Rio+20, cooperação global, estímulo a atitudes individuais de sustentabilidade, integração entre governos, ONGs e demais organizações da sociedade e, principalmente, maior participação da iniciativa privada foram os principais assuntos da terceira edição do Fórum Mundial de Sustentabilidade, realizado entre os últimos dias 22 e 24, em Manaus. O encontro contou com cerca de 900 participantes e apresentações de líderes ambientalistas, diplomatas, políticos, empresários e cientistas.

Uma das principais lições do encontro é a de que o pragmatismo precisa superar as divergências. Diante da complexa cadeia de problemas no ecossistema, da absurda falta de educação de quem simplesmente não joga lixo no lixo aos riscos da energia nuclear, é hora de ação. Mesmo diante da diferença conceitual no discurso de direitistas, inovadores, criativos, radicais, neutros, moderados, equilibrados, estressados ou moralistas, o momento é de superar a falta de consenso.

O fórum foi aberto com uma saudação do governador do Amazonas, Omar Aziz. Ele abordou divergências entre preservação da natureza e política de sustentabilidade, destacando que encontros como o de Manaus só têm importância quando de fato apresentam propostas viáveis de sustentabilidade. “Esperamos propostas pra quem vive na floresta e depende dela para sobreviver”, pediu Aziz. Enfático, o governador também fez críticas à organização da Rio+20, a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre desenvolvimento sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro, entre os próximos dias 13 e 22 de junho. Aziz associou a importância da região amazônica no contexto ambiental global e reclamou que “até agora, a poucos meses do evento, não perguntaram para a gente do Amazonas, do Pará ou de Rondônia sobre a nossa posição (sobre a Rio+20)”. “Não pode ser uma discussão de cima para baixo”, disse Aziz.

Otimismo

Um exemplo de quem acredita na transposição das divergências é a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, uma das palestrantes em Manaus. Bastante aplaudida, antes e depois de sua apresentação, ela mostrou uma visão otimista em torno da realidade ambiental. Médica, diplomata e especialista em meio ambiente, Gro comparou a época em que esteve no Brasil, pela primeira vez, há 25 anos, com os dias atuais. Ele destacou a cidade de Cubatão, no litoral paulista, que “já representou um grande perigo” e as melhorias que o município apresenta hoje. Ela também apontou “evolução” na preservação da floresta amazônica e ressaltou avanços na diminuição da pobreza em termos mundiais. “Não é por falta de consenso que devemos deixar de nos esforçar em busca de soluções para melhorar o meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas”, disse Gro.

Sobre a Rio +20, a ex-primeira-ministra da Noruega afirmou esperar que o encontro atenda as expectativas da comunidade internacional não alcançadas anteriormente. Ela fez referência à COP-15, conferência realizada em Copenhague, no final de 2009, considerada um fracasso em termos de definição e avanço de políticas globais para o meio ambiente. “O mundo precisa superar as dificuldades de negociação em bloco durante a Rio+20”, pediu Gro. A norueguesa também alertou sobre os riscos ambientais nos processos de exploração ligados ao setor petrolífero da camada pré-sal no Brasil. Segundo ela, as perfurações em mar aberto já provocaram muitos problemas nas últimas décadas. Ela ressaltou que a Noruega tem experiência e conhecimento dessa tecnologia e pode oferecer consultoria para a preservação do meio ambiente.

Pragmático

Já o francês Brice Lelonde, da ONU, diretor executivo da Rio+20 e uma das principais atrações da programação do Fórum Mundial de Sustentabilidade, foi um exemplo de pragmatismo. Gesticulando muito, ele começou sua apresentação relativamente defensivo, mas deixou bem claro que o meio ambiente precisa de ações essencialmente práticas tanto no nível individual dos cidadãos quanto nas questões governamentais e empresariais. Lelonde fez questão de dizer: “Não sou o diretor da Rio+20. Sou o coordenador”, intitulou-se. Os diretores da conferência, segundo ele, serão os representantes dos 193 países que estarão reunidos no encontro de junho.

O francês ressaltou que não se pode esperar da Rio+20 um “palco de negociações governamentais”. “As ações governamentais são muito lentas”, criticou, ressaltando que rapidez e praticidade são fundamentais na proposta de soluções para o meio ambiente. Lelonde afirma, por exemplo, que dentro de 15 anos poderá faltar água no mundo. “O que você está fazendo para isso? O que estamos fazendo? Como estamos nos organizando para a falta de água, de comida ou de energia?”.

Lelonde também destacou que a maioria dos países está, nesta fase de preparativos, realizando discussões para finalizar o que seria o “rascunho” da declaração que será o documento oficial da Rio+20. Além da declaração, ele diz que o encontro é importante para integração e comprometimento. “Não venha para a Rio+20 se você não tiver um compromisso”. A integração à qual ele se refere envolve o governo, a sociedade e as empresas. O diretor da ONU salientou que o nome da conferência no Rio, ao contrário do que muitos associam, não tem a ver com a Eco 92, realizada há exatos 20 anos. “A Rio+20 significa os próximos 20 anos e não os anos que ficaram para trás”. Ele também afirmou que a Rio+20 representa uma grande oportunidade para o Brasil. “A grande verdade é que não existe uma liderança internacional na questão ambiental. Essa é uma chance para o Brasil”.

Workshops

Além de palestras, o Fórum Mundial de Sustentabilidade contou com workshops temáticos, que foram desenvolvidos na última sexta-feira (23). Os temas foram “Cadeia de fornecimento”, “Universalização do saneamento”, “Empresas responsáveis, consumo sustentável”, “Sustentabilidade e a indústria da construção civil no Brasil” e “Estratégias para valorizar os produtos da floresta”. A programação também contou com apresentações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do ex-primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin, de Kumi Naidoo (Greenpeace), Alexandre Turra (USP), Roberto Klabin (SOS Mata Atlântica), Nizan Guanaes (Grupo ABC), Oskar Metsavaht (Osklent) e do líder indigenista Almir Suruí, entre outros. Houve ainda a entrega do Prêmio Lide Sustentabilidade 2012 às empresas Bradesco, Coca-Cola, Natura, O Boticário e Unilever.

O Fórum Mundial de Sustentabilidade foi organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), presidido pelo empresário João Doria Jr., com realização da XYZ Live. Houve patrocínio da Ambev, Bradesco e Coca-Cola, e apoio de Goodyear, Natura, Sabesp e Videolar. Outras 30 empresas também tiveram suas marcas associadas ao evento.