Eu, Francisco Madia, me declaro, antecipadamente o último assinante de jornais. Aprendi com meu pai, Carlos Araujo Souza, que assinava os do Rio e de São Paulo.

Quando montei a Madia assinava 28 jornais diários. De manhã recebíamos os das cidades mais próximas, São Paulo e Rio de Janeiro e, no correr da tarde, os demais das principais cidades e capitais do país. Lia todos. Marcava e recortava o que fosse mais interessante. Era o presidente, e o “clippero” chefe da Madia.

Durante décadas, a Casa Cosmos vestia os homens elegantes de São Paulo. Era na Rua São Bento. Quando inaugurou o Shopping Iguatemi mudou-se para lá. Permaneceu aberta até a morte do último homem elegante da cidade. Depois, e como esse homem partiu, também descansou em paz.

Outro dia estou na Praça Vilaboim, almoçando num dos poucos restaurantes que sobreviveu. Vem o garçom e começamos a conversar. Diz ele: “por que as bancas de jornais, como essa da praça, se chamam banca de jornal se vendem ou tentam vender quase tudo o mais menos jornal?”

Nem tentei explicar. Não acreditaria. A Banca da Vilaboim vendia só do Estadão, nos domingos, mais de 800 exemplares. Mês retrasado, antes de fechar, e nos melhores domingos, 8. Cem vezes menos. E o que sobrava do Estadão, O Globo e Folha, era colocado num plástico e vendido como mictório pra cachorro.

E mesmo para esses serviços existem concorrentes melhores. Existe, por exemplo, um jornal especificamente para essa missão, o Jornal Pet, com 100 e 500 folhas, e vendido, também, mediante assinaturas. No portal do Jornal Pet, a explicação porque são mais recomendados que os jornais de verdade: “O Jornal Pet News foi pensado para trazer tranquilidade aos leitores e conforto aos pets, seja para esquentar em dias mais frios ou na hora daquele aperto do xixi ou do cocô...”. Um jornal de mentirinha mais recomendado que os jornais de verdade...

Num domingo, anos 1980/1990, a Folha inaugurou seu moderníssimo parque gráfico. Naquele domingo circulou com 1,5 milhão de exemplares... Hoje circula com menos de 60 mil...

Muitas pessoas me perguntam por que os jornais, os três principais jornais do país ainda que combalidos e agonizantes, foram tão parciais nas últimas eleições contrariando sua gênese e história, muito especialmente o Estadão, enviesando notícias, e escondendo patética e escatologicamente a realidade dos fatos?

Quando falta dinheiro, empresas e lideranças flexibilizam e renegam sua história e compromissos. Certa feita, Luis Fernando Verissimo disse que, em muitos momentos, “A única coisa verdadeira num jornal é a data”. Foi o que constatamos dias e semanas, nos principais jornais do país, neste ano, antes da despedida final.

Até lá continuo lendo, comprando ou assinando os três, mais Super Notícia, Zero Hora, Valor Econômico, Correio Braziliense, Estado de Minas, A Tarde, O Povo e outros sobreviventes, ainda que agonizantes.

E, como mencionei Luis Fernando Verissimo, sou talvez o último de uma espécie descendente da sua personagem Velhinha de Taubaté. Ela, a última a acreditar nos militares; eu, e até antes deste trágico ano e patético comportamento dos editores e jornalistas dos 3, que seguia acreditando nos jornais...

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br