Galvão e Play9 firmaram parceria até 2026 que focará na criação de produtos de conteúdo e branded content

Com contrato até 31 de dezembro deste ano com a Globo, Galvão Bueno já tem traçado o seu plano para os próximos quatros anos. A próxima parada de um dos principais narradores esportivos do Brasil será a Play9, estúdio de conteúdo fundado pelo youtuber Felipe Neto e pelo empreendedor digital e ex-Globo João Pedro Paes Leme.

O objetivo da parceria, que começa agora e seguirá até 2026, é criar produtos de conteúdo e branded content recorrentes e sazonais nas mais diversas plataformas. A Play9, por sua vez, planeja o crescimento da presença de Galvão em todas as plataformas digitais, inclusive aquelas em que ainda não atua, como o YouTube e a Twitch, por exemplo.

Nesta entrevista exclusiva ao PROPMARK, Galvão Bueno fala do que espera para essa nova etapa de sua carreira, das mudanças que presenciou na TV brasileira, dos planos de acompanhar mais de perto a vindima da Bueno Wines e dos momentos mais marcantes como narrador.

Quais são os seus planos para assim que deixar a emissora?
Meu contrato com a Rede Globo vai até o dia 31 de dezembro, mas meu principal compromisso é até o dia 18 de dezembro, com a final da Copa do Mundo. Depois, quero três meses para me organizar. No primeiro mês, pretendo rodar um pouco pelo mundo como sempre fiz. Nos outros dois meses – fevereiro e março –  vou acompanhar,  de forma mais dedicada, a vindima da Bueno Wines. O que não quer dizer que não possa trabalhar durante esse período. Mas a partir daí vou começar uma nova vida. É como eu tenho dito sempre: viro uma página, mas não fecho o livro. Realmente não sei viver sem trabalhar, tenho novos projetos e desafios. Um deles é mergulhar realmente de cabeça nesse novo mundo digital. Talvez criar coisas novas no mundo digital, porque eu não gostaria de fazer a mesma coisa que outros já fazem. Quero fazer uma transposição minha da TV aberta –que foi a minha casa por quase 49 anos – e fazer diferente do que já vem sendo feito.

O que esperar da sua parceria com a Play9?
A Play9 é uma empresa vitoriosa, criada por um amigo e grande parceiro de trabalho de muitos anos.  O João Pedro Paes Leme está entre os profissionais que me orgulham muito, que são os repórteres que passaram pela Fórmula 1 trabalhando comigo e com o Reginaldo Leme. Eles chegaram muito novos por lá e  aquilo os ajudou muito a se formarem como profissionais de comunicação e de televisão. E os nomes são muito expressivos, como Roberto Cabrini, Marcos Uchôa,  o próprio João Pedro, Pedro Bassan e outros que entraram na sequência. E todos viraram grandes personagens da televisão brasileira nas suas áreas. Conheço o João Pedro desde essa época e ele construiu uma carreira belíssima até ser meu diretor na Globo. E em pouco tempo, ele conseguiu realizar um trabalho muito importante nesse novo mundo das comunicações. “Play” vem de jogar mesmo. E o “9” simboliza algo que eu admiro muito, que é o “renascimento”, que pode significar superação e renovação. Então, a minha parceria com a Play 9 já parte de um lugar muito bacana desde o nome: jogar para renascer; fazer para renascer. A estrutura que o João Pedro montou é realmente impressionante, com grandes profissionais. Vamos nos dar muito bem nesse novo desafio, como sempre fizemos em todos os anos de televisão.

Outros jornalistas e apresentadores, inclusive da Globo, deixaram a TV para apostar na carreira de influencer. Ivan Moré e Tino Marcos são alguns exemplos. Na sua opinião, o que tem contribuído para esse movimento?
O Tino Marcos é um dos meus grandes parceiros. Tenho grandes parceiros em televisão que eu destaco  pela longevidade e pela proximidade: Reginaldo Leme, por toda a história na Fórmula 1; o Arnaldo Cézar Coelho, por praticamente 30 anos juntos formando a dupla possivelmente de maior repercussão e sucesso em esporte na televisão brasileira; e o Tino Marcos, de tantas e tantas copas do mundo e jogos do Brasil. Eu sempre digo que ele tem uma capacidade única de em uma Copa do Mundo fazer 45 reportagens criativas e interessantes para o Jornal Nacional todos os dias. Além das brincadeiras do “Galvão? Diga lá, Tino! Sentiu!”, ele sempre me deu uma confiança muito grande de estar ali e recorrer a ele se me faltasse alguma informação. Não gosto muito de alguns usos do termo “influenciador” e eu também não tenho a expectativa de ser um. Quero, sim, traçar os meus caminhos para me tornar um publisher. Hoje se fala muito em plataforma, só que eu me imagino sendo um hub e usando todas as plataformas para diversos tipos de conteúdos, seja uma transmissão, um programa, uma entrevista ou uma história. Muitas vezes alguém com 30, 40 ou 100 milhões de seguidores não seria considerado influenciador na minha concepção.

Campanha dos Postos Petrobras, da Africa, protagonizada por Galvão Bueno

Por outro lado, alguém com 100 mil seguidores pode se enquadrar nessa categoria. Mas, de qualquer modo,  cada um escolhe seu momento. Este é um momento de mudanças para mim e para o mundo como um todo. Seria muito cômodo permanecer fazendo aquilo que eu sempre fiz e que considero ter atingido um ponto de excelência fazendo – que é o caso do próprio Tino Marcos. Não há dúvida de que ele foi o melhor repórter de seleção brasileira da história da TV brasileira. No nosso tipo de trabalho não podemos estar nunca acomodados. E é exatamente isso que eu pretendo fazer agora: buscar novos desafios. Não faria sentido não renovar o contrato com a Globo, narrar minha última Copa do Mundo em TV aberta e ir pra outro lugar fazer outra coisa ainda em TV aberta. Não, vamos parar, refletir e mergulhar de cabeça naquilo que possa ser um novo caminho.

Que tipos de conteúdo mais te chamam a atenção neste momento?
Uma resposta imediata seria falar de conteúdos esportivos que foi o que eu fiz a minha vida inteira. Mas eu também acho que tenho conhecimento para discutir outras coisas que estão ligadas à minha vida e são uma paixão, como o vinho. Minha profissão até hoje me jogou no mundo e eu aprendi a viver nele, aprendi a conhecê-lo, o que pode inspirar vários conteúdos. Não quero fazer programa de viagem e turismo, mas  acredito que faça sentido mostrar um pouco do mundo.

Você faz parte da história da comunicação brasileira e presenciou ao longo das últimas quatro décadas todo um processo de transformação dos meios.  Como analisa essa jornada e o que enxerga como futuro da comunicação?
Na verdade, são quase cinco décadas completas de jornada, porque quando estiver realmente dentro deste novo projeto já terei 49 anos de profissão. Eu realmente vivenciei toda a mudança que existiu em televisão em termos de qualidade, quantidade. Quando eu comecei a fazer minhas transmissões, tínhamos duas câmeras. Depois surgiu uma terceira. Hoje já são mais de 30 em um jogo de futebol. Eu brinco sempre que só falta colocar uma câmera na bola para viajar junto com ela. Então a dinâmica foi aumentando. Nós trabalhávamos com os velhos VTs1200 que dava drop out, ou seja, dava dobra e tinha que fazer tudo de novo. Nesse tempo para se fazer uma transmissão de Fórmula 1 do outro lado do mundo, nós tentávamos contato com a central e, se ninguém respondesse até o momento de começar, contávamos até 10 e entregava para Deus e só descobria depois se tinha chegado ou não.

(Mauricio Fidalgo/Globo/ Divulgação)

O mundo como um todo evoluiu tecnologicamente de uma forma absurda nesses 50 anos, desde quando eu comecei em um jogo com duas câmeras para o que é uma transmissão hoje. E ao que vai ser no dia 18 de dezembro a transmissão da final da Copa do Mundo. A velocidade, a dinâmica, a nitidez, a mudança de imagens. E tudo isso te obriga a mudar seu raciocínio e sua forma de falar, nunca se achando mais importante que as imagens, no meu caso, mas também não se diminuir ao ponto de se tornar desnecessário. Mas a evolução foi uma coisa absurda mesmo. E até mesmo a TV aberta, da qual eu praticamente estou saindo agora no final do ano, vai continuar evoluindo. Só que a evolução do mundo digital é quase uma loucura, é diária. Eu tenho muita noção exata do que foi toda essa mudança na TV e eu vou precisar, depois dos 70 anos, entender direito como é isso no mundo virtual e me agilizar ainda mais. Hoje você dorme de um jeito e acorda de outro. É um mundo muito louco. Mas exatamente por isso é muito desafiador. E um profissional que chegou no nível que eu cheguei quer é desafios e vencer as próximas dificuldades.

Quais são os três momentos/ narrações mais marcantes que você jamais vai esquecer?
Eu prefiro deixar a morte do Senna de fora. Foi tão doída e tão sofrida. Com certeza a mais difícil de ser feita. Agora no futebol foi sem dúvida alguma a conquista do Tetra. Estar ali com Pelé, com Arnaldo, ter a nossa imagem jogada no mundo inteiro. Claro que nós estávamos na carona do Pelé, porque a empresa responsável pela transmissão da final da copa de 94 Brasil x Itália - primeira com decisão nos pênaltis, aquela maluquice toda - queria mostrar ele comemorando, né? E nessa hora ele estava abraçado no meu pescoço e eu berrando que nem um louco. Na Fórmula 1 foi o primeiro título do Senna em 88, que é até anterior. Então seria este título, depois o Tetra e nas transmissões olímpicas e a medalha de prata do 4x100 do atletismo em Sidney 2000. É prata, é prata, é prata, é prata! Uma prata que pra mim vale mais que ouro. Acho que foi uma medalha que ficou muito marcada na vida dos quatro que estavam lá correndo e pra mim porque em menos de 40 segundos você contar toda uma história com 32 caras correndo com passagem de bastão e uma conquista brilhante.