O que me inspira é o fato de ter um desafio. Já o que me deixa triste, chateado, é quando eu conquistei um desafio. Ah, que chato! E agora? Tenho de pensar em outra coisa. Isso me deixa muito entediado. Mesmo um baita de um desafio. Por exemplo, eu perdi meu pai com 19 anos. Acordei no dia seguinte e logo pensei: “É verdade. Ele morreu de repente”.

Naquele dia, precisei ir até a fábrica buscar o carro dele, pois sua morte foi abrupta. Minha cabeça não parava no caminho de volta para casa. Como eu vou tocar aquela fábrica? Continuar a vida? O que tenho de fazer? Tinha de continuar na USP, mas que horas? Afinal, precisava dar continuidade ao dia a dia da fábrica, que eu estava zero preparado.

Por favor, não me julguem. Claro que foi dolorido, mas também aquilo foi uma inspiração para a segunda-feira seguinte ser diferente daquela sexta-feira maldita.

A inspiração pra mim ocupou um lugar de superar as dificuldades, os obstáculos e, arrisco a dizer, você pode não concordar, as coisas que você julga que são difíceis e não consegue transpor.

Ter uma família sempre por perto, a proximidade com as minhas filhas e com a minha mulher, isso me dá muita força para superar os obstáculos. A presença delas e as nossas trocas alimentam minha vontade de superar as adversidades.

Essa questão do obstáculo me transforma num cara que quer transpor, ter vontade de fazer acontecer, de ter força para realmente enfrentar. Isso realmente me inspira, principalmente do ponto de vista do trabalho, do Joel executivo de uma multinacional.

Por outro lado, para manter este Joel focado e decidido a enfrentar o que for preciso, eu preciso das minhas pausas, fazer meus esportes, ouvir um bom rock and roll e ter contato com os meus cachorros. Os animais me confortam, pois eles são totalmente leais. Isso me dá força, principalmente, em momentos difíceis.

Você busca algo a mais, um olhar carinhoso que você encontra, um afago, algo que talvez seja além do humano. Eles são, realmente, transcendentais nesse ponto.

Eu sou um cara de extremo, trabalho muito no limite, vou muito do zero ao dez, então gosto muito de trabalhar ao extremo, do rock ao extremo, mas também gosto de fumar um charuto sossegado, tomar um vinho mais sossegado.

Eu gosto de fazer esse balanço. De correr 10 quilômetros sem pensar em nada. Tem vezes que eu rezo durante a corrida. Penso na vida. Isso também satisfaz o corpo. É um momento mais de calma e de você encontrar o seu eu.

Eu creio que tomei muito essa questão de o meu pai morrer jovem. Meu pai faleceu com 51 anos, de repente, de infarto. Então eu vivo o momento de uma forma muito intensa. Eu sempre vivo o momento intensamente. Eu nunca deixo para amanhã o que posso fazer hoje.

Se eu puder, faço hoje. Eu posso estar cansado. Eu vou fazer hoje. Quando eu acordo de manhã, eu agradeço por mais um dia em que eu acordei, pois eu nunca sei, quando eu vou dormir, se estarei aqui amanhã.

A fábrica do meu pai era de móveis e estofados. Fiquei dois anos e meio com ela antes de encerrar as atividades. Eu lidava com a Casas Bahia, com Samuel Klein, falava tête-à-tête com ele. Meu pai não teve tempo de me preparar para assumir um negócio tão cedo. Eu me virei.

Na minha memória guardo lembranças de uma convivência inspiradora e o seu legado eu carrego comigo no peito e nas trocas com a minha família.

Assumir um negócio aos 19 anos foi uma experiência que me moldou a ser o homem que sou e o profissional que me tornei.

E eu me orgulho dessa imagem que vejo no espelho.

E agradeço.

Joel Amorim é managing director Latin America da The Insiders

(Crédito: Marcelo Kahn/ Divulgação)