istock/PeopleImages

Há pouco mais de um ano, a Artplan lançou o Seleção às Cegas, programa de contratação em que suprime do currículo informações como nome, gênero, local de formação, idade e outras características pessoais dos candidatos. Para essa primeira triagem, a agência conta com a colaboração da plataforma Empregare que monta, de acordo com as necessidades da agência, um banco de talentos levando em consideração somente as experiências dos profissionais. 

“O mercado publicitário é regido por indicação e quando você trabalha assim tende a ficar sempre com mais dos mesmos”, aponta Sandra Poltronieri, diretora de gestão de pessoas da Artplan. A agência já contratou 45 pessoas, de estagiários a gerentes, neste primeiro ano do programa.

“Já havia passado pela seleção de grandes empresas e ninguém adotava este formato. Isso fez com que eu tivesse uma percepção ainda mais positiva da agência como uma empresa inovadora e inclusiva”, relata Rachel Rimoli, gerente de BI da Artplan, que entrou por meio do “Seleção”.

Na Lew’LaraTBWA, em nove meses, o processo às cegas admitiu 15 pessoas para diferentes áreas. “A diversidade é uma aliada importantíssima para quem quer estar presente e relevante no cenário econômico e cultural”, defende Wilson Negrini, COO da agência.

Divulgação

Outra que embarcou nessa foi a BETC/Havas, que está com seleção aberta até novembro para novas contratações. “Fizemos este processo no fim de 2018 para vagas de estágio na criação e eles estão conosco até agora”, diz Andrea Siqueira, diretora-executiva de criação da agência.

Na David o processo de contratação às cegas também é uma realidade. Quando recebe o perfil do candidato à vaga o gestor não sabe gênero, idade, nome, faculdade cursada e região da cidade onde mora.  

De acordo com Edna Bedani, diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos da Seccional São Paulo (ABRH) essa é uma tendência mundial. “Já ocorre em várias empresas da Europa e dos Estados Unidos. No Brasil é um cenário ainda muito novo, que vem conquistando espaço nas empresas com modelos modernos de gestão e estratégias focadas na diversidade e inclusão”, aponta.

Segundo Edna, desde 2016 o Nubank utiliza essa prática. Em 2017, foi a vez de a GE adotar o modelo no Brasil. Em 2018, Votorantim Cimentos passou a contratar às cegas ao lado da Cargill e Google, entre outras.

Apesar do apelo da diversidade, o processo não é unanimidade no mercado. A Publicis Brasil não tem projeto na área e, para Renata Garrido, diretora de RH da agência, processos seletivos precisam estar centrados nos candidatos e nas deficiências das empresas. “Se eu fizesse uma seleção às cegas não conseguiria focar exatamente onde eu preciso trabalhar. Se é uma área em que preciso trazer mais mulheres, como na criação, às cegas, com certeza, teria mais currículos de homens. Eu preciso fazer uma seleção direcionada para ter um equilíbrio no time.”

De acordo com Sandra Poltronieri, mesmo tendo trazido mais mulheres e LGBT+ para os três escritórios da Artplan, a contratação de negros ainda é um desafio. A agência busca junto ao seu comitê de diversidade alternativas para incluir estes profissionais.

“Queremos ampliar alguns segmentos que ainda não conquistamos, definir metas para poder a cada dois anos olhar para isso e, efetivamente, ver como a gente mexeu na demografia da agência, além de trabalhar capacitação, porque não basta só trazê-los, é preciso incluí-los para reter estes profissionais”, finaliza.