Paula Trabulsi, sócia do coletivo Asas da Imaginação e uma das mais reconhecidas e premiadas diretoras de cena

“Dirigir um set é quase como dirigir uma tropa de exército – exige disciplina, estratégia, pontualidade, decisão.” A frase é de Paula Trabulsi, sócia do coletivo Asas da Imaginação e uma das mais reconhecidas e premiadas diretoras de cena do mercado.

Ou melhor, abriram uma fresta na porta. Pois a direção de cena, ao contrário de outras funções, ainda pertence a um universo predominantemente masculino – o que justifica a declaração da profissional.

Made Picchi, da Dinamo Filmes, vai além, e acha que existe preconceito e machismo no mercado. “E não só aqui. Em todo o mercado cinematográfico e audiovisual, inclusive no americano, isso também é uma discussão. Já li sobre casos em que mulheres executando as mesmas funções que homens diretores ou roteiristas ganhavam muito menos”, ressalta.

Já Vera Egito, da Paranoid, acha que isso “é uma questão de tempo”. “Há muitas mulheres liderando o marketing de empresas. Essa mudança também vai ocorrer na criação das agências e nas produtoras”, diz, citando outra área (das agências) onde existem bem mais homens atuando.

Sócia e diretora de cena da Cine, Cris Vida também vê uma mudança lenta, mas gradativa, neste panorama. “Sem dúvida ainda existe um grande desequilíbrio, mas isto se deve, ao meu ver, a uma cultura que nós herdamos, que valorizou durante muito tempo o trabalho masculino, negando o valor feminino”, afirma. “Mas posso dizer que me sinto cada vez mais confortável nesta posição dentro do nosso mercado”, completa.

Cris, inclusive, diz já ter sofrido preconceito em sua carreira, com um anunciante que não quis rodar um comercial realizado por ela, justamente por ser mulher. “E foram algumas vezes. Mas, ao dividir este assunto com profissionais de criação de agências, me surpreendi com a reação de espanto e incredulidade. O que foi um certo alívio para mim”, explica.

Olhar feminino

Se o famoso “olhar feminino” não seria um diferencial para as mulheres em relação aos homens, há também visões diferentes. Paula afirma que até é um diferencial, mas não uma regra. “Chico Buarque tem um olhar feminino como poucos”, afirma.

Paula também não concorda que produtos mais ligados a universos masculinos, como carros e bancos, por exemplo, e femininos, como aqueles da área de beleza, sejam mais adequados para diretores homens e mulheres, respectivamente. “É um clichê do mercado. É como dizer que mulheres cozinham melhor do que homens. Como diretora internacional, desenvolvi elasticidade para filmar em diferentes formatos, assimilar culturas diversas e com misturas de equipe de vários países”, diz.

“Homens como Ingmar Bergman, Pedro Almodóvar ou David Lynch, para citar alguns, têm sido capazes de filmar a alma e os encantos femininos melhor do que muitas mulheres”, diz a argentina Lucia Puenzo, diretora da brasileira Zohar Cinema. “Talvez os resultados de um olhar feminino em produtos masculinos e vice-versa podem gerar frutos surpreendentes”, completa.

“Eu acho que tem, sim, o toque feminino em alguns casos específicos, que são muito peculiares às mulheres. Por exemplo, comerciais que abordam temas como maternidade, algumas sutilezas do universo beauty, ou mesmo temas relacionados ao lifestyle”, conclui Made, em contradição.