Os principais pontos da estratégia de marketing de Marina Silva

Marcello Casal jr/Agência Brasil

Faz apenas uma semana que começou a propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio. Para os presidenciáveis, as estratégias de cada candidato, as mancadas, pesquisas e memes, claro, já estão a todo vapor. Pensando nisso, PROPMARK inicia hoje uma série semanal de análises das escolhas dos que se propõem a ocupar a Presidência do País.

A candidada da Rede, Marina Silva, abre esse especial, a partir do olhar de Emmanuel Publio Dias, professor da ESPM e especialista em marketing político. Ela está em segundo lugar na pesquisa de intenção de votos, segundo resultado mais recente divulgado pelo Ibope na última quarta-feira (5). A pesquisa aponta Bolsonaro com 22%; Marina, 12%; Ciro, 12%; Alckmin, 9%; Haddad, 6%, Alvaro Dias e Amoêdo, 3% cada um, e Meirelles, 2%. O levantamento foi feito de 1 a 3 de setembro, com 2002 eleitores e tem margem de erro de 2 pontos.

Reprodução/TV Globo

Marina tem apenas 21 segundos dos 12 minutos de cada bloco do horário eleitoral na TV destinado aos presidenciáveis. Para aumentar seu alcance, a candidata começou a apostar em vídeos curtos, autorais, voluntários e compartilhados nas redes sociais e no WhatsApp. Ao Estadão, Lourenço Bustani, coordenador da campanha, disse que a estratégia segue o tom da campanha, mais descentralizado e com liberdade para cada visão sobre ela. Entre os apoiadores estão os cineastas Fernando Meirelles, André D’Elia e Jorge Brivilati.

Para Publio Dias, o pouco tempo na TV é um problema grande para Marina, que pode ficar “desconhecida” de uma massa de eleitores. Ele lembra que até o inicio do horário eleitoral na TV, ainda havia um desinteresse enorme pelo processo eleitoral, com 40% dos eleitores pouco ou nada interessados. Esse número, ao invés de diminuir desde julho, vinha aumentando, com mais gente desligando-se do processo. 

 

José Cruz/Agência Brasil

“O problema é que muitos dos candidatos, exceto Alckmin e Lula, são de certa forma desconhecidos do grande público. Sendo assim, 7% das pessoas dizem que não conhecem a Marina e 33% conhecem só de ouvir falar. E esse de ouvir falar é eufemismo, na verdade as pessoas não conhecem e ponto final. Portanto, o horário de televisão é fundamental. Sem tempo na TV, Marina pode entrar num ciclo de ser conhecida só entre quem já a conhece e desconhecida por uma parte substancial do eleitorado que não sabe quem é ou não lembra dela. Apesar disso, ela está no segundo lugar e isso é muito bom”, diz.

Nesse sentido, o especialista avalia positivamente a iniciativa dos vídeos, mas sinaliza que não deve ser suficiente. “Como ela não tem militantes como o Bolsonaro, ela, o Amoêdo e de certa forma o próprio Ciro têm que confiar muito nessa capacidade de mobilização da internet, que não vai atingir toda a população. Uma massa de pessoas que não a conhece pode terminar a eleição sem conhecê-la.”

Marcello Casal jr/Agência Brasil

Olhar para a mulher
A campanha de Marina começou no sábado (1º) com ela falando para um público específico e de forma direta: “você, mulher”. Publio Dias acredita que essa abordagem é bastante inteligente, uma vez que ela só vai subir nas pesquisas se Bolsonaro, criticado por uma série de comentários e atitudes contra mulheres, cair. “O fato dela se dirigir a mulher é uma estratégia de enfrentar o Bolsonaro muito mais inteligente do que a que o Alckmin está fazendo. É uma estratégia de segmentação boa para aumentar o discurso e a participação dela.”

Outra coisa que ele acredita ser bom o seu jeito e sua postura, especialmente pela temperatura do país atualmente. O acadêmico diz que do jeito que a sociedade está hoje, favorece os candidatos que falam em “matar e morrer”, os extremos. “A Marina não tem nada a ver com isso. A figura dela é muito palatável para a família brasileira. Ela é professora, uma líder comunitária”, pontua.

Na visão do professor, todos os candidatos estão bem fiéis às suas origens e a fala da Marina contra a corrupção, ainda que sem citar nomes, mesmo que de adversários na corrida presidencial, também é um bom caminho. “O combate à corrupção é uma das prioridades dos eleitores hoje. As pessoas estão com nojo da corrupção. E como ela é Ficha Limpa e tem um passado mais tranquilo, é uma vantagem que ela deve levantar, sem dúvida. Ela não precisa mencionar nomes. Essa coisa de acusar diretamente em campanha não dá muito certo”, ressalta.

Elza Fiuza/Agência Brasil

Apesar dos pontos positivos, o professor da ESPM também faz críticas à candidata. Ele lembra a percepção de que ela passa ambiguidade ao não se posicionar ou deixar no ar pontos de sua campanha. “Não só na ideologia, mas há pontos programáticos que ficam muito vagos no discurso dela. Não se sabe exatamente o que ela vai querer. Uma visão é a de que ela é uma pessoa com convicções democráticas muito enraizadas e preza por um consenso, pela discussão. A outra visão é que ela não tem posição, não tem proposta efetiva para o governo nas grandes questões. Por exemplo, ela fala na defesa da mulher, mas não tem uma posição definida sobre o aborto”, comenta.

Ainda que com pesquisas, debates, meios de acompanhar desempenho e grau de transparência nos processos, ele vê essa eleição como totalmente diferente da outras e imprevisível. “Não vai ser fácil para a Marina. Mas ela tem espaço e chance na queda dos extremos, que é uma coisa que eu, particularmente e como analista, vejo como muito provável. Por incrível que pareça, o incêndio no Museu Nacional pode favorecer isso, fazendo com que as pessoas deixem de ter uma escolha eleitoral apaixonada e militante para pensar em quem querem efetivamente para dirigir o país. E nesse ponto, os extremos da esquerda e da direita devem perder votos e intenção de votos para um centro mais estruturado. Marina e Alckmin seriam os grandes beneficiados.”

Confira as matérias do Especial Marketing Político que foram publicadas:
Bolsonaro: reviravoltas na campanha de um candidato polêmico
Campanha de Boulos quer eleger deputados do PSOL, diz especialista
Veja o que especialistas pensam sobre a campanha de Ciro Gomes
E agora, Geraldo? Análises sobre a estratégia de marketing de Alckmin