Markakis: não acredito que o Brasil tenha espaço para um grande player como a Tesco

 

Duas questões impactam o comércio nacional no momento: o futuro próximo da economia, após o “boom” de novos consumidores provenientes da classe C e as recentes crises na Europa e Estados Unidos; e as mudanças relacionadas ao mercado digital. O cenário pode ser otimista ou pessimista, dependendo de quem o analisa e das iniciativas adotadas pelas empresas do setor nos últimos anos. Ambas as possibilidades foram discutidas no primeiro dia do 16º Fórum de Varejo da América Latina, promovido pela consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza, nesta terça-feira (27), na capital paulista.

“Vestuário e calçados concentram os melhores resultados no Brasil”, afirmou Daniela Bretthauer, conselheira da GS&MD. De acordo com a executiva, a categoria teve crescimento na área de vendas no país superior ao identificado no mercado norte-americano e europeu. Positiva também foi a geração de caixa no setor de alimentos, três vezes superior à dos Estados Unidos. Os menores números foram detectados no e-commerce, em pesquisas encomendadas por diversas empresas. “Nessa área, toda a América Latina está atrás das grandes economias estrangeiras. Mesmo representantes como a Amazon deram prejuízo nos últimos anos”, disse.

Apesar do cenário descrito, o comércio eletrônico no Brasil teve crescimento de 24% no primeiro semestre em relação ao mesmo período em 2012, como apontado em pesquisa realizada pela E-bit junto a mais de nove mil lojas virtuais (leia mais aqui). E a atividade digital já há algum tempo resulta em novas perspectivas para cadeias como Casas Bahia e Ponto Frio, ambas da Via Varejo, controlada pelo Grupo Pão de Açúcar.

“Multiformato e multicanalidade fazem parte da atual realidade do varejo mundial. Não adianta pensar que a loja física passará imune pelo comércio eletrônico. Empresas que saíram na frente e se prepararam para esse contexto, hoje colhem os frutos de sua estratégia e planejamento. Vale também lembrar que, no futuro recente, há espaço para a convivência entre os dois modelos”, declarou Jorge Herzog, vice-presidente de operações da Via Varejo. O executivo salientou que o momento difícil na economia nacional não deve gerar grande impacto direto no varejo. “Visualizo um mercado ainda bastante positivo”, afirmou.

Copresidente da Dicico, Dimitrios Markakis reforçou o diagnóstico, mas chamou atenção para a vantagem de empresas já consolidadas no país. “Não acredito que o Brasil tenha espaço para um grande player como a Tesco (multinacional varejista britânica), por exemplo. As mudanças seguem rapidamente e se sai melhor quem já conhece o mercado local”. Ele ainda revelou os planos após a associação da empresa com a Sodimac, controlada pelo grupo chileno Falabella, anunciada em maio deste ano. “A proposta é crescer rápido, por isso a questão do multiformato é bastante importante. No projeto, uma loja habitual de 3 mil m² tem a mesma importância de uma de 12 mil m² (área de uma das filiais que a empresa pretende inaugurar)”.

No geral, os executivos participantes do fórum seguem otimistas, apesar de cientes de que o novo avanço econômico brasileiro não deve ser caracterizado pela homogeneidade. Oscilações no câmbio, taxa de inflação ainda instável, investimentos privados mais cuidadosos e o início da recuperação europeia têm seus efeitos no país.

Pesquisas, como do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), já demonstraram que a tendência de consumo e a confiança dos consumidores diminuíram nos últimos meses. Por conta desses fatores, produtos diferenciados, apostas em novos mercados, como as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e valorização do ativo humano são cada vez mais planejados. “O que temos é um cenário diferente, mas ainda cheio de possibilidades”, finalizou Alberto Serrentino, sócio sênior da GS&MD.

O 16º Fórum de Varejo da América Latina segue até esta quarta-feira (28), na Fecomercio.