Sergio Gordilho, copresidente e diretor-geral da Africa, é jurado em Cyber: “categoria muito inspiradora”“Acho que o crescimento de Cannes é o fortalecimento do nosso mercado.” Essa é a opinião de Sergio Gordilho, copresidente e diretor-geral da Africa, sobre a expansão contínua do maior festival de criatividade do mundo (muitas vezes criticada por pessoas do mercado), que nesta edição ultrapassou a marca de 40 mil inscrições.  Para o criativo, que será jurado em Cyber nesta edição, isso é bom para a imagem do Brasil, que vai tão bem no festival e “mostra que estamos na direção certa”.  Na mesma linha de raciocínio, ele diz que “Cannes é para nossa indústria o que é o Oscar para a indústria do cinema”. Sobre Cyber, Gordilho aponta que ela é, na sua opinião, “a categoria  com mais inovação e possibilidades no festival”. Confira abaixo os principais trechos da conversa dele com o propmark.

MBA DE CRIATIVIDADE

“Cannes deixou de ser um festival de publicidade para virar um grande MBA de criatividade. Costumo dizer que é a maneira mais rápida e barata para estar atualizado com tudo o que está sendo produzido de melhor no mundo. Em Cannes, você inscreve e participa. Nos outros festivais não existem palestras, debates e convívio com os criativos de outros lugares do mundo como em Cannes. Isso faz a diferença.”

BRASIL

“O Brasil vem de uma safra de grandes ideias que ganharam inúmeros prêmios, que colheram muitos ouros em vários festivais pelo mundo afora, principalmente em Cannes. É o festival no qual a indústria brasileira mais foca pela tradição, porque é lá que se determinam as principais tendências. Cannes é para nossa indústria o que é o Oscar para a indústria do cinema. É onde a gente reavalia nossas percepções e conhece o que está sendo criado e veiculado no mundo todo. O festival ganhou essa importância.”

CYBER

“Acho que Cyber é a nova área de Film para inovação. É onde tudo é possível. É de Cyber que saem as peças que vão para outras categorias. Cyber aceita qualquer coisa, conteúdo, tecnologia, interatividade, mobilidade, traduz o significado do Cloud e a teoria do Data. Os trabalhos são completamente diferentes de outros, com belíssimas ideias executadas de várias maneiras. Cyber, no meu entender, é a categoria de mais inovação e possibilidades no festival, porque é tangível para nós consumidores do ambiente digital e a primeira porta de contato. É muito inspiradora.”

JULGAMENTO

“Eu já fiz o primeiro julgamento preliminar. Eu vi um quarto de todos os trabalhos inscritos. Existem mais três grupos no júri que julgaram os outros três quartos. A gente está falando praticamente de quatro mil inscrições que são bem pulverizadas entre as subcategorias. O julgamento começa na quarta-feira (17) em Cannes. Totalmente preparado a gente nunca está. Minha preparação foi basicamente analisar todo os trabalhos que ganharam Cyber nos últimos dois anos. Venho conversando com muitos ex-jurados do Brasil e de fora, trocando bola com eles. Venho olhando o máximo possível de ideias que estão ganhando em outros festivais para estar mais familiarizado. Qualquer júri termina criando seus próprios critérios. Meu grupo ainda não estabeleceu o seu. Por isso, muito do que escolhi pode ser diferente do que os outros jurados acham. Isso é normal, porque só vi um quarto das peças.”

EXPECTATIVA

“A expectativa do Brasil é sempre imensa. Tem que ser assim mesmo. O país está acostumado a colocar a barra da criatividade lá em cima. Houve êxodo muito grande de brasileiros para agências de fora. Com isso o país perde muitos dos responsáveis pelo êxito do Brasil nos últimos anos. Acredito que os brasileiros vão ter mais Leões do que no ano passado, já o Brasil não sei. Porque tem muitos brasileiros liderando em várias agências importantes internacionais.”

PRIMEIRA VEZ

“É a minha primeira vez como jurado em Cannes. Qualquer festival que a gente participa dá um frio na barriga, porque existe um primeiro momento de entender a dinâmica do grupo. Já tive sorte de ser presidente de júri e jurado em vários festivais nacionais e internacionais. Este ano, fui jurado no D&AD e no ano passado no Clio Awards, por exemplo. Isso me dá uma certa cancha. Estou indo para votar e escolher as melhores ideias, torço e espero que muitas delas sejam de brasileiros. Neste momento o Brasil está precisando elevar a autoestima, estamos precisando de boas notícias.”

FAVORITOS

“Eu acho que ‘Like a girl’ é uma grande favorita este ano em Cannes. Vi muitos trabalhos da Ikea de Londres, como ‘Beds’, que é muito bacana. Outra que também ganhou muitos prêmios no D&AD é ‘K9FM’, da Pedigree na Nova Zelândia. A campanha alemã ‘Nazis against nazis’ (da GGH Lowe/Grabarz & Partner) também ganhou no D&AD e é bem legal. ‘Like a girl’ vem ganhando tudo em outros festivais e vai encerrar sua trajetória em Cannes. São trabalhos favoritos no festival porque já são conhecidos. Mas tem muita coisa nova para ver. Acho que 70% das peças inscritas no festival são novas, desconhecidas. Não dá para ver tudo na internet, não temos tempo hábil para isso. Muito trabalho a gente vê em Cannes pela primeira vez ou, pelo contrário, são campanhas já com uma trajetória em outros festivais e que se consolidam em Cannes. É um momento de ver ideias novas, muito trabalho inédito, que vai começar sua trajetória de sucesso em Cannes. A gente tem o Antes de Cannes e o Depois de Cannes. Cannes determina tudo o que vai ganhar prêmios nos outros festivais daqui para frente.”

Confira “Like a girl”, “Pedigree K9FM” e “Beds”

https://www.youtube.com/watch?v=jEzkNQdCsl8

CRESCIMENTO

“Acho que o crescimento de Cannes é o fortalecimento do nosso mercado. Se Cannes se fortalece e expande e o Brasil vai tão bem no festival, isso é muito bom porque mostra primeiro que a gente está na direção certa, fazendo uma propaganda de qualidade mundial. O segundo ponto é que fortalece a criatividade da indústria. É bom para a imagem do Brasil lá fora, porque afinal vamos bem no maior festival do mundo. Por isso nunca tantos brasileiros estiveram fora do país e é bom para o mercado porque fortalece a imagem das agências e a criatividade perante os anunciantes. O criativo brasileiro tem sido muito requisitado em outros países porque se adapta e é multidisciplinar, faz tudo.”

CELEBRIDADES

“Os debates no festival são extremamente positivos. Cannes é hoje um grande ABC. A indústria da criatividade virou isso. Existem empresas que eram especialistas em cinema e que hoje estão fazendo propaganda, por exemplo. Vivemos nesse mesmo ambiente, respirando o mesmo ar. Nada mais natural do que ter celebridades da área criativa e outras indústrias que se apresentam no festival. A Kim Kardashian, por exemplo, entende de PR, conteúdo, mobile, é uma criativa, e a gente tem muito o que aprender com ela. E se ela for esperta, também pode aprender com a gente. A troca de informação é muito legal.”

AFRICA

“A Africa vem aprendendo sobre  os festivais. É uma agência que durante dez anos não participou de festivais e está voltando aos poucos. Principalmente o Festival de Cannes é um lugar muito bom para a gente discutir nossas ideias e inspirar os criativos e a agência toda no Brasil a olhar de uma maneira diferente. É uma hora de provocar os criativos, todos os profissionais de mídia, de todas áreas da agência, a fazerem algo diferente, algo a mais. Inscrevemos basicamente o mesmo número do ano passado.”