Está com dificuldade para pegar no sono. Carneirinhos… Esqueça! Recomendo holocracia e metrópoles verticais. Vez por outra manifestações de excentricidades e despropósitos. E a imprensa, por sobra de espaço ou falta de juízo, acaba embarcando e engrossando o festival de estultices. O caminho pela frente está definido, claro, quase pavimentado. É horizontal, compartilhado, colaborativo. Num Admirável Mundo Novo – de verdade e não o The Brave New World, de Huxley – plano e líquido, de custo marginal zero ou próximo de.

Tony Hsieh construiu um sonho. A Zappos. Colaboradores e clientes apaixonados. O primeiro comércio eletrônico que provou ser possível trabalhar com o aditivo de serviços de qualidade, transcendendo amor entre o time interno e na relação com os clientes, e em que o resultado final traduzia-se em lucro e felicidade. E aí Tony e a Zappos foram comprados pela Amazon.

Choque natural de cultura e Tony decide seguir as tolices de Brian Robertson, apologista da holocracia – estruturar as empresas a partir das funções e não das pessoas. Em vez da pirâmide, estrutura vertical, “fazer a empresa funcionar em círculos semi-independentes englobando uns aos outros”. Preciso continuar? Começou a bocejar?

E aí o festival prospera, ainda que e supostamente holística, “um círculo mais baixo está sempre ligado a um círculo superior… círculos voltados para a implementação de projetos específicos, outros de administração… cada um deles é livre para criar as próprias políticas e decisões, mas deve fazer o possível para cumprir as metas propostas pelo círculo superior…”. Socorro!

Ninguém mais quer falar em holocracia na Zappos, dois anos depois…

Corta para o economista americano Edward Glaeser. Defensor intransigente e radical do vertical num mundo cada vez mais horizontal. Cidades verticais! Diz e defende: “Para progredir, uma cidade não pode ter restrições excessivas. Limitar alturas e construções tem um custo alto. Construir para cima é uma maneira eficaz de driblar a falta de espaço. As pessoas ficam mais próximas uma das outras, mais conectadas umas às outras: prédios mais altos e com mais capacidade são a melhor coisa para o meio ambiente”! Pela segunda vez, e agora urrando, socorro!

Poucas vezes em minha vida vi cegueira tão radical e ignorância absoluta. Glaeser permanece com a velha e corrompida moldura em sua cabeça, e é um dos melhores exemplos de quem olha para o futuro através do retrovisor. Não de qualquer retrovisor. De um retrovisor sujo, trincado e solto.

Em entrevista à Época, anos atrás, Glaeser escancarou sua insensibilidade e deficiência visual irreversível. “Nos anos 1980, muitos especialistas previam que as pessoas se retirariam das cidades para morar nos subúrbios e as cidades seriam apenas depositórios de escritórios. A tecnologia permitiu às pessoas estar conectadas online, mas elas também querem se encontrar fisicamente…”, e dá como exemplo o Vale do Silício: “Aquela região da Califórnia cresceu drasticamente não apenas porque empresas de tecnologia se concentram lá, mas porque os jovens que trabalham nessas empresas quiseram estar juntos, também, na mesma cidade…”. Mais conhecida pelos que por lá “viveram” e optaram pela felicidade como a ilha da fantasia…

Mais que nunca as pessoas querem preservar e cultivar sua individualidade. Adoram encontrar outras pessoas na hora, lugar e dosagens certas. Reconhecem-se mais próximas do que nunca através da tecnologia. Na medida em que não mais querem ter, apenas dispor, reduziram radicalmente a necessidade de espaços para objetos e coisas que jamais voltarão a ter. E sentem-se seguras morando e vivendo em comunidades horizontais, no mínimo baixas, e convivendo com seus queridos vizinhos. Parafraseando Tom Jobim, em Wave, é impossível – absolutamente impossível – ser feliz nas torres…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)