Conversas em um grupo de WhatsApp, reveladas nesta semana, envolveram executivos de empresas como Mormaii, Coco Bambu, Havan e Tecnisa

Reportagem publicada nesta semana pelo site Metrópoles mostrou trechos de conversas entre empresários, que defenderam uma ruptura caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vença as eleições de outubro. As declarações foram feitas em um grupo de WhatsApp chamado de 'Empresários e Política'.

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, escreveu José Koury, dono do shopping Barra World.

Além de Koury, também estariam no grupo Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii; Afrânio Barreira, do Coco Bambu; André Tissot, da Sierra Móveis; Luciano Hang, da Havan; José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan; Ivan Wrobel, da Construtora W3; e Meyer Nigri, da Tecnisa.

O assunto ganhou ainda mais repercussão após a deflagração de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nas redes sociais, o público questionou as declarações e cobrou posicionamentos das empresas. A resposta, porém, não veio em forma de comunicado oficial nas plataformas, e sim limitando, apagando ou fechando os comentários, no caso do Instagram.

A estratégia é uma tentativa das marcas de separarem a pessoa jurídica da pessoa física, aproveitando que alguns dos empresários não apresentam vínculos tão fortes com a marca para os consumidores. A exceção é Luciano Hang, da Havan, conhecido por ter uma postura mais personalista.

“Da lista de empresários envolvidos, poucos são associados às marcas de suas empresas pelos clientes e consumidores. Agora, as marcas que foram associadas aos seus ‘donos’ devem agir com cautela. Se continuarem postando, devem ter muito cuidado em responder aos clientes e consumidores. Por certo, vão ser pressionadas, mas devem agir com equilíbrio e bom senso”, recomenda Isabel Rodrigues, professora do curso de relações públicas da Faap.

De acordo com a especialista, o impacto para as marcas existe porque seus donos estão associados a elas. “A imprensa faz esta associação até para mostrar quem são estes empresários que atentam contra a democracia”, explica.

Para Alan Kuhar, professor de marketing da ESPM, o impacto na imagem das empresas vai depender muito do ramo de atuação. Construtora ou dona de shopping, por exemplo, têm um dano reduzido.

“Alguém que escolhe o imóvel para comprar, na sua lista assim de prioridades, organização e gestão, deve estar lá embaixo, muito longe de abrir mão da compra de um imóvel que você estudou e organizou pela localização, preço, planta, infraestrutura porque está lá o empresário envolvido em alguma confusão”, explica.

O cenário é diferente para empresa de bens de consumo, na percepção de Kuhar. Em empresas como Mormaii e Sierra Móveis, que se enquadram neste grupo, as pessoas podem optar por não comprar como uma forma de “não financiamento’’ de tal pensamento.

A despeito disso, acredita, o número de pessoas que desconhece a relação entre o CNPJ e o CPF é majoritário. “Aqui estamos falando de serviços e varejos e é muito mais forte o vínculo no atendimento, a praticidade de estar perto da tua casa, por exemplo, né? Isso gera muito mais vínculo do que saber que um dos executivos dessas empresas está envolvido num caso polêmico”, complementa.

Entre as marcas com executivos envolvidos na polêmica, a Tecnisa enviou nota informando que é "uma empresa apartidária, que defende os valores democráticos e cujos posicionamentos institucionais se restringem à sua atuação empresarial".

Outras marcas como Havan, Multiplan e Mormaii não responderam. A reportagem não conseguiu contatar o shopping Barra World, o Coco Bambu, a Sierra Móveis e a Construtora W3.

(Crédito da imagem: Element5 Digital on Unsplash)