“Estamos vivendo tempos de crise. É fato. E é fato também que fazia muito tempo que não ouvíamos a expressão ‘tempos de crise’. No Brasil, em especial, estávamos desacostumados, para ser bem objetivo. A situação ficou estável. Tão estável que, ultimamente, tudo caminhava sozinho, em ritmo quase que automático. Vimos pessoas ascendendo de classe, milhões para ser sincero, e, com isso, novas oportunidades de consumo para novos e nem tão novos mercados. O consumo passou a ser, finalmente, venerado. Sem moralismo, sem preconceito. Os mercados agradeciam.

Porém, a dona crise chegou, bateu na porta e pegou muita gente desprevenida. Sem nenhum tipo de treino diante dessa nova velha conhecida. A grande maioria dos profissionais estava fora de forma. Alguns, por conta da idade, nem tinham ouvido falar dessa tal de crise. Agências e anunciantes, especificamente, tiveram que rever sua forma de atuação, pois exige-se muito mais dos dois lados. Exige-se estratégias bem definidas, com conhecimento e relevância, para dar um novo norte às ações e responder com ênfase aos novos tempos. Não só ao tempo de crise, mas a algo que estava um pouco relegado em função do ritmo acelerado do consumo no Brasil: um período de transformação mundial.

Os novos tempos, em especial os últimos 20 anos no mundo, vieram com grandes e profundas transformações sociais e culturais. Algumas ainda em contínuo estado de mudança. É um mundo em constante estado de transformação. É o mundo líquido que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman nos alertou. Um mundo sem um norte definido, sem um padrão estabelecido, como apontou outro pensador contemporâneo, o filósofo francês Luc Ferry. Mudanças nos padrões culturais e sociais que nos guiaram até aqui perderam o sentido. Saímos do padrão social e cultural vertical para o padrão totalmente horizontal de sociedade. Uma sociedade fragmentada, não no sentido da decadência, mas de um mosaico pós-moderno onde cada um, embora juntos, constrói seu próprio padrão e sua própria lógica de ator social e de consumo.

Particularmente, acredito que, diante deste mundo de transformações, do Bauman e do Ferry, onde nosso país está inserido, lógico, e diante da crise econômica que estamos vivendo, as agências, aquelas de verdade, ou como citou Nizan Guanaes, aquelas que não são Tubaínas, se sairão melhor e ganharão mais e mais espaço. Entendimento dessa nova sociedade e, consequentemente, do comportamento desse consumidor contemporâneo, além da capacidade de respostas criativas a situações complexas, resultarão em oportunidade para as agências e profissionais que não pararam no tempo e não foram pegos desprevenidos diante das transformações e da crise brasileira.

É a vez da relevância, que se apresenta em forma de fenômenos tão contemporâneos e desafiadores como a transformação e a crise. Basta aproveitar.”

*Diretor associado da unidade do Rio de Janeiro da Giacometti Comunicação