No próximo dia 26 de outubro, o sinal analógico de transmissão de televisão será desligado em Brasília. A capital do país será a primeira metrópole a ter capilaridade 100% digital. Em novembro do ano passado, o processo foi deflagrado na cidade de Rio Verde, no interior de Goiás, escolhida pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para ser o piloto da transição tecnológica, que vai se estender pelos próximos dois anos, mas não é descartada a hipótese de adiamento. Segundo o executivo Luiz Roberto Antonik, diretor-geral da Abert, é uma mudança radical que vem exigindo investimentos de aproximadamente R$ 8 bilhões, das 545 geradoras de conteúdo e das 15 mil retransmissoras. Esse aporte que vem sendo consolidado é atípico devido aos custos de implantação.

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“Quando se coloca uma emissora de sinal aberto com o sistema HD ao lado de uma TV fechada, ou paga, a diferença de imagem é notória; simplesmente sem comparação. Na verdade, as redes estão tendo custos duplicados porque são duas operações simultâneas: analógica e HD, que exigem mais profissionais, mais gastos com energia elétrica e investimentos no processo de digitalização. Claro que isso é temporário, mas está em curso e não dá para ignorar essa cadeia de desembolsos que visa garantir uma imagem inovadora que vai permitir uma entrega de qualidade para o telespectador se entreter e se informar”, disse Antonik, que é diretor da licenciada da paranaense RPC.

A interatividade será outro benefício que a era digital terá como diferencial. “Quem assiste televisão deixará de ser um agente passivo para poder participar de forma ativa em tempo real com as geradoras. Pelo controle remoto poderá acionar o que chamo de segundo plano, que são as informações extras sobre um jogo de futebol, como as escalações, por exemplo, ou de uma telenovela. Ao assistir um comercial, poderá realizar uma compra. Esse novo momento é revolucionário e vai agregar valores para ambos os lados. Na era analógica, o usuário não se importava com os chuviscos; agora não vai mais aceitar esses atritos mesmo porque eles não vão existir”, afirma o dirigente da Abert.

Comunicação
Campanhas publicitárias para informar a mudança do modelo estão em curso. A Abert tem uma ação própria para preparar a população para o desligamento. Uma animação de 30 segundos ensina os usuários a instalar uma nova antena, caso já tenha um monitor HD, ou adquirir um conversor. A EAD (Entidade Administradora da Digitalização), criada pela Vivo, Claro, Tim e Algar, que tem como presidente Antonio Carlos Martelleto, veicula campanha para esclarecer o desligamento. As emissoras de televisão também têm iniciativas nesse sentido.

Uma das mais populares é a que foi desenvolvida pela área de comunicação da Rede Globo: artistas do elenco enfatizam que, se na telinha aparecer a letra “A”, é necessária a compra de um conversor ou a instalação de uma antena HD. A Globo também teve campanha com paródias musicais estreladas por Anitta e Mc Ludmilla, com versões criadas por Sérgio Valente, diretor de comunicação da emissora. Rede TV!, SBT, Band e Record também veiculam ações informativas para alertar os telespectadores sobre o novo sinal.

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A chegada da alta definição, além dos conversores, está colaborando com o fomento dos negócios de fabricantes de TVs como LG, Sony, Philips e Samsung. A Abert calcula que entre 2012 e 2014 foram comercializados 14 milhões de aparelhos por ano. Em 2015, caiu para 10 milhões e neste ano a previsão é que chegue a oito milhões. Segundo Antonik, a durabilidade de uma TV é de 10 anos. “O consumidor quer qualidade e não abre mão disso. É bom lembrar que 45% dos aparelhos instalados no país ainda são analógicos que poderão ser convertidos, o que vai melhorar muito a imagem, mas o usuário quer ter acesso ao novo modelo”, destaca o diretor-geral da Abert.

As TVs abertas têm uma capilaridade confirmada pelo alcance de 97,2% dos domicílios do país que, pelos cálculos do IBGE, somam 67 milhões, com média de quatro pessoas por unidade. A Abert tem 320 associadas, que representam 80% de um negócio que movimenta anualmente R$ 40 bilhões, nos cálculos da instituição, que só aceita emissoras com viés comercial nos seus quadros. As 200 emissoras educativas, como a TV Cultura, e institucionais, como as TVs Câmara, Justiça e Senado, não podem se associar à Abert.

A Rede Record é a única das cinco majors que não faz parte da associação. Ela é representada pela Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), entidade que só tem a Record como afiliada. Além dessas, o mercado tem outras nove redes de alcance parcial em vários estados, mas que também são geradoras de conteúdo próprio.

“As TVs têm uma importância fundamental para os anunciantes, porque falam de maneira uniforme com o Brasil inteiro, sem sotaques. As emissoras têm um cuidado enorme na preparação dos seus apresentadores e locutores para não terem acentos regionais exagerados. As cinco maiores emissoras atingem 100% da população economicamente ativa do país. É o meio que faz parte da cultura dos brasileiros. Novelas, jornalismo e esportes estão entre as suas principais atrações”, enfatizou Antonik. “Além da transição digital, a pauta da Abert inclui a defesa incondicional da liberdade de expressão comercial. Temos uma equipe jurídica atenta aos projetos contrários à publicidade de bebidas, alimentos, refrigerantes e crianças. É um lobby dos partidos de esquerda, que são muito restritivos. Não podemos nos descuidar”, finaliza.