A cada dia os ânimos estão mais acirrados e o radicalismo toma conta de alguns, deixando, às vezes, a prática do bom e velho marketing de lado. Já outros candidatos às eleições de 2018 tentam seguir o seu caminho como se não existisse amanhã. Guilherme Boulos, candidato à Presidência da República pelo PSOL, com 1% das intenções de votos, ao que tudo indica não tem um profissional de marketing para chamar de seu. Segue o próprio instinto, o que não é pouco.
Vale ressaltar que ele é um cara bem-nascido e formado, e desde cedo se dedica às causas sociais. Filho de um casal de médicos professores da USP, aos 20 anos Boulos foi morar na ocupação Carlos Lamarca, em Osasco (SP), onde 2 mil sem-teto acampavam em um terreno de 600 mil metros quadrados. Começou ali a transformação do militante estudantil em porta-voz da luta pela moradia no país, uma trajetória que hoje, 15 anos depois, o levou a se candidatar à governança do Brasil e ser uma das principais lideranças da esquerda no país.
Para Denilde Holzhacker, cientista política e professora de relações internacionais da ESPM, a campanha dele é pequena, correspondendo ao tamanho do partido. Por isso, consegue com sua estratégia explorar algumas pautas que atingem pessoas mais à esquerda. Em geral, a linha de atuação de candidato, que tem pouco dinheiro, é estar presente principalmente na internet, nas redes sociais, já que sem gastar quase nada obtém um resultado razoável no meio de uma pequena fatia da sociedade.
A campanha de Boulos circula dentro das próprias redes dos movimentos sociais, o que reforça a baixa capacidade de penetração. “A campanha dele é bem limitada”, diz a professora. No entanto, o trabalho de comunicação tem um objetivo maior, que é conseguir algum espaço na mídia e alavancar a candidatura de deputados do PSOL. Assim, ele participa de debates e traz para a arena os grupos de movimentos com os quais já trabalha, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Segundo Denilde, a estratégia de comunicação se concentra no poder Legislativo e não no Executivo. “A agenda é muito centrada em grupos de esquerda”, analisa a professora, acrescentando que o social é a principal bandeira de Boulos. “Ele tenta mostrar o ambiente de grande injustiça”. Denilde acredita que a esquerda brasileira poderia mudar de postura e que Boulos é visto como um radical, “como era o discurso do Lula e do PT”. Até as frases de efeito, uma marca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu partido, também foram resgatadas: “Boulos é a voz das ruas”; “Construído de um jeito diferente”; “Agora, é a nossa vez”; e a clássica “Mata a cobra e mostra o pau”. Além disso, Boulos promete “despejo em Brasília em janeiro de 2019”.
O candidato também diz que irá taxar os ricos, antiga estratégia que não assusta o pobre e muito menos o rico. Aliás, um exemplo de frase de efeito dita por Boulos recentemente foi “Vou taxar Meirelles”, trocadilho engraçado para cutucar o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, candidato à Presidência pelo MDB, que se vangloria a todo instante que nos piores momentos da economia os governos “chamam o Meirelles”. Como bom frasista, Boulos não perdeu a chance que teve: ao invés de “chamar o Meirelles”, vai “taxar Meirelles”, já que o candidato é rico.
O consultor político e de agências, Marcelo Cesar Peixoto Diniz, dono da Marcelo C.P.Diniz Publicidade e Propaganda ME, que trabalhou 12 anos na Associação Brasileira de Propaganda (ABAP), como coordenador de projetos e pesquisa, afirma saber pouco sobre Boulos. Sabe, no entanto, que ele reza direitinho pela cartilha do PSOL, que defende forte presença do Estado para reduzir as desigualdades sociais. Ele acredita que Boulos representa “a esquerda em sua forma mais radical, que existe há muito tempo, é muito conhecida e, realmente, não precisa de marqueteiro”.
Segundo Diniz, a proposta de Boulos não precisa ser maquiada. Mas também não conquista muitos votos entre o povo brasileiro. “Não parece ser o caso agora, mas conto esse episódio apenas como curiosidade. Certa vez participei de uma reunião com ativistas do PSOL e perguntei: ‘Afinal, vocês querem evangelizar suas ideias ou querem ganhar a eleição?’ Resposta: ‘Não pode ser os dois?’. E eu disse que Cristo estava tentando evangelizar há 2000 anos e ainda não tinha conseguido totalmente. Eleição é um negócio de três meses, precisa lutar para conquistar eleitores de forma bastante prática”, conclui o consultor.
A reportagem entrou em contato, via página no Facebook do candidato, mas até a publicação deste texto, a equipe de Boulos não retornou ao chamado.
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