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Mais fácil perguntar o que não me inspira. Para o curioso, todo estímulo é um convite. Vejamos se consigo editar uma pequena seleção daquilo que coloca minha mente em movimento.

A Andaluzia. Apesar do nome italiano, sou igualmente descendente de espanhóis. A Itália é linda por combinar a beleza natural com a maestria humana; é sobre harmonia. A Andaluzia é a vitória da paixão sobre a aridez. É sobre conquista. Um mosaico multicolorido de pequenas peças deixadas pelos muitos de seus heróis. Das luzes binárias de Goya ao paladar dualista do Jerez, tudo nos conecta a um mundo de histórias incríveis e possibilidades.

Sintetizadores. Sou apaixonado pelas teclas. Toco piano. Note que eu não disse que sei tocar. Tenho uma fascinação especial pelos Roland, Moog, Korg, Yamaha, Prophetetc das décadas de 1970 e 1980 – semibrinquedos onde artistas progressivos, como Kraftwerk e Jarre, orquestravam composições engenhosas com roncos que eram ao mesmo tempo futuristas e primais.

Dave Matthews. Quem nunca se perguntou como teria sido a vida caso tivéssemos tomado outras decisões? Eu poderia ter sido astronauta. Consigo quantificar todo estudo e sacrifício necessários para ser considerado pelo programa espacial. Também poderia jogar futebol. Bastava ter seguido os conselhos do vô Zé e ter continuado na escolinha do Palmeiras, aos seis anos de idade. Já o Dave Matthews é outra história. Eu não sei como ele chegou lá.

TwoStep só pode ser a prova de que civilizações avançadas conseguiram criar a máquina do tempo e, depois de séculos procurando a cadência perfeita, voltaram para gravá-la em 1997. Bartender certamente é a trilha que toca no elevador que nos leva até São Pedro. E Sister me faz escrever imediatamente para a Carla, minha irmã, toda vez que a ouço. Não faço ideia de como ele faz isso. Dave Matthews domina a sua arte de uma forma que não acredito que serei capaz de dominar nada nesta existência.

Fabrício Corsaletti. Mais precisamente a matemática de seus versos dissimuladamente ordeiros; a informalidade com a qual escala os diversos níveis de abstração da língua portuguesa criando imagens complexas e cheias de detalhes em poucas palavras. Seu poema Braços diz: “seus braços são a única coisa do mundo/sem morte”.

Louis C.K. Inteligência em geral é sempre uma inspiração. Infelizmente nem toda inteligência da atualidade está direcionada para o bem. A do sr. Székely está voltada para um dos mais nobres motivos: o humor. Usando apenas 24 palavras, Louis estabelece a premissa maravilhosa que descreve o passatempo seu e de sua filha caçula: “A pirralha saca como o jogo funciona, mas não está emocionalmente preparada para lidar com sua inevitável derrota em toda partida de Banco Imobiliário.” A conduta paterna heterodoxa e competitiva não me parece apropriada, mas não deixa de ser hilária.

Paul Rand. O primeiro grande diretor de arte da publicidade. Um iconoclasta que libertou o design gráfico e provou que os mundos da arte e dos negócios podem conviver se impulsionando mutuamente. Quando Steve Jobs encomendou a identidade gráfica da Next, Rand disse: “primeiro você me paga e, depois, no meu tempo, voltarei com uma proposta que você pode ou não usar… Você decide”. Um dos meus favoritos, o trabalho continua atual mesmo depois de 31 anos.

The Meaningof Life. Em 1988, os editores da revista Life perguntaram para as 300 mentes mais sábias da época qual era o sentido da vida. Célebres autores, atores, artistas, líderes espirituais globais, agricultores, barbeiros, mães de família etc. responderam à questão e, em 1991, o resultado foi compilado, juntamente com uma seleção de fotografias notáveis em preto e branco dos arquivos da revista. De tempos em tempos, quando sinto que a vida precisa de ar, releio algum trecho do livro. Uma das minhas respostas preferidas é a do açougueiro Carmine Pucci: “O sentido da vida é chegar em casa com o peixe em vez de outra história de pescador.”

Domênico Massareto é chief creative officer da Publicis