Investimentos, financiamento de papel imprensa e reestruturação de dívidas, são os três itens eleitos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para criar uma linha de crédito às empresas de mídia brasileiras, que, segundo apuração da consultoria MS&CR2, da empresária Maria Sílvia Bastos Marques, acumula dívidas de R$ 10 bilhões. Porém, o crédito para quitação de dívidas terá juro maior, como enfatizou ontem (24), em Brasília, o vice-presidente do banco, Darc Costa. O budget proposto pelo banco de fomento estatal é de R$ 4 bilhões, R$ 2 bilhões menor do que o solicitado no projeto encaminhado pela Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas). Apenas as Organizações Globo têm dívidas de aproximadamente R$ 6 bilhões, a maior parte devido ao retorno negativo dos investimentos em negócios de televisão a cabo e internet, por exemplo. A TV Globo, sua maior fiadora, é empresa lucrativa, como enfatiza o diretor-geral interino Octavio Florisbal. Fontes extra-oficiais calculam que o lucro da emissora em 2003 foi de R$ 600 milhões. O banco ainda está analisando o conteúdo do documento elaborado pela MS&CR2, mas só vai tomar decisão após conclusão da Comissão de Educação do Senado. Quando aprovado, porém, o crédito não será repassado pelo BNDES, mas por agentes financeiros credenciados. A Comissão de Educação do Senado promoveu debate ontem e ficou clara a divisão das redes abertas de televisão. A Globo e Bandeirantes apóiam o teor da solicitação encaminhada pelas entidades corporativas do setor de mídia ao BNDES. As redes Record, SBT e Rede TV! não concordam com destinação de recursos para financiar dívidas.  O executivo Denis Munhoz, presidente da Record, que deixou a Abert para criar a Abratel (Associação Brasileira de Radiofusão e Telecomunicações) ao lado da Rede TV! e do SBT, é contra. Na sua avaliação, o BNDES vai privilegiar às Organizações Globo. “Uma empresa com lucro de R$ 600 milhões não precisa de ajuda financeira. A credibilidade do setor fica comprometida se utilizar dinheiro público para pagar dívidas. É uma espécie de prêmio à incompetência e a má gestão. Uma linha bem-vinda é a que pode financiar investimentos em novas tecnologias. Estamos vivendo a era digital nas TVs. Essa transição vai exigir mais de US$ 10 bilhões de investimentos. O foco deve ser nessa direção, justificou Munhoz, que já enfatizara o descontentamento da Recod há três semanas ao presidente do BNDES, Carlos Lessa. Luiz Sandoval, do SBT, e Marcelo Carvalho, da Rede TV! têm a mesma opinião de Munhoz. O BNDES, como explicou Darc Costa, só vai liberar crédito após rigorosa análise das garantias do solicitante. O advogado Evandro Guimarães, vice-presidente de relações institucionais da Rede Globo de Televisão, presente à reunião promovida pela Comissão de Educação do Senado, disse que a Globo tem recursos próprios para quitar seu endividamento e que o crédito a ser solicitado não será para esse fim. Paulo Machado de Carvalho, presidente da Abert, concedeu entrevista exclusiva ao Propaganda & Marketing.

– O que as entidades que representam as empresas de mídia solicitaram ao BNDES?

Uma linha de crédito para rádios, TVs, jornais e revistas. O banco, no entanto, só vai liberar recursos para quem comprovar que pode ter crédito. Uma coisa é pedir, outra é conceder.

– As empresas de mídia estão endividadas?

Sim. Cerca de R$ 10 bilhões.

– A queda dos investimentos dos anunciantes em publicidade tem que peso no mix dessas dívidas?

– Sim. Os investimentos encolheram nos últimos três anos. O documento que encaminhamos ao BNDES detalha as fontes de endividamento. A queda da publicidade é uma delas. A recessão econômica e investimentos realizados com retorno negativo também impactaram a mídia. 

– A solicitação de crédito cobre a ausência dos sócios estrangeiros permitida após a aprovação da lei dos 30% de participação na composição acionária das empresas de mídia?

O capital estrangeiro não veio porque o mundo vive uma grave crise econômica. Ninguém está investindo. Os 30% foram uma alternativa, mas até agora não tivemos um único investidor a fechar negócio no Brasil. Isso não quer dizer que os estrangeiros tenham desistido. É uma opção. O crédito do BNDES não é uma alternativa a essa ausência, mas é necessário. A Abert é uma entidade de defesa institucional. Por esta razão, trabalhamos para viabilizar os projetos do setor.

 

Paulo Macedo