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Como tratar a maior paixão nacional, o futebol, de forma que consiga ele assegurar a saúde financeira dos clubes, a transparência na gestão, o desempenho qualificado das equipes, a felicidade das torcidas e as melhores referências no ranking internacional?

Entre as possíveis respostas e abordagens, ganham ênfase nesse momento em que o futebol enfrenta uma das maiores crises de sua história, os valores da transparência e um novo modelo de governança com foco na modernização e racionalidade das estruturas, na segurança e na harmonia de todos os parceiros que integram a cadeia futebolística.  

Esta reconfiguração leva em conta uma hipótese que ganha adeptos em muitos países: o futebol constitui um dos maiores empreendimentos do planeta, abrindo oportunidades em uma infinidade de áreas, empregando milhares de pessoas e gerando bilhões de dólares. Nessa condição, carece de um sistema de gestão condizente com seu porte e capaz de resgatar a credibilidade de dirigentes, patrocinadores, promotores, associações, ligas e clubes. Isso é perfeitamente viável, principalmente em países de profunda cultura futebolística, alguns considerados celeiros de craques, como o Brasil, o maior deles, aliás.

O futebol é uma indústria que, segundo dados de um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas, movimenta no mundo US$ 250 bilhões, com 300 mil empregos diretos, cerca de 600 mil participantes, mais de 500 clubes profissionais e milhares de estádios em todos os continentes. No Brasil, mesmo sendo a paixão número um do país, engajando mais de 150 milhões de torcedores, não alcançamos nem 2% do apurado global com o esporte. Este fato, por si só, diz muito a respeito do modo de gerir o futebol. Portanto, o momento de crise que a atividade atravessa pode ser a oportunidade sui generis para refazermos a equação capaz de manter a chama viva nos estádios: a relação entre clube e torcedor. Como fazer isso?

A resposta aponta, primeiro, para a necessidade de profissionalização da administração dos clubes, fator imprescindível para um horizonte de seriedade, transparência e maior engajamento de clubes e jogadores no processo decisório. Essa é a receita para gerar bons resultados nas competições nacionais e internacionais. O momento vivido pelo futebol sugere redimensionar todos os eixos de sua cadeia e eliminar vícios históricos que atrapalham seu desenvolvimento. 

É preciso impulsionar os fatores que compõem a cadeia do futebol e integram os dois mercados responsáveis pelo sucesso/insucesso dessa indústria, nos termos descritos por  Marvio Pereira Leoncini e Marcia Terra da Silva, em estudo exploratório sobre o “futebol como negócio”, apresentado na FGV: o mercado produtor e o mercado consumidor, reunindo no primeiro, os clubes, as federações, as ligas, as empresas de serviços e de marketing; e no segundo, integrado pelos torcedores, os consumidores finais. O produto central da cadeia é o jogo de futebol e o desafio que se impõe aos produtores é o de torná-lo mais atrativo, mais competitivo e rentável, de forma a garantir a dinâmica da evolução dos times e, assim, expandir as torcidas. Ora, a gestão profissional se faz absolutamente necessária para se alcançar esta meta. Por que os clubes brasileiros exibem performance financeira inferior à dos europeus? As respostas são óbvias.

Vejamos algumas sugestões. A primeira é a criação de um pacto a favor do futebol e de outros esportes, com a participação de organizações de todas as modalidades, em conjunto com a ONG Atletas pelo Brasil e outras instituições com propostas construtivas. O LIDE, Grupo de Líderes Empresariais, promoveu encontros, cujo foco foi a integração de todos os setores esportivos, sob o mote de que o esporte educa, envolve, agrega e motiva. É preciso adotar um modelo de governança capaz de promover a sustentabilidade da atividade futebolística, a partir do engajamento crescente de torcedores na vida dos clubes.

Uma das mais aplaudidas teses, a motivar debates entre empresários, dirigentes, atletas, técnicos e torcedores, defendeu maior participação das bases no processo decisório. A ideia de democratizar as decisões se orienta pela necessidade de maior engajamento de todos na vida do clube, fundamental para maximizar o desempenho dos times, organizar a agenda de competições, estabelecer climas saudáveis entre as entidades, a par da melhoria dos serviços que integram o mercado: negociações de jogadores, vendas de direitos de transmissão, comercialização de patrocínios, licenciamento e franquias. A mesma tese pode se adaptar à CBF, na qualidade de célula maior do futebol brasileiro.

Para alcançar sucesso como indústria, o futebol carece de cooperação entre os clubes, uma vez que todos eles são responsáveis pelo sucesso do empreendimento, situação que difere, portanto, de outras cadeias produtivas. Cada clube deve idealizar os meios para melhorar sua competitividade, investir na formação esportiva e elevar a qualidade de seus elencos. Cooperação, planejamento, maximização dos ingredientes que entram na composição do espetáculo, controle de gastos com salários e equipes e aumento de faturamento, planejamento e transparência. É uma fórmula do bem. Embora simples para qualquer empresa, não é seguida no futebol.  Eis alguns dados compilados pela área de crédito de um grande banco: as receitas dos clubes de futebol cresceram apenas 9% em 2013, após três anos de altas expressivas, enquanto as dívidas aumentaram 22%, ou R$ 681 milhões.  São números que refletem a frágil saúde financeira dos clubes.

Na margem das questões centrais, devemos atentar para os elementos que dão sustentação ao incremento dos esportes, a partir do futebol. Lembramos três metas globais: aumentar a atividade física da população, permitir que as escolas ofereçam esporte de qualidade e formar um sistema nacional de esporte. Vale lembrar que 30% das escolas atualmente não dispõem sequer de professor de educação física. Essa é a terrível estatística que exibe a distância entre uma população ligada emocionalmente ao futebol e os primeiros pilares da formação do esportista. 

Se quisermos avançar, o momento é propício.

 

*Empresário e jornalista, é presidente do LIDE (Grupo de Líderes Empresariais) e chefiou a delegação da Seleção Brasileira na Copa América 2015