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Publicidade e cinema sempre foram áreas com grande afinidade. Na era do conteúdo multiplataforma, tornam-se ainda mais simbióticas. O Rio Market, área de negócios do Festival de Cinema do Rio, dedicou um dia à propaganda, quando publicitários tiveram a chance de contar suas trajetórias em direção ao cinema (e vice-versa) e falar de marcas e conteúdo.

No encontro, o bate-papo com os profissionais que deixaram a propaganda pelo cinema – ou o contrário -, ficou claro que a experiência em propaganda dá a diretores uma dimensão de padrão de qualidade e capacitação técnica única.

“O cinema está se reinventando. O break publicitário está com os dias contados. A TV, antes renegada ao segundo plano, hoje causa inveja ao cinema. Há muita gente migrando de uma área para outra e é preciso quebrar barreiras, acabar com os estrelismos, melhorar o mercado de produção, trabalhar juntos com humildade. Estamos, todos, no negócios do entretenimento e atrasados na produção audiovisual, pois temos um mercado gigantesco. Não falamos mais de audiência, contabilizamos views. Não falamos mais de cinema ou TV, mas de conteúdo, e as referências vêm de diversos lugares. É preciso conectar as áreas, até porque o cinema precisa do dinheiro da propaganda”, disse Adilson Xavier, que mediou o bate-papo sobre o tema na semana passada. Ele construiu a sua carreira na publicidade, tornou-se escritor e migrou para os roteiros para televisão e cinema, como sócio, diretor-executivo e CEO da produtora Zola.

João Daniel Tikhomiroff, fundador e sócio-diretor da Mixer, transitou entre o cinema e a publicidade ao longo de toda a sua carreira, e hoje consolida sua atuação também na área de séries televisivas. Assinou em 2009 o longa Besouro e no fim do ano lança Os Saltimbancos Trapalhões: rumo a Hollywood, dirigido por ele com roteiro e adaptação de Mauro Lima.

Tikhomiroff lembrou como os diretores de cinema dirigiram ou continuam dirigindo trabalhos para publicidade como Ingmar Bergman, David Fincher, Ridley Scott, Jean Pierre Jeunet, Spike Jonze, Spike Lee, Sofia Coppola e Inarritu, entre muitos outros. “Cinema é paixão”, destacou.

E para quem viveu ou vive a publicidade e as demais áreas, é claro que a relação entre o conteúdo e as marcas tem muito a evoluir. Tikhomiroff acredita que o product placement no cinema e na TV, por exemplo, tem muito a evoluir, pois há muitas barreiras para que ele seja realizado de maneira interessante no Brasil.

 

Na primeira temporada de House of Cards (Netflix) houve nada menos que 164 inserções de produtos sutis e inteligentes. Aqui no Brasil a visão ainda é retrógrada, pois empresários e diretores de marketing só consideram hoje vincular seus produtos e marca a personagens com comportamento íntegro, de ‘boa índole’. Não veríamos produtos nas mãos de um Frank Underwood brasileiro, por exemplo. O mercado americano está muito mais à frente nesta questão. Precisamos evoluir o olhar para isso, ser mais contemporâneo, opinou Tikhomiroff.

Afonso Poyart, sócio e diretor da Black Maria Filme Vídeo Digital, anda mergulhado no cinema e afirma que aprendeu um bocado com a publicidade, um mercado exigente e de pessoas brilhantes.
Investiu no primeiro longa, Dois Coelhos, foi convidado para filmar em Hollywood – experiência que ele descreve como um pouco traumática e cujo resultado, Solace, com Anthony Hopkins e Collin Farrell, será lançado em dezembro nos EUA – e lançou neste ano um longa sobre o ex-lutador de MMA José Aldo.

Na primeira temporada de House of Cards (Netflix) houve nada menos que 164 inserções de produtos sutis e inteligentes. Aqui no Brasil a visão ainda é retrógrada, pois empresários e diretores de marketing só consideram hoje vincular seus produtos e marca a personagens com comportamento íntegro, de ‘boa índole’. Não veríamos produtos nas mãos de um Frank Underwood brasileiro, por exemplo. O mercado americano está muito mais à frente nesta questão. Precisamos evoluir o olhar para isso, ser mais contemporâneo”.