Quando a música parar de tocar, quem fica sem cadeira, em pé, está fora. Todos na cadeia dos negócios da saúde em plena dança das cadeiras. Poucas cadeiras para muitos players. No território dos hospitais, na cidade de São Paulo, a dança é um frevo rasgado e acelerado. Hospital Albert Einstein. Agora, sob nova direção. Sidney Klajner é o novo presidente. Investimentos de R$ 2,4 bilhões nos próximos cinco anos. Uma Nova Unidade de Faculdade de Medicina, ampliação do Prédio Hospitalar, um Novo Edifício Garagem. E aí vêm perguntas, como: continuará o ensino da medicina relevante quando a nova unidade estiver pronta e funcionando? Existirão pacientes para a expansão do atual prédio hospitalar na nova maneira de se organizar o negócio da saúde em nosso país? E para que mais garagens num mundo em que se reconsidera ter carro?
Hospital Oswaldo Cruz. Convencido e convencendo seus fornecedores e operadoras de planos que o caminho que a saúde vem trilhando nas últimas cinco décadas já desembocou na UTI e levará inexoravelmente à falência de todos e à falta de socorro às pessoas. Arregaçou as mangas, deixou bisturi, pinças e ataduras à parte, e mergulhou de cabeça em busca de uma solução. Bingo! Acaba de nascer o Hospital de Preço Fixo. Garantindo aos internados e seus familiares que no dia da alta não correm mais o risco de retornarem à UTI pelo susto da conta. Uma tentativa semelhante vinha sendo realizada desde 2014, pela Associação Nacional dos Hospitais Privados, em um projeto piloto envolvendo 18 hospitais, em que se cobrava um valor fixo para uma série de procedimentos. Essa experiência não prosperou porque, não querendo condicionar os médicos, aceitava suas decisões quanto a materiais, medicamentos e fornecedores, e assim, e no final, a conta não fechava.
O Oswaldo Cruz relacionou, levando em consideração a recorrência estatística dos mesmos, 89 procedimentos. Em cardiologia, urologia, neurologia, oncologia e ortopedia, entre outros. Para cada um desses procedimentos criou um protocolo. E recorreu a sua equipe médica de mais de 100 médicos para definir fornecedores. Com isso, conseguiu chegar ao preço fixo. Mas, doenças são vivas e variam… É verdade. De novo, um cálculo atuarial que orienta esses preços. Mas, mesmo assim, imprevistos podem acontecer. E quando acontecerem esse risco é compartilhado entre o hospital, os planos de saúde e os fornecedores. Numa espécie de autosseguro.
Sírio-Libanês. Cansou de brigar com os planos de saúde. E criou um Programa de Gestão de Saúde que precede o acionamento do plano. Primeiro “aplicou-se” essa vacina. Testou com seus funcionários e familiares. Um universo de 12 mil pessoas. Resgatando a figura do Médico de Família. Antes de fazer o que quer que seja, os seus colaboradores visitam esse médico. E, em 80% das situações – quatro em cinco –, o atendimento termina aí. Tudo é resolvido sem a necessidade de nenhuma providência adicional e nem a utilização do plano de saúde.
Com esse procedimento o Sírio viu seus custos reduzidos em 27%. O número de idas ao pronto-socorro caiu pela metade, os exames reduziram-se em 40% e as internações, em 15%. A partir de agora, diante do sucesso de sua experiência, passa a oferecer esse mesmo serviço para empresas. Criou uma espécie de Serviço Filtra. Que filtra, que resolve e só encaminha para frente – para os planos de saúde – quando verdadeiramente é necessário. Enquanto Einstein, Oswaldo Cruz e Sírio se mexem, a Beneficência Portuguesa lança suas Clínicas Especializadas. E por aí vai… Já, já vão sobrar leitos nos hospitais, cadeiras nas recepções dos prontos atendimentos, queda no número de exames e muito mais. De novo, um caso clássico de quando a realidade atropela e impõe uma solução.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)
