Meses atrás, escrevi um artigo, publicado aqui mesmo, nesta coluna, cujo título era Faltam Walt Disneys no Brasil. Aquele artigo foi escrito logo após eu ter feito uma visita técnica ao complexo Disney, em Orlando.

E eu, ainda sob o efeito da grandiosidade do complexo Disney, lamentava não ver inciativas comparáveis no Brasil. Queimei a língua.

Na semana passada, tive a oportunidade de conhecer o Beach Park, um megaempreendimento plantado no Ceará. O local não é tão inusitado assim, já que a região, a 17 km de Fortaleza, é cercada por belas praias, mas a iniciativa é pra lá de ousada. Comparável àquela do nome mais famoso nesse campo dos parques: Walt Disney.

Depois de inaugurar seu parque na Califórnia, Disney não se acomodou e plantou um novo complexo megalômano numa área pantanosa da Flórida, à época um local inóspito para construções e, por isso, muito barato.

O baixo custo e o clima agradável foram determinantes para a decisão de Disney. No caso do Beach Park, a história foi diferente. Começa com um grande proprietário de terras na região do Porto das Dunas, em Aquiraz, próxima a Fortaleza.

Para vender seus terrenos nessa área, ele levava potenciais compradores a visitar o local. Como nada havia por lá, faltava um local de suporte para as visitas (banheiro, descanso, água…). Para suprir essa necessidade, ele construiu uma grande barraca junto à praia.

A barraca, muito bem equipada, começou a prestar serviços de bar e passou a atrair visitantes, nem sempre interessados em comprar terrenos, mas simplesmente para curtir o local.

Vendo esse movimento aumentar, o empreendedor construiu dois toboáguas junto à barraca. Daí para pensar num empreendimento mais ambicioso, foi um pulo. O resultado dessa visão empreendedora, hoje, é impressionante.

Mais de 30 anos depois, o que vemos agora é um complexo de 160 mil metros quadrados com três resorts e um hotel, além de uma vila de convivência, com lojas e bares. Tudo isso gravitando em torno de um parque que está entre os cinco melhores do mundo. É claro que não foi só uma ideia.

O sucesso veio com uma administração profissional, que tem como benchmark os principais parques do mundo. E isso é perceptível a todos os frequentadores, na sua maioria brasileiros (os estrangeiros representam menos de 10% dos usuários), que ficam encantados com a estrutura e a administração competente. E os empreendedores não param. Eles têm rádio, TV e revista próprios. Têm até um estúdio de animação próprio.

Para suprir a falta de alternativas de entretenimento noturno, criaram um teatro próprio, que apresenta um belo espetáculo musical, o Ceará Show, e ainda criaram uma linha de produtos baseada nos personagens da Turma do Beach Park.

O Beach Park é um exemplo de aproveitamento de recursos abundantes no Brasil: praia, clima agradável o ano inteiro, gente hospitaleira e rica cultura. Mas só aproveita bem esses recursos quem tem iniciativa e visão empreendedora.

E isso não faltou aos empreendedores do Beach Park, que também não fizeram concessões no campo do profissionalismo e eficiência administrativa. Uma iniciativa que beneficia toda a região de Fortaleza, já que o turismo intensivo impulsiona a economia e gera empregos.

Tenho certeza que outros empreendedores apareceriam com um impulso governamental, mas, infelizmente, não vemos uma iniciativa séria do governo no sentido de estimular o turismo no Brasil.

Ao contrário, a escolha de ministros para essa área é baseada unicamente em acomodações políticas, o que vem gerando um abandono desse setor tão importante para o desenvolvimento do país.

Por isso, nos encantamos com empreendedores como esses cabras da peste da mulesta, que não entregam a rapadura e pelejam contra toda a adversidade e fazem acontecer.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)