A democracia foi o tema-central do primeiro painel da edição deste ano do Fórum de Comandatuba, realizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais) neste domingo (19) e que acontece no Hotel Transamérica, na Ilha de Comandatuba, na Bahia. No painel “O papel dos líderes no desenvolvimento econômico e social na América Latina”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou que um dos principais desafios é a redemocratização.

 

“Nós queremos sempre mais, mais democracia, mais integração e que ela seja menos burocrática”, diz. “E, para que isso aconteça de fato, precisamos cantar em um único coro”, completa.

 

A educação, que também foi discutida durante esse primeiro painel, também foi comentada pelo ex-presidente. “Nós falamos bastante em educação e chegamos a conclusão de que a educação é antiquada. Mas o governo também é antiquado”, enfatiza.

 

FHC traçou um paralelo da atual situação do país com a Europa do século 19. “Na Europa, a democracia visa oferecer à população a mesma situação que a classe média tinha”, destaca. A liderança e o crescimento também foram assuntos abordados durante a palestra de FHC aos convidados do fórum. “Nossas lideranças fazem escolhas que, muitas vezes, não podem ser ditas abertamente”, afirma. Mesmo assim, Cardoso destacou que “nada em um país acontece sem uma liderança”. “Mas a grande dificuldade de um líder sempre será a escolha”, ressalta.

 

Já em relação ao crescimento, o ex-presidente foi taxativo e garantiu que a forma de crescimento mudou. “Acredito que a América Latina ainda não entendeu que crescer apenas não é suficiente, é preciso crescer respeitando o meio ambiente”, enfatiza.

 

Impeachment
Um possível pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) também foi assunto durante o fórum. “O impeachment não pode ser uma tese e isso cabe a justiça decidir, não existe nada que incrimine a presidente”, diz.

 

Ele, no entanto, lembrou-se da democracia, quando perguntado sobre um possível impedimento da petista. “Discutimos a democracia aqui hoje e, com base nisso, temos que tomar cuidado para que nada aconteça fora dela (da democracia)”, afirma.

 

Mercosul
Jorge Quiroga, presidente da Bolívia de 2001 a 2002, garantiu, em sua fala, que não existe integração no Mercosul. “A única integração que existe e que eu vejo acontece na equipe do Barcelona entre Messi e Neymar”, brinca.

 

Além disso, Quiroga elogiou a atitude do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Eu consigo enxergar uma iniciativa do Obama para a América Latina”, diz. Como exemplo, ele citou o término do embargo à Cuba.

 

Já Vicente Fox, ex-presidente do México, defendeu o papel dos empresários na economia de um país. “Vejo os empresários sentando no banco de trás de um carro que é dirigido pelos governantes”, diz. O empresário, ressaltou Fox, é o responsável por gerar as riquezas de um país. “E cabe aos governantes o papel de facilitar a vida do empresariado para que essas riquezas sejam concebidas”, diz.

 

Em relação à democracia, Fox, que presidiu o México de 2000 a 2006, disse que “a América Latina chegou tarde”. “Nossas democracias precisam ser mais eficientes e a população precisa ser mais exigente com que a governa”, ressalta. Para que isso aconteça, o caminho é único. “Precisamos investir na educação, não existe outro caminho”, salienta o mexicano.

 

Incentivo
O tom do discurso de Luís Alberto Lacalle, ex-presidente uruguaio, foi de incentivo ao mundo empresarial. Para ele, todos os empresários deveriam ter uma experiência pública. “A grande diferença entre comandar uma empresa e um país, por exemplo, é que, neste segundo, você precisa respeitar a Constituição”, diz.

 

Lacalle classificou como uma “obrigação cívica” um empresário entrar na política. “Cabe aos empresários estreitar a relação com os governantes, de ficar mais próximos para discutir os próximos anos de um país”, conclui.

O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, não pode comparecer ao Fórum de Comandatuba.