Na sociedade atual, a pressão para que as mulheres se encaixem em padrões irreais de beleza e juventude é inegável, e esses padrões estão quase sempre alinhados com um ideal de juventude. Para muitas de nós, a chegada dos 50 anos representa também uma fase de maior autenticidade e liberdade, uma idade que carrega uma riqueza de experiências e sabedoria acumulada ao longo das décadas. No entanto, para experimentar a leveza que a idade traz, é preciso pular muitas fogueiras, porque se tem uma coisa que a nossa sociedade não aceita é uma mulher livre, ainda mais se for para envelhecer como bem quiser.

Primeiro que nem as mulheres enxergam diferentes possibilidades de envelhecimento, já que quando olhamos para os retratos das mulheres maduras, encontramos a mídia frequentemente retratando esses corpos de maneira estereotipada e limitante, ignorando sua realidade e desejos individuais.

Com frequência, vemos duas caixinhas que tentam enquadrar as maduras: ou como a avó carinhosa e afetuosa ou como a exceção, a mulher que desafia todas as leis da natureza e permanece tão jovem quanto uma celebridade de 30 anos. Essas representações unidimensionais não refletem a diversidade e complexidade das mulheres 45+.

A imagem da avó, muitas vezes carregada de estereótipos, ignora a realidade de que as mulheres maduras são muito mais do que suas funções familiares. Por outro lado, a idealização do envelhecimento como um processo que desafia o tempo cria expectativas irreais e perpetua a nossa obsessão pela juventude.

As mulheres maduras também merecem ver suas vidas e experiências refletidas na mídia e na publicidade de maneira mais autêntica. Isso inclui não apenas abordar questões relacionadas ao envelhecimento, como cuidados com a pele e produtos anti-idade, mas também reconhecer que essas pessoas continuam a utilizar uma ampla gama de produtos e serviços, desde shampoo e condicionador até roupas e tecnologia. Elas fazem sexo - segundo nosso estudo “Elas 45+”, 27% das mulheres 45+ têm uma vida sexual ativa, buscam as melhores escolhas possíveis para a saúde se tratando de alimentos, priorizam viagens e querem estar cercada das amigas. Não, isso não é a descrição de uma jovem da geração Z.

Para nós, essa tal representatividade autêntica envolve mostrar mulheres 45+ como seres complexos, desejantes e multifacetados, como elas se enxergam e são: donas de carreiras bem-sucedidas, relacionamentos longínquos, explorar seus interesses pessoais e desenvolver habilidades sobrenaturais, como um casamento com duração. Elas não precisam se conformar com papéis secundários ou estereotipados, pois são capazes, seguras de si e autônomas.

No estudo “Elas 45+”, produzido pela Estúdio Eixo, concluímos que, além de estarmos vivendo uma evolução no quesito expectativa de vida, a população madura está tomando cada vez mais espaços que lhe dizem não ser “adequados para a idade”. Estamos vendo a primeira geração de mulheres que está reivindicando o direito de envelhecer como bem entender e isso é muito importante. Contudo, apesar de estarmos vivendo essa mudança de mentalidade, é fundamental reconhecer que hoje os 50 anos não são uma tentativa de voltar ao passado. São uma celebração do presente e da jornada vivida, da experiência acumulada e do desejo pelo que vem pela frente. Durante a nossa pesquisa, ouvimos de uma das entrevistadas que os 50 anos são a adolescência sem as ilusões.

E isso é real. As mulheres de 40 anos ou mais não precisam buscar desesperadamente a juventude perdida, mas, sim, abraçar com orgulho a pessoa que se tornaram. Elas podem e devem ser vistas como atraentes, interessantes e capazes, não por sua capacidade de corresponder a padrões de beleza inatingíveis, mas por quem são e pelo que conquistaram.

É hora de romper com os estereótipos e reconhecer a importância da representatividade autêntica para as mulheres mais velhas na mídia e na publicidade. As mulheres 45+ merecem ser vistas como indivíduos únicos e completos, que não precisam se sacrificar para atender a padrões irreais. Os 50 são os novos 50, e essa é uma idade que deve ser celebrada, respeitada e representada com dignidade e realismo, assim como todas as outras.

Kika Brandão é head & partner da Estúdio Eixo, empresa de consultoria estratégica, parte da B&Partners
kika.brandao@eixo.co