Após dois anos, o Festival Internacional de Criatividade de Cannes voltou a reunir presencialmente a indústria da comunicação, marketing e mídia na Riviera Francesa. Talvez por isso, o encontro pós-pandemia dos principais líderes da economia criativa, executivos e jovens profissionais de todo o mundo foi marcado por debates e questionamentos sobre o papel do setor na promoção da diversidade, inclusão e sustentabilidade na publicidade.

Para falar sobre este e outros temas, realizamos no dia 28 de julho, em formato virtual, pelo Zoom, o ABA Cannes Insights, by GoAd, com o tema: “Criatividade, escala e efetividade”. O evento foi aberto ao público e gratuito, com cocuradoria de José Saad Neto, da GoAd Media, com o intuito de analisar os temas criativos do Festival, inspirar novos trabalhos e fomentar as tendências aos profissionais do mercado.

Ao longo do encontro digital não poderíamos ter deixado de enfatizar a relevância da indústria de comunicação no debate sobre a importância da diversidade e inclusão. Temas constantemente cobrados pelo setor e sempre em estudo pela ABA, percebo que mesmo de forma lenta, Cannes tem se adaptado às novas necessidades e imposições propositivas do mercado e de seus profissionais, caminhando assim para ser um retrato mais fiel da sociedade.

Para refletir sobre a agenda de transformação social pró-equidade de gênero e raça, o painel “Diversidade e cocriação” do ABA Cannes Insights, by GoAd, contou com a jornalista Lena Castellón, da indústria de Comunicação e Marketing, que moderou o debate sobre a força da colaboração e da diversidade entre empresas e profissionais.

Felipe Simi, CEO da Soko, agência que venceu o Leão de Ouro neste ano, destacou que a diversidade de pessoas traz a real perspectiva do Brasil e enriquece os briefings. Já Gabriela Soares, Head de Estratégia da Talent Marcel, ressaltou que o festival abordou diversidade com mais ênfase.

Depois do Festival ter recebido críticas pela baixa diversidade racial entre os brasileiros escolhidos para fazer parte dos grupos de jurados. O Festival incluiu seis profissionais negros entre os brasileiros escolhidos para participar da etapa de avaliação dos shortlists, dentre elas Dilma Souza Campos e Heloisa Santana foram juradas em Cannes, e painelistas no nosso evento, mapeando com exatidão o impacto da representatividade.

Dilma, que é CEO da Outra Praia, reforçou a importância de um shortlist com igualdade de gênero e raça, mas questionou o porquê essa mudança não foi efetiva ou mais rápida. Para Heloisa Santana, presidente da Ampro, apesar do trabalho inédito, que levou pessoas pretas para o júri e o palco no último dia do evento, a história ainda não acabou. “Voltamos com o compromisso de falar da pauta da inclusão com a organização do festival, para os próximos anos”.

Vale lembrar que a questão racial e o racismo nas empresas são assuntos que ainda merecem atenção quando pensamos em ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) não só no Brasil, como em todo o mundo. Levantamento realizado em 2021 pela plataforma de empregos Indeed, em parceria com o Instituto Guetto, apontou que 60% dos brasileiros sentem discriminação racial no ambiente de trabalho e quase metade deles dizem ter presenciado algum tipo de ato racista.

No ABA Cannes Insights, by GoAd, lembramos que foi a partir da diversidade de experiências, de olhares, raças e perspectivas, que conseguimos chegar aos projetos mais inovadores e interessantes deste ano. A partir das diferenças, o processo colaborativo de criação se torna mais rico e genuíno, fazendo com que as marcas se conectem de forma significativa com uma sociedade, por natureza, plural. Além disso, difundir a representatividade e inclusão de pessoas pretas na indústria da comunicação é uma questão mais do que necessária, ela é emergencial.

Com 70 Leões conquistados em 2022, três a mais que na edição anterior, o ecossistema de comunicação comemora e aproveita palcos como o de Cannes Lions para fazer a diferença no debate público. Nossos resultados deixam claro que se comprometer com a diversidade é garantir um futuro mais humano e sabiamente mais criativo.

Sandra Martinelli é presidente-executiva da ABA