Houve uma época em que viajei muito para outros países, representando o Brasil, às vezes pela empresa em que trabalhava, outras pelas associações das quais fui diretor. Antes do Brasil ser qualificado como um dos BRICS, a coisa era mais difícil.

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Era comum surpreendermos estrangeiros com a nossa aparência, fora do padrão imaginado pelos desavisados. Não esperavam um cara branco, de olhos claros. No imaginário da maioria, seríamos negros como Pelé ou Ronaldo, ou de traços indígenas, como amazônicos.

Não sabiam a língua que falamos e não tinham ideia do nosso tamanho, com megalópoles que rivalizam com as maiores cidades do mundo. O tempo passou e continuei minhas viagens. Aí começou uma mudança de percepção.

O Brasil era apontado como uma potência emergente e muitos já conheciam uma realidade diferente. Já sabiam do tamanho de São Paulo e do enorme potencial de um país com 200 milhões de habitantes e toda uma carência em termos de infraestrutura.

Bastava chegarmos às rodinhas de estrangeiros para sermos recebidos com muitos sorrisos e salamaleques interesseiros.

Éramos a bola da vez, um mundo de oportunidades de novos negócios… Passa o tempo um pouco mais (tudo isso em mais ou menos cinco anos) e já passamos a ser olhados de soslaio, com certa desconfiança.

Sim, o país representava um grande potencial para negócios, mas já sabiam das amarras da burocracia, dos altos impostos, dos custos trabalhistas.

Não estou me referindo aos tempos atuais, mais dramáticos ainda para nossa imagem, falo de uns três anos atrás. Pois bem, toda essa introdução para uma constatação: como é difícil entender nosso país.

A imagem estereotipada é daquele tipo risonho, musical, do futebol, do samba, das mulatas, das cobras e jacarés da Amazônia. De uns tempo para cá, aparece a figura do novo rico, do boom das grandes cidades, do problema da violência e da corrupção.

E agora? Bem, agora… tristeza total… As manchetes dos jornais e revistas estrangeiros só estampam desgraça sobre nosso país. Mas vamos nos esquecer por um minuto das mazelas da imensa crise política e, por consequência, econômica do nosso país.

Que país é este? (como diria a música) Que país é o Brasil? Escrevo este artigo em Cuiabá, onde estou para mais uma etapa do road-show que a Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) realiza por diversos estados brasileiros. Até meados de maio, terei percorrido 13 estados, fazendo apresentações e interagindo com publicitários desses locais.

Estive em todas as regiões brasileiras, sempre com um tema comum: a propaganda. Que riqueza é ver, in loco, as diferenças desse país continental. Todos sofrendo dores de uma transição de modelo de agências de propaganda, mas cada região com as suas peculiaridades.

A convivência de meios rudimentares – mas nem por isso menos eficientes – de comunicação, como carros com sistema de som, de um lado, e sofisticados sistemas digitais, de outro. Como explicar para um estrangeiro as diferenças de uma Bahia, quando comparada a São Paulo; ou o Pará, com o Rio Grande do Sul. Ou, mesmo dentro do mesmo estado, as diferenças, por exemplo, do Grande ABCD, de São Paulo, e a região canavieira de Ribeirão Preto, ambas regiões importantíssimas do estado de São Paulo.

Regiões que, por si só, exibem um PIB maior que muitos países da nossa região. Um país que tem mais japoneses do que muita cidade do Japão. Que tem uma bela miscigenação, uma mistura de raças e culturas que nos tornam algo tão multifacetado que engana qualquer turista desavisado.

A Ipsos tem acompanhado a Fenapro em algumas apresentações desse road-show, apresentando um perfil de moradores de diferentes regiões do Brasil. Um estudo rico, que nos ajuda a perceber tantas diferenças. Tantas diferenças e tanto potencial! Tudo o que esperamos é que este Brasilzão entre nos trilhos outra vez e volte a nos encher de esperança!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências  de Propaganda)