A entrevista da Alessandra Sadock no propmark da semana passada me encheu de esperança. Traduziu de maneira cirúrgica uma preocupação que venho sustentando faz tempo: a necessidade de se voltar a criar um ambiente seguro para a criação nas agências de publicidade.

Não é mesmo formidável o uso dessa expressão? Segurança. Recorri, neste espaço, a muitos argumentos em diversas ocasiões, quem sabe convincentes, em defesa do resgate da motivação criativa, mas nenhum com o brilho dessa precisão.

Quando a nova diretora-executiva da WMcCann levantou a bandeira de um ambiente seguro para os criativos e criativas exercerem seus talentos, imediatamente minha mente foi passear em meus primeiros anos na profissão, em meados dos anos 1970, ainda em Porto Alegre, e, a partir dos anos 1980, em São Paulo.

À época, não apenas o ambiente era extremamente seguro para a ousadia criativa, como absolutamente inseguro para a mediocridade. É verdade que, destemidos, inúmeras vezes assustávamos a todos os demais. Mas o resultado final era glorioso.

O anúncio e o comercial consagradores orgulhavama todos, pois assinado por um cliente, era resultado do
trabalho de uma agência, não importavam os autores disso ou daquilo. O importante era que tudo o que acontecesse entre o recebimento de um briefing e a veiculação da peça, buscasse e resultasse num produto repleto de méritos.

Foi a segurança que identifiquei na maioria dos ambientes em que trabalhei, como redator e diretor de criação, que me autorizou a verdadeiros desatinos de novato, grande parte das vezes represados por superiores, não menos atrevidos, porém mais sensatos.

Graças a eles, fui moldando minhas características profissionais para propostas factíveis, mas, principalmente, sem perder de vista que jamais deveria deixar de buscar a ideia nova, o pensamento ao contrário.

Ou seja, jamais se reprimia a criação por ser criativa, mas se estimulava mais e mais, ainda que muita coisa não se aproveitasse efetivamente no final do processo.

Para a agência, a questão não era apenas o que era veiculado, que deveria ser muito bom, mas o residual de todo exercício no ambiente de trabalho.

Criativos deveriam se manter encorajados a fazer coisas reprováveis por excessivamente ousadas, profissionais de atendimento deveriam compreender que o propósito da agência ia além da aprovação, deveriam compreender que a quem caberia, eventualmente, reprovar uma ideia brilhante da agência era o cliente e nunca a própria agência.

Ter uma ideia criativa reprovada não deveria ser vergonha para ninguém. Vergonha era nem tentar aprovar. Não é difícil imaginar o conforto que era trabalhar num ambiente com tamanha segurança para a atitude criativa.

Acho extraordinário Alessandra Sadock trazer de volta esse padrão de mentalidade para dentro de uma agência. E mais extraordinário, ainda, que uma agência do tamanho da WMcCann proporcione a ela espaço e autonomia para missão tão necessária e tão valiosa.

Torço, fervorosamente, para seu sucesso. Uma vitória que será de todo criativo genuíno.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com