Humorista soma mais de um milhão de seguidores no Instagram e já fez trabalhos com marcas como Budweiser, Nestlé, Star+ e Smirnoff

Carioca da Zona Oeste do Rio de Janeiro, Yuri Marçal carrega sorrisos e lota teatros por onde passa. Com seus mais de um milhão de seguidores no Instagram, humorista de 29 anos faz da comédia a sua ferramenta para tratar de assuntos como racismo, intolerância religiosa e fazer críticas sociais.

O humor e o tom, sempre certeiro e de timing impecável, vem de muito estudo e cursos, claro, mas também de berço. Segundo o próprio, a família que possui é rodeada quase que 100% do tempo por piadas, o que faz com que ele se considere o menos engraçado ali. Afirmação está que com certeza os seus fãs não concordam.

A inteligência e as piadas de Yuri o renderam um especial na Netflix, chamado "Ledo Engano", e também fez com que ele se tornasse o primeiro humorista a fazer stand-up solo no Theatro Municipal de São Paulo.

A apresentação de Yuri no mesmo palco onde aconteceu a Semana de Arte Moderna de 1922 se tornou um documentário, publicado na conta do Youtube do humorista com mais de 300 mil inscritos, chamado “Nem se minha vida dependesse disso”, dirigido por Jennifer Dias, atriz e noiva de Yuri.

Hoje, como um dos principais nomes da comédia, Yuri também colhe frutos no mundo publicitário e já fez trabalhos com marcas como Budweiser, Smirnoff, Nestlé, Star+, Piraquê e muitas outras.

Qual é a tua história com o humor? Em que momento você decidiu fazer disso a tua carreira?
Eu venho de uma família que é muito engraçada, então o humor sempre esteve muito presente como forma da gente lidar com tudo, tanto com as coisas boas quanto as ruins. Qualquer conversa, qualquer reunião com a família a gente não consegue ficar mais de 2 minutos sem fazer uma piada. É meio que um vício, um recurso, um mecanismo de defesa. O tempo todo a gente está fazendo piada e talvez eu seja o menos engraçado da família. Eu decidi que ia fazer isso conforme eu fui crescendo, adolescente e tal, quando comecei a me inteirar um pouco com coisas de improviso na escola, nas peças e aí chegou um momento que eu estava fazendo faculdade e surgiu a oportunidade de fazer um curso de Teatro e TV. Eu fiz o teste já com comédia e rolou muito, todo mundo curtiu e eu comecei o curso. Tudo que eu fazia era meio que voltado a comédia e as pessoas abraçaram muito a ideia. O stand up rolou na minha vida assim que eu me formei, em 2016, quando eu fiz um outro curso com o Fábio Rabin e comecei a fazer os shows.

Qual foi o teu primeiro vídeo que viralizou?
Foi uma parte de uma esquete que eu fiz sozinho, no “Quem Chega Lá”, do Domingão do Faustão em 2017. Eu fiz uma participaçãozinha lá com o meu personagem “Michelzinho de Oxóssi”, que é uma pessoa de candomblé, extrovertida e que faz piadas com pessoas do candomblé, falando sobre macumba. Eu fiz essa apresentação no Faustão no domingo e no mesmo dia postaram o vídeo em uma página de umbanda e no dia seguinte o vídeo estava com meio milhão de visualizações. Ai, foi crescendo. Agora, de cara limpa, foi um vídeo que eu fiz falando de racismo reverso, em 2017 para 2018.

Qual foi o momento que você percebeu que estava famoso?
Na verdade, nunca. Eu sei que eu não sou um anônimo, mas eu não me considero um famoso. Eu nunca me pego pensando nisso. Eu não saberia responder. Claro que é muito bacana, todo dia que eu saio, um bom número de gente me para, tira foto, troca ideia, mas eu não me considero famoso não. E não é modéstia, humildade não, é que eu realmente não me considero famoso (risos).

Qual foi o primeiro trabalho publicitário que você fez?
Eu vou falar o primeiro que eu me lembro. Como eu falava muito de Campo Grande, que é de onde eu vim, da Zona Oeste do Rio de Janeiro e, lá perto de onde eu moro tem uma fábrica da Guaracamp e eu lembro que fiz alguma piada com isso e chegou neles. Eles entraram em contato comigo para fazer um vídeo, no final de 2017, que eu os citasse e tal. Se eu não me engano, esse foi o primeiro.

Você é uma pessoa que tem um posicionamento muito claro, tanto nas redes sociais quanto nas piadas que faz. Isso já influenciou o seu relacionamento com as marcas?
O tempo inteiro! Não só com as marcas, mas em comedies e lugares que deixam de me contratar ou que, quando contratam, tentam pedir para eu não fazer piada com o presidente. Aconteceu isso recentemente, até postei um tweet sobre e eu falei para eles chamarem outra pessoa. Eles me conhecem, sabe? Eu poderia não fazer, mas o fato de ter a proibição me incomoda. Até hoje acontece muito e embora a galera pense que as marcas estão abraçando quem se posiciona, progressista etc, não é nada disso. Quem é dono de empresa não pensa dessa forma, muito pelo contrário. Isso acontece o tempo todo com questões raciais, questões políticas e trabalhar com publicidade é sempre muito complicado.

Você é comediante, ator, influenciador... Como você faz para dividir o seu tempo para todas as funções e ainda gravar as publicidades?
Tem que separar, não tem jeito. Nisso, o meu TDAH me prejudica, mas não tem jeito porque fazer show, atuar e fazer publicidade me obriga a separar. Eu acordo, vejo o que precisa gravar de publicidade, separo um tempinho do dia e vou para cima. Claro que as vezes tem um imprevisto, precisa refazer alguma coisa, mas a gente vai adaptando, mas é uma correria por conta das datas e prazos.

Como é a sua forma de fazer as publicidades?
Quando eu tenho liberdade para criar, eu faço piada o tempo todo de uma forma que não pareça que é publicidade. É um vídeo normal, um vídeo meu. Eu fiz um recentemente para a Stanley e eles queriam que eu inserisse no meu stand up. Ai é lindo, né? Ai é onde eu domino. Eu fiz, rolou legal. Quando eu tenho essa liberdade, eu gosto de fazer de uma forma muito espontânea e de uma forma que a galera vê e fala “pô, ele me pegou. Era publicidade e eu nem percebi”.

@oyurimarcal

EU TO COMPLETAMENTE STANLEYZADO! E vou converter todo mundo a virar fã de Stanley Brasil também! *publicidade

♬ som original - Yuri Marçal

O que você leva em consideração na hora de começar uma parceria com alguma marca/empresa?
Eu acho que eu ainda não estou nesse patamar de poder escolher não, eu gosto de dinheiro (risos), mas eu levo muito em consideração duas coisas: a liberdade criativa – que pode ser pouca, mas que eu possa colocar um pouco do meu DNA – e que eu tenha alguma coisa com a marca. Estou falando isso, mas pode ser que no futuro eu faça algo que não tem nada a ver comigo, mas se acontecer, saibam que foi única e exclusivamente pelo dinheiro (risos). Mas hoje, eu levo em consideração essas duas coisas mesmo, a liberdade e que seja algo que eu use ou que alguém do meu meio use, que eu me identifique em algum ponto com o produto, que eu goste.

Você participa da criação da campanha? Roteiro, produção etc.
Participo sim. Eu sempre tento colocar pelo menos um pouquinho de mim ali. As vezes a coisa já vem fechada e você está ali só para reproduzir, mas é difícil acontecer isso. Normalmente as marcas mesmo pedem a minha cara, que meu público se identifique. Eu participo sim.

Tem alguma marca que você gostaria de fazer campanha? Se sim, qual?
Tem algumas, mas eu vou citar a principal: Nike. Eu não vou nem fingir que não e tem muitos motivos. É uma marca que eu uso muito e tem uma coisa meio que de infância, de futebol. Eu uso muito mesmo, todos os meus tênis são deles. O meu terceiro motivo é muito especial, quem me fez apaixonar pela marca foi o meu irmão, que faleceu vai fazer nove anos. Ele andava da cabeça aos pés de Nike, usava todos os conjuntos da marca em todo lugar que ele ia. Ia ser uma homenagem a ele.

De todos os trabalhos publicitários que você já fez, qual mais te marcou?
Tem alguns, mas eu vou citar um que eu nunca parei de fazer. As vezes tem um hiatozinho, mas eu sempre volto e toda semana, literalmente, eu recebo aqui em casa: Budweiser. E isso tem anos, desde 2018/2019. Eu nunca parei de fazer publicidade para eles, a gente tem um vínculo quase vitalício. É muito bacana, sou bem cadelinha deles.