Alê Oliveira

O fim de ano está chegando e, junto com a última arrancada para tentar salvar este ano difícil, vem a tarefa ainda mais complicada, que é o planejamento para o próximo ano. Duvido que os líderes de empresas, sejam elas de qualquer setor, estejam minimamente confortáveis para estabelecer metas para 2016.

Salvo raras exceções, as empresas estão assustadas com o longo período com a qual o Brasil está lidando com uma crise. Os mais experientes já passaram por crises importantes e o empresário brasileiro é conhecido pela sua resiliência. Mas a falta de perspectiva de uma solução geral para o país, em prazo razoável, deixa todo mundo com um pé atrás na hora de estabelecer planos para 2016.

A inflação será domada e voltará a patamares aceitáveis? Estancaremos a queda do PIB? Teremos um ambiente político mais estável? Deixaremos de ter manchetes de escândalos e corrupção todos os dias nos jornais? Quando retomaremos algum crescimento? Estas são questões cruciais para se analisar o macroambiente ao qual estaremos imersos em 2016. Nem os mais experientes economistas se arriscam a apostar em índices com uma mínima segurança.

Nenhum analista político consegue prever o que pode acontecer nas altas esferas do nosso governo no curto prazo de um ano. Nunca estivemos em meio a uma nebulosidade mais densa do que a que estamos enfrentando agora.

Depois de 2014, um ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais, que gerou grandes expectativas, 2015 era para ser um ano típico, sem eventos externos capazes de impactar atipicamente a economia. Mas não foi o que se viu. Tivemos uma turbulência – e continuamos nela – talvez sem precedência na história atual do Brasil.

Pois bem, em 2016 voltaremos a viver um ano atípico no Brasil. Sediaremos as Olimpíadas, o mais importante evento esportivo do mundo, e, de quebra, teremos eleições municipais. Como isso pode influenciar nossos planos? Não há dúvida de que o Rio terá um impacto importante na sua economia com a movimentação olímpica. Afinal, só de atletas, teremos perto de 15 mil, vindos de mais de 200 países.

Serão 7,5 milhões de ingressos colocados à venda. Mais de 45 mil voluntários estarão envolvidos na organização dos jogos; terceirizados, serão 85 mil e funcionários diretos, 8 mil. A cidade do Rio está em obras, não só aquelas diretamente relacionadas às competições, mas também as de infraestrutura, do sistema viário e as de empreendimentos, que pegam carona no megaevento.

Basta ver o projeto Porto Maravilha, por exemplo, que recupera uma região degradada e cria um novo polo de desenvolvimento na Cidade Maravilhosa. Se a Copa deixou um gosto amargo no que diz respeito ao legado, o mesmo não pode se dizer das Olimpíadas. Mas será que toda essa movimentação extrapola para outras regiões brasileiras e gera, diretamente, algum impacto positivo na economia brasileira?

Difícil prever. Olhando mais especificamente para o nosso meio, de comunicação e marketing, o quadro não é menos nebuloso. Independentemente de crise, a propaganda brasileira passa por transformações importantes, exigindo das agências revisões estruturais, de portfólio de serviços, de formas de remuneração e de modelo de atuação, enfim.

Na verdade, todos os players do setor estão impactados pelas constantes inovações nos meios de comunicação, ativação e engajamento. Quanto o meio digital representará no todo da comunicação? Como os veículos ditos tradicionais continuarão lidando com a avalanche digital, que não para de avançar e ganhar terreno nos mais diferentes campos?

Perante esse quadro, é de se esperar muita angústia de todos os gestores nessa hora de se fechar budgets e plano de ações para 2016. Se formos tomados pelos receios de uma recessão ainda maior do que a de 2015 no próximo ano, e formos por demais conservadores, corremos o risco de ser pegos de calças curtas no momento de uma retomada.

Se, por outro lado, acreditarmos demais na nossa capacidade de superar os desafios, mesmo em campos adversos da macroeconomia e da política, podemos, igualmente, ser surpreendidos por uma onda contrária ao nosso otimismo. Sem dúvida, teremos muita gente perdendo o sono nesses dias que antecedem a virada de ano.

Alexis Thuller Pagliarini é  superintendente da Fenapro e VP da Ampro