Dia Internacional da Mulher

Mulheres reais, carismáticas e com aparências menos estereotipadas podem ser um novo caminho para que anunciantes cativem consumidores em suas campanhas. Algumas personalidades fazem mais sucesso que outras, muitas vezes, associado ao buzz que geram nas redes sociais, poderosas armas de promoção e relacionamento com o público.

A discussão envolve uma dicotomia entre a realidade e a fantasia, explica Maria Lucia Homem, professora da Faculdade de Comunicação e Marketing da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). “É um sonho daquilo que se quer ser do que realmente é. E essa indústria do ideal é muito cara e gera alto capital. Isso é algo insano, porque você brinca de viver, achando chata a realidade e construindo um mundo à parte, muito sofrido e custoso para atingir os padrões muitas vezes inatingíveis”, explica Maria Lucia.

O que acontece, segundo a professora, é que as pessoas continuam fantasiando, mas estão mais críticas em relação ao mundo criado. “Por isso, é possível que a humanidade esteja caminhando para um paradigma mais próximo da realidade, da natureza, do que simplesmente é”.

As redes sociais possibilitam que padrões de beleza sejam colocados em xeque, abrindo para discussões livres e despadronizadas dos modelos impostos pela mídia convencional. Murilo Oliveira, sócio-fundador da iFruit, focada em celebrity branded content, destaca que a busca pelo real ocorre porque a mulher está se aceitando como ela é.

Recentemente, a grife de roupas Diesel trouxe a primeira modelo com vitiligo da história para promover a tolerância, a igualdade e o amor incondicional em sua campanha primavera/verão 2015. Winnie Harlow participou do America’s Top Model e já realizou diversas campanhas, provando que as manchas em sua pele não a tornam menos bonita.

Peças da campanha Primavera/Verão 2015 da grife Diesel

“O padrão de beleza não deve estar no que a mídia impõe, mas dentro de cada uma. Existe um movimento em que as mulheres não querem mais agradar nem a sociedade e nem aos homens, mas a elas mesmas”, reflete Oliveira.

No começo de 2015, a agência Milk Management, de Londres, fechou o maior contrato já feito com uma modelo plus size. Tess Holliday tem 1,65m de altura, numeração 58 e é a única modelo agenciada com essas medidas. A norte-americana já postava fotos e investia nas redes sociais para promover seu segmento. De acordo com a revista People, a diretora da agência, Anna Shillinglaw, percebeu a penetração de Tess no Instagram e que ela tinha mais seguidores que as modelos convencionais.

Tess Holliday assinou contrato com a agência Milk Management, de Londres

Por terem como principal canal as redes sociais, Oliveira destaca que a autenticidade das ‘queridinhas’ dos anunciantes é o fator decisivo para serem escolhidas para as campanhas.  “As redes sociais são um grande termômetro sobre quem está em uma boa fase da carreira e também como o público recebe a imagem e as ações dessas mulheres”, completa o fundador da iFruit.

Vera Kopp, ex-modelo e criadora da plataforma digital InCast, especializada em casting no setor de entretenimento, também concorda com a repercussão online. “Um quesito importante hoje é a quantidade de seguidores que as garotas-propaganda têm nas redes sociais. Além de representar a marca como uma espécie de embaixadora, ela precisa ser uma influenciadora”, explica.

Rodrigo Ferrari, diretor de RTV da agência Africa, afirma que há muito tempo o carisma já é mais importante do que a beleza física. As mulheres que têm ‘brilho no olhar’ não precisam ser perfeitas e idealizadas. No cinema norte-americano, segundo ele, a beleza atingível e menos ideal tomou o lugar de mulheres inatingíveis.

Ferrari destaca, também, que o perfil de cada pessoa determina o estilo de mensagem e campanha. Sabrina Sato é apontada por ele como uma figura muito procurada pelas marcas, pois se vende em cima de um personagem que traz um humor natural para as campanhas. Assim como Tatá Werneck e Fernanda Torres, detentoras de muito carisma e geradoras de ótimos resultados nas ações.

“É importante trabalhar com o lado humano sem ser sexista. É bacana a mulher ser interessante, descolada, sem apelar para a imagem da ‘mulher gostosa’. Apostamos na personalidade”, conclui Ferrari.