é publicitário e consultor de empresas na área de fusões e aquisições (flavio_conti@uol.com.br)

Leia mais
Enfim, o biochip
Ganância ou ignorância?