iStock/Zinkevych

O cenário de assédio no mercado de comunicação não é nada otimista: 90% das mulheres e 76% dos homens afirmam já ter sofrido assédio moral ou sexual no trabalho. Os dados são resultados de um estudo realizado pelo Grupo de Planejamento em parceria com o Instituto Qualibest, que tem o objetivo de mapear os abusos sofridos pelos profissionais de agências de publicidade, produtoras e veículos. A percepção de que o assédio ocorre na categoria é generalizada, de quase 100%. 

O assédio moral, por exemplo, atinge tanto as mulheres quanto os homens de forma equivalente. Isso ocorre frequentemente no ambiente de trabalho de acordo com 89% das mulheres e 85% dos homens. O sexual, por sua vez, é apontado por 67% das mulheres e 52% dos homens como existente no ambiente profissional. 

Ao todo, 1.400 pessoas responderam ao questionário, que foi enviado para todas as agências de publicidade, além de produtoras e veículos. Uma pergunta aberta deu a oportunidade para que os participantes compartilhassem histórias de assédio. Como resultado, 35% apontaram marcação de tarefas com prazos impossíveis, provocando extensão do horário de trabalho. Isso também ressaltou o reforço da cultura da hostilidade, em que presidentes e sócios são apontados como assediadores por 22% dos estagiários e assistentes. Além disso, essa cultura é reforçada nas relações com os clientes, que pressionam os contratados em busca de resultados. 47% e 42% dos homens disseram já ter sido assediados moralmente por clientes de nível hierárquico superior e por clientes de nível equivalente, respectivamente. Esse mesmo cenário se aplica para as mulheres em relação ao assédio sexual, em que 16% sofreram com o nível hierárquico superior e 9% com nível equivalente. 

Assédio sexual 

As mulheres são as mais atingidas pelo assédio sexual. Uma em cada duas afirma já terem sofrido no ambiente profissional. A porcentagem é de 39% que sofreram com contato físico, saltando para 64% entre as profissionais de criação. Entre os 9% de homens que revelaram já terem passado por abuso sexual, 72% afirmam que isso ocorreu em decorrência da atitude de outro homem. 

Essa situação vivida no ambiente de trabalho tem resultado em problemas de saúde dos profissionais. O assédio moral gerou sintomas em 62% das mulheres e 51% dos homens. Entre as mulheres, eles são: crises de choro (75%), síndrome de ansiedade (72%), sentimento de inutilidade (68%), abuso de bebida alcoólica (32%) e diminuição da libido (30%). Entre os que responderam, 10% afirmaram ter tido pensamentos suicidas. 

Para ilustrar alguns dos depoimentos compartilhados no estudo, a Dogs Can Fly reproduziu alguns relatos. Confira: 

Repercussão

A Abap (Associação Brasileira das Agências de Propaganda) se manifestou sobre o estudo, dizendo que, infelizmente, o assédio moral e sexual, um dos grandes males da sociedade, está claramente presente na comunicação. 

“Nós, da Abap, repudiamos e condenamos toda e qualquer prática desrespeitosa em relação à gênero, raça, cor e credo. Mas isso seria o óbvio. Não podemos ficar por aí. O nosso mercado como um todo não pode ficar alheio à esse grave problema e não pode tolerar uma situação tão absurda. A Abap vai apoiar e participar ativamente de discussões entre todas as entidades do mercado para encontrar formas inteligentes e eficientes de enfrentar o problema. Temos certeza de que todas as entidades da área de comunicação irão participar e contribuir para essa discussão”, diz o comunicado. 

O Grupo de Planejamento afirma que ações práticas serão essenciais para que o problema seja tratado no mercado. A reportagem completa estará disponível na edição impressa do PROPMARK da próxima segunda-feira (20). 

Atualizado às 10h51