Eu sempre amei fotografia em preto e branco. Nos últimos seis anos, inspirado pelo fotógrafo Robert Frank (The Americans) viajei por mais de 10 cidades dos Estados Unidos fotografando pessoas comuns nas ruas. Mas faço por puro prazer. 

Nunca me considerei fotógrafo e nunca mostrei as fotos para ninguém. Em algum momento, cheguei a estranhar esse prazer de retratar desconhecidos apenas para guardar essas fotos.
Havia algum tipo de compulsão e prazer íntimo nesse exercício de tentar imaginar cada personagem. Foi então que conheci Vivian Maier.

Ela trabalhou como babá, mas era sempre vista em seus dias de folga com uma Rolleiflex nas mãos. Após sua morte, encontraram mais de 150 mil fotografias que nunca haviam sido mostradas a ninguém.

Respirei aliviado e me senti menos anormal. Suas fotos são de uma precisão absoluta e nos contam histórias profundas nos primeiros segundos.

Existe em seu trabalho um claro caráter de crônica opinativa. Ali comecei a entender melhor esse meu impulso de tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre retratar e questionar.

A fotografia é a exata janela intermediária entre a realidade e a utopia, entre o que é e o que poderia ser. Ao mesmo tempo que retrata algo, também imprime uma opinião, um ponto de vista de quem a propõe.

E é justamente nesse ponto que o conceito da fotografia me inspira ao contar histórias. Sempre existirá um certo tipo de compromisso em reproduzir a realidade, mas, por outro lado, o que conhecemos como realidade é, por natureza, subjetivo.

Só existe a partir de algum ponto de vista. E já que cada um interpreta a realidade de uma forma, se apresenta outra janela de possibilidade: o conceito de triangularização, proposto por Samuel Becket, em que a informação completa deixa de ser constituída pela estrutura informação-veículo para adicionar o receptor da informação como um elemento ativo a completar a informação em si.

Nada mais do que o conceito atualmente chamado de interação. Sabe aquele filme que você entendeu uma coisa e sua mulher entendeu outra? É disso que eu tô falando!

Em minha carreira como diretor de filmes publicitários, tenho contado histórias nos mais diferentes formatos.

Digital, horizontal, vertical, emocional, viral, tradicional, documental e tudo mais que possa existir numa época onde a mídia digital a cada dia ajuda a fragmentar a comunicação.
Seja em filmes com roteiros mais tradicionais ou nos que retratam ações reais, tento sempre equilibrar esse ponto de vista realidade-utopia.

Embora seja necessária a abordagem ilusória que serve como referência para a criação de desejo do consumidor, a verdade e a clareza têm uma força inquestionável.

Talvez por isso eu sinta ser absolutamente necessário ter uma pitada de magia em ações reais, e um pouco de realidade em filmes de roteiros mais utópicos.

Eu sou completamente apaixonado pela verdade, que se apresenta de forma completamente diferente sob o ponto de vista de cada um de nós.

Agora deixa eu pegar minha câmera e sair em busca de novas histórias incompletas.

Bruno Miguel, sócio e diretor de filmes da Movie Machine

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