Na primeira parte desta análise sobre a raridade e a efemeridade do sucesso digital, apontei que o mundo virtual tem sido estruturalmente autofágico. Nesta segunda parte, analiso o histórico das chamadas mídias sociais e dos serviços de mensagens, que viveram, estão vivendo e devem continuar vivendo esse constante processo de autofagia, com raros sucessos (em relação à quantidade de empreendimentos) e alta efemeridade – com exceção de uma organização pré-internet, a Microsoft, criada em 1975; do Google, que se aproxima dos 20 anos de existência; e do Facebook, que parece ter encontrado o caminho das pedras da sobrevivência.

O que se convencionou chamar de mídia social, teve início ainda antes da explosão da internet, com o serviço da CompuServe, em 1969; do BBS – BulletinBoard System, em 1971; e com a Prodigy, em 1984. Mas foi com a AOL (America Online), lançada em 1985, que a onda ganhou massa crítica, começou a mudar o mundo em muitos de seus aspectos e gerou a primeira bolha especulativa do setor, que explodiu no fim dos anos 1990 (10 de março de 2000 foi a data da “virada” de expectativas). Mas foi nessa década que surgiram algumas iniciativas importantes, como a GeoCities, em 1994, que acabou sendo comprado em 1999 pelo Yahoo! por 4 bilhões de dólares, mas foi extinto uma década depois.

O próprio Yahoo!, lançado em 1994, foi uma das locomotivas desse período pré-bolha e viveu a trajetória de imenso sucesso e perda gradativa de espaço, como destaquei na primeira parte desta análise. Ironicamente, foi na antevéspera da explosão da bolha que surgiu, em 1997, o Google, o mais bem-sucedido empreendimento digital da história e hoje a maior organização de mídia do mundo, com receita de US$ 60 bilhões, valor 166% maior em comparação à Disney, que está em segundo lugar no ranking de 2015 da Zenith Optimedia.

No setor das mídias sociais, vale o registro da criação do Fotolog e do Friendster, ambos em 2002; do LinkedIn e do MySpace, em 2003; do Flickr, do Orkut (pelo Google) e do Facebook, em 2004; do Diaspora*, em 2010; e do Google+, em 2011. Esta é uma lista reduzida das inúmeras iniciativas de estabelecer redes sociais, pois a maioria nem apareceu ou sumiu sem deixar rastros mais evidentes. Alguns dos citados desapareceram, foram incorporados por outros ou estão vivendo no limbo da inexpressividade. Até mesmo importantes sucessos esvaneceram e perderam sua relevância, como os citados MySpace e Orkut – além daqueles já analisados na primeira parte desta análise, como a AOL e o Yahoo!

No campo dos serviços de mensagens, hoje basicamente na categoria de apps e de forma esmagadora no ambiente mobile, vale o registro de alguns que se destacaram pela amplitude de uso e “valor de mercado” – pois como geradores de caixa nenhum se destacou até agora. O MSN Messenger é de 1999, mas já era sucessor do ICQ e vários sistemas da própria Microsoft e passou por diversas versões até ser desativado em 2013, sendo “substituído” pelo Skype, que havia sido criado em 2003, fora adquirido pela eBayem 2005 e revendido para a Microsoft em 2011. Microsoft que criou o Bing em 2009 para competir com o serviço de searching do Google, mas, apesar de ser outro gigante do setor, continua a ter apenas um terço do volume de tráfego do líder.

No caso dos apps de mensagens, vale destacar que o WhatsApp, de 2010, foi comprado pelo Facebook, e que o Google, por sua vez, tem dificuldade de se estabelecer com força nesse campo e lançou o Hangoutem 2013 e o Allo agora em 2016 – que todos estão enfrentando um perigoso inimigo, o Telegram, no ar desde 2013. E ainda não entraram para valer no campo da competição global as empresas digitais chinesas e indianas – países que somam 2,6 bilhões dos 7 bilhões de habitantes do planeta, onde está o maior potencial de crescimento de mercado nas próximas décadas.