Já diz o ditado que "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher". Mas por que no relacionamento de Arthur Aguiar com Maira Cardi as pessoas não apenas meteram a colher como também quiseram roer até o último osso dessa refeição? O relacionamento já voltou ao normal, mas a história da infidelidade parece ainda um crime inafiançável para muitos.

Naquela ocasião, a mulher jogou o marido aos leões que o massacram até hoje. Um tempo depois, ela foi lá negociar e tentar convencer os mesmos leões de que ele não era aquele demônio todo que ela havia pintado. Mas, consumir a informação como carne velha e podre parece não importar para os leões que nunca mais tiveram uma refeição com o cardápio de infidelidade tão espetacular assim.

E o que ainda sustenta essa fome insaciável de reputação do Arthur? Seria a ausência de um novo escândalo entre quatro paredes ou nossa mania de julgar o outro? Isso é Schadenfreude, termo para explicar “regozijo com a desgraça alheia”. Na internet, dizem que ele foi eleito pelas “tias do sofá” que, em sua boa época, facilmente usariam o jargão, “que pão!” para o menino Arthur.

Bem sabemos que mordidas deixam cicatrizes na carne. Mesmo ferido, ele foi - pessoalmente - enfrentar os leões para pedir redenção e empatia. A maioria, claro, o acolheu de volta no grupo e o tornou digno de receber não apenas o prêmio em dinheiro mas, acima de tudo, o afeto e o carinho desses leões de dentes afiados.

Nas redes sociais os leões passaram a se digladiar entre eles: de um lado os "verificados” querendo os ossos do Arthur; e, de outro, os “do sofá” que notaram que a carne, na verdade, era um simples pãozinho… E, carnívoros que são, não fazia muito sentido comerem carboidrato. Ainda mais porque a recomendação daquela que os domou era de que carboidratos não são bons para o corpo. Pior ainda seria se deleitar nessa refeição sem sentido, ainda mais, sendo obrigados a ouvir louvores em situações fora de contexto. A saída para esse imbróglio todo foi o grupo se dividir e delimitarem grupos separados para se devorarem entre eles.

E é aí, que entra o conceito da biologia ao explicar o melhor e pior da raça humana tão bem estudado e defendido pelo neurobiólogo e primatólogo Robert Sapolsky. Ele enfatiza que o nosso cérebro forma dicotomias como “nós contra eles” e explica que temos uma tendência a pensar nos membros do nosso grupo como indivíduos nobres, leais e distintos, cujos defeitos se devem a razões circunstanciais.

Ele, inclusive, apresentou um estudo no qual  “os torcedores em um jogo de futebol tinham mais propensão a ajudar um espectador ferido se ele estivesse usando a insígnia do time da casa". E a insígnia usada, sem querer, pelo Arthur foi o pão (porque não tinha ovo). Enquanto Eles ostentavam  riqueza e "independência financeira aos 12 anos”. (Não é Jade?). Em um país que tem a camiseta oficial da miséria e da fome não precisa nem raciocinar muito para saber qual é o lado do povo.

Sapolsky diz que a força da demarcação Nós/Eles é evidenciada por alguns fatores. E entre Eles, a tendência a agrupar de acordo com diferenças arbitrárias e imbuir de poder esses marcadores. Ou seja, tem diferença mais arbitrária do que a pobreza e a riqueza? Isso explica os sentimentos sobre os brasileiros, o Nós: a obrigação compartilhada, a disposição e a mutualidade de eleger como vitorioso um dos nossos.

"O mais comum é perdoar os do nosso grupo com mais rapidez do que os do outro. Nós cometemos deslizes devido à circunstâncias especiais”, diz o autor do livro “Comporte-se” que defende ainda que “mesclada à lealdade e ao favoritismo de grupo está uma capacidade reforçada para a empatia”, àquela que Arthur foi - pessoalmente - buscar na cova dos leões.

Luciéllio Guimarães é fundador da Imagem Academy, professor universitário e especialista em Imagem e Reputação