Alguns dias atrás, estive em Los Angeles para promover o curta-metragem “Reencontro” (https://vimeo.com/162876863), selecionado no LA Shorts Festival. Em minha breve passagem pela cidade, pude conversar com cineastas do mundo todo, incluindo o diretor brasileiro Rodrigo Zan, com quem tive alguns importantes aprendizados sobre a indústria do cinema, os quais compartilho aqui com vocês:

1- Financiar o próprio filme é o grande calcanhar de Aquiles para qualquer cineasta. Mas se você estiver em Los Angeles, é mais fácil. Lá, você vai encontrar gente muito, mas muito boa mesmo, topando trabalhar por um cachê reduzido (comparado com o Brasil) ou até sem cobrar nada, em projetos que possam impulsionar suas carreiras. Aliás, é comum você encontrar motoristas de Uber ou garçons que são (bons) diretores, atores, roteiristas, fotógrafos. Todos correndo atrás do sonho de estourar em Hollywood. Aluguel de equipamento também é uma merreca, mesmo fazendo as conversões de moeda. De quebra, você ainda passa num outlet antes de voltar para o Brasil e faz a festa.

2 – Uma dica preciosa que eu ouvi de 9 entre 10 cineastas de produções independentes: em vez de gastar tudo o que você não tem produzindo locações, alugue tudo pelo Airbnb. Sai muito mais em conta.

3 – Esqueça os curtas, se você quiser viver de cinema. Hollywood está de olho mesmo é nos longas-metragens de baixo orçamento (entre $300 mil e $1 milhão). Isso porque, se você souber fazer um filme lindo com pouca verba, os executivos dos estúdios veem que você é a galinha dos ovos de ouro que eles procuram, pois mesmo que o filme seja alternativo e demande verba de marketing, ainda é possível tirar lucro da audiência. Filmes acima desse budget caem no limbo, pois acabam competindo com os blockbusters, que têm verba de produção, marketing e distribuição infinitamente maiores.

4 – Outra vantagem de se fazer longas é que, nos festivais de cinema do mundo todo, você estará concorrendo com muito menos gente, já que a produção mundial de longas-metragens é muito menor que a de curtas. Em um festival como o LA Shorts, por exemplo, a média de inscrições é de 5.000 filmes, enquanto que no Sundance é de uns 300. Menos concorrência, mais chance de visibilidade. E um último fator é que os executivos do Netflix, Hulu, Amazon e outros players dessa nova era hollywoodiana estão todos nos festivais de longa, sedentos por fazer aquisições de filmes que estejam prontos para ganhar o mercado. Já o curta, tadinho, até hoje não encontrou um formato sustentável em nenhuma plataforma, embora o VOD (vídeo sob demanda) tenha ajudado ao menos a recuperar parte do investimento.

5 – Faça filmes em língua inglesa. A maior barreira entre nós, brasileiros, e os americanos não é cultural, mas de idioma. Se você fizer um filme lindo em português, suas chances são menores do que um filme até menos brilhante falado em inglês. Americanos não leem legenda. E se os donos do brinquedo não querem aprender a nossa língua, a gente que se matricule em um curso. O ponto positivo é que eles não ligam muito para o sotaque, já que 30% da população é composta por imigrantes. Ou seja, pelo menos não precisamos nascer de novo.

6 – Não copie Hollywood. Não é exatamente a melhor estratégia criar um filme que poderia ser sido rodado lá, pelos próprios americanos. Por outro lado, se você criar um filme que só possa ter sido feito por você, brasileiro, apropriando-se da sua cultura, mas contando uma história que envolva sentimentos universais, o seu filme tem uma boa chance de ter um bom desempenho nos festivais de lá e ganhar janelas de exibição mundo afora.

7 – Não torre toda a sua grana em festival. Embora festivais sejam uma vitrine importante para cineastas firmarem seus nomes, além de renderem um ótimo network, você gasta um dinheiro considerável para colocar o seu filme lá. São centenas de dólares em inscrições, depois mais uma quantia boa em conversão DCP (Digital Cinema Package), caso o filme seja selecionado para algum festival. Some a isso mais alguns milhares de reais em passagem, hotel e hospedagem (embora alguns festivais ofereçam hospedagem, a conta ainda é alta). Um conselho que eu recebi é injetar o dinheiro que iria para festivais em marketing de divulgação do filme. Um filme com bom desempenho chama a atenção dos grandes produtores, e aí quem sabe eles te chamem para um café ou uma partida de golfe.

8 – Festival não é só mérito. Como tudo na vida, se você conhecer alguém que conhece alguém, o seu filme sai na frente. Festivais costumam favorecer filmes com elenco estelar, pois ter celebridades na noite da premiação ajuda a promover a reputação do evento em si. Portanto, além de artista, você precisa desenvolver suas habilidades de politicagem e ficar amigo das pessoas certas.

9 – Tem cinemas de rua espalhados por todos os cantos em LA, o que possibilita que produções independentes conversem com públicos de todos os nichos, sem terem que disputar sala e bilheteria com o novo filme do Homem-Aranha, ou do “Se eu Fosse Você 12”, como acontece no Brasil.

10 – Por fim, mas não menos importante: tem muito cineasta brasileiro morando em LA. Se você pretende se aventurar por lá, um bom começo é convidar esses caras para tomar um café e pedir umas dicas e conselhos sobre o mercado, dentro da experiência que cada um acumulou. Eles estão aí, nas redes sociais. É só chegar na humildade.

11 – Essa dica fui eu que dei para os cineastas de lá: considere encontrar uma marca para bancar o seu filme. Sim, o tão falado branded content. Você fica feliz por ver seu roteiro ganhar vida, paga toda a sua equipe bonitinho (porque, né, nem só de louros vive o homem), promove o filme (já que toda peça de comunicação de marca tem um plano de mídia atrelado) e ainda o distribui online, gratuitamente, para quem quiser assistir. Já o diretor de marketing fica tão feliz quanto você, porque, segundo pesquisas da neurociência, histórias são 56% mais impactantes do que qualquer outro tipo de mensagem. A LATAM Airlines, por exemplo, apostou na nossa história e tirou lágrimas de uma sala de cinema em um festival de Los Angeles, com um filme em português! Sim, fizemos os americanos lerem legenda. Nada mal para um “comercial de avião”.

André Castilho é CEO e roteirista da La Casa de la Madre