Tive a ideia do tema e comecei a escrever este texto em pleno Dia dos Namorados. Portanto, dê um desconto se estas mal traçadas linhas resultarem num artigo um tanto quanto meloso ou piegas. Pois é...

Quando comecei a trabalhar – lá se vão 4 décadas – o típico chefe era aquela figura que mandava e os subordinados obedeciam, sem questionamento.

O ambiente nas empresas era, de uma maneira geral, mais sisudo e formal. De segunda a sexta, até as 18h era para ganhar o dinheiro, deixando o resto do tempo para curtir os melhores momentos da vida.

Ou seja, a empresa era local de trabalho e pronto! Por força de circunstâncias, desde o meu primeiro emprego eu liderei equipes. Ainda estagiário em engenharia, fui convidado por um primo mais velho – ele diretor-geral da empresa – a liderar uma divisão de um importante projeto, tendo como subordinados vários engenheiros.

Para poder cumprir a missão, adotei uma liderança participativa, dividindo com meu time as decisões, aplicando intuitivamente uma gestão compartilhada.

Passa o tempo e, já bandeado para o marketing, mantive uma trajetória de gestor de pessoas, tendo sido o principal executivo de 4 organizações, adotando sempre um tipo de gestão bem diferente daquela do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Ao contrário, em vez de simplesmente “mandar”, procurava trazer o time para planejar os próximos movimentos juntos, desenvolvendo um ambiente colaborativo. É claro que nem sempre foi um mar de rosas.

A luta por espaço e pelo crescimento nas empresas nem sempre é assim amigável. Tem muito trança-pé e cotovelada no meio do caminho. Principalmente quando uma empresa emblemática de bebidas faz enorme sucesso com a tal meritocracia, eufemismo para um pega pra capar, um vale-tudo por polpudos bônus.

Gestores fazendo de tudo para superar suas metas. Vale vender a mãe para conquistar o cheque, às vezes milionário, no fim do ano. Metas agressivas e um ambiente deliberadamente competitivo conflitavam com uma cultura de colaboração e companheirismo nas empresas. Lembro-me de uma história que me foi contada por gente de dentro de uma agência que marcou época em determinado período, liderada por um publicitário icônico e controvertido que, quando alertado que o ambiente na agência era insalubre, saiu com essa: “Quem quiser ambiente suave que fique em casa: aqui é pega pra capar!”.

Não que esse tipo de gestor não exista mais, mas o que observamos agora é a tendência de prevalecer uma cultura mais parecida com aquela que adotei
intuitivamente: o gestor deixa a postura do “chefe”
e passa a estimular uma atitude mais participativa dos seus liderados, trazendo-os para a função de cogestores.

Até para preservar talentos advindos da geração Z, muito mais volúveis e desejosos de um ambiente mais amigável e sequiosos de propósito, mais valorizado do que dinheiro, as empresas procuram se mostrar mais amigáveis.

Os ambientes de trabalho são agradáveis e lúdicos, com mimos aos colaboradores, até para convencer os resistentes a deixarem o home office e voltarem aos escritórios.

Impossível deixar de fazer um paralelo com o movimento ESG, que prega mais empatia, respeito e inclusão, pela sua vertente S, de Social.

Sim, corro o risco de parecer piegas, mas é realmente uma onda de amor que invade o ambiente corporativo.

O capitalismo selvagem, do lucro a qualquer custo, dá lugar ao capitalismo consciente, pautado pelo propósito e pelo respeito aos stakeholders, principalmente os colaboradores. Sim, o amor está no ar.

Empresas criam novos cargos de chefe de propósito ou mesmo chefe de felicidade. Os gestores de RH ganham importância estratégica para criar uma nova cultura entre os colaboradores, onde se privilegia o respeito, a colaboração e, por que não dizer, o amor.

Que bom, não? Inevitável terminar este texto sem cantarolar “É o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim...”

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br